A sensualidade de Milo Manara

manara

Já deu para perceber que tenho uma relação de longa data com livros de BD. Começou há muitos anos atrás com os típicos livros do Tio Patinhas, mas com o tempo foi evoluindo para muitas outras coisas que foram cruzando o meu caminho.

No início dos meus 20’s cruzei-me com este senhor e fiquei rendida. Mais uma vez mistura dois mundos que eu gosto, a BD e o erotismo. Claro que é um erotismo idealizado, e duma perspectiva muito masculina, mas é também extremamente belo e na maioria das vezes muito cómico. A BD europeia tem sempre um carácter muito distinto da americana, uma elegância própria, e esta não é excepção. As mulheres de Manara são lindissimas e sensuais.

E como há coisas boas que andam aos pares, Milo Manara foi o ilustrador dum capítulo dum livro do Sandman do Neil Gaiman. Em Endless Nights fala-se de cada um dos Endless, e este autor foi o responsável por ilustrar o capítulo que descreve o Desejo. Óbvio, não?

Recomendo para todos aqueles que gostam de traços bonitos e histórias engraçadas, e claro, que não se deixam chocar facilmente.

Desire_Sandman

Segredo

Maria Teresa Horta

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

Maria Teresa Horta in Minha Senhora de Mim 

Tantos livros, tanta falta de vontade

Livros

Os escritores descrevem o chamado writer’s block como aquela altura em que ficam encalhados numa história sem saber que volta lhe dar a seguir. Há inúmeras técnicas desenvolvidas para combater isto, cheguei a aprender algumas engraçadas nas aulas de Escrita Criativa.

Neste momento estou com o menos conhecido, mas não menos assustador Reader’s Block. Acabei recentemente o Equador, o 33º livro deste ano, e por mais voltas que dê não consigo ler mais nada.

Quer dizer, já comecei pelo menos 3 livros desde que terminei o último. Tentei a saga Wheel of Time do Robert Jordan, porque me está a apetecer um livro de fantasia, mas as críticas online não são grande coisa, e com os seu já 14 volumes tive de receio de embarcar num novo Game of Thrones sem final à vista, e sejamos sinceros, à segunda só cai quem quer. Por isso abandonei-o.

Depois tentei o Hyperion, do Dan Simmons, que é mais ficção cientifica, mas ao fim de 20 páginas a única coisa que me ficava gravada na memória é que o livro tem quase 500 páginas e sinceramente não me estava a apetecer.

Estou este ano a ler/reler os Poirots da Agatha Christie, mas eu sou (pouco) obsessiva e tenho de os ler cronologicamente (ordem de publicação), e o seguinte na lista era um conjunto de short stories, que mais uma vez não é o que procuro.

Portanto, e depois de olhar para todas as pastas do Kindle, pu-lo de lado. Passei às prateleiras lá de casa. Tenho o próximo volume do Sandman, mas não ando com ele no autocarro, por isso problema não resolvido. Aquilino Ribeiro que trouxe do alfarrabista e também tenho em espera cá por casa, é demasiado complexo para tudo o que se passa na minha cabeça neste momento.

E pronto, estou num beco sem saída. Apetece-me uma história cativante e envolvente, mas a menos que o livro me caia na cabeça, parece-me que não vai acontecer tão cedo.

Tragam as vossas toalhas

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25 de Maio é o Dia da Toalha, ou seja o dia em que se celebra a obra de Douglas Adams, um escritor de ficção científica essencialmente conhecido pelos seus livros À Boleia pela Galáxia, que deram origem a uma série da BBC e, mais recentemente, a um filme cheio de maravilhosas criaturas.

Por mim já sou fã de ficção científica, mas estes livros (uma trilogia de quatro, como descreve o autor, mas que na realidade acabam por ser 5) são pequenas pérolas de diversão. Incrivelmente bem escritos, com uma dinâmica muito própria e um sentido de humor muito british é como ler Monty Python no espaço. Douglas Adams era não só um óptimo escritor, mas também um grande conhecedor de ciência, e um profundo defensor da biodiversidade. Nos seus livros os animais tinham um papel preponderante (os golfinhos, por exemplo, eram claramente mais inteligentes que os humanos, e a Terra tinha sido construida por ratos como um labirinto para humanos), e na vida real chegou a subir o Kilimanjaro vestido de rinoceronte para recolher fundos contra o tráfico de marfim. Nada mau para alguém que era conhecido como um preguiçoso, que nunca cumpria prazos de entrega de manuscritos, e de quem os editores tinham de andar sempre em cima para conseguir alguma coisa.

Morreu em 2001, com apenas 49 anos. Todos os anos no dia 25 de Maio se celebra o Dia da Toalha  em sua memória. Podem ver aqui o que se fez hoje um pouco por todo o mundo, infelizmente nada no nosso país. Aqui um bom artigo sobre o escritor.

E porquê uma toalha para o celebrar? Porque toda a gente sabe que uma toalha é o artigo mais precioso que qualquer pessoa que ande à boleia pela galáxia precise.

A towel, it says, is about the most massively useful thing an interstellar hitchhiker can have. Partly it has great practical value. You can wrap it around you for warmth as you bound across the cold moons of Jaglan Beta; you can lie on it on the brilliant marble-sanded beaches of Santraginus V, inhaling the heady sea vapours; you can sleep under it beneath the stars which shine so redly on the desert world of Kakrafoon; use it to sail a miniraft down the slow heavy river Moth; wet it for use in hand-to-hand combat; wrap it round your head to ward off noxious fumes or avoid the gaze of the Ravenous Bugblatter Beast of Traal (a mind-boggingly stupid animal, it assumes that if you can’t see it, it can’t see you – daft as a bush, but very ravenous); you can wave your towel in emergencies as a distress signal, and of course dry yourself off with it if it still seems to be clean enough.

More importantly, a towel has immense psychological value. For some reason, if a strag (strag: nonhitchhiker) discovers that a hitchhiker has his towel with him, he will automatically assume that he is also in possession of a toothbrush, washcloth, soap, tin of biscuits, flask, compass, map, ball of string, gnat spray, wet-weather gear, space suit etc., etc. Furthermore, the strag will then happily lend the hitchhiker any of these or a dozen other items that the hitchhiker might accidentally have “lost”. What the strag will think is that any man who can hitch the length and breadth of the Galaxy, rough it, slum it, struggle against terrible odds, win through, and still knows where his towel is is clearly a man to be reckoned with.”

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O Fascinio do Equador

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Por motivos pessoais resolvi ler novamente este livro. Tinha lido a primeira vez em Abril de 2012, e achei que era uma boa altura de repetir. Além disso,  o frio e a chuva nunca que teimam em não ir embora este ano tornaram-me nostálgica e com vontade de me sentir nos trópicos.

Embora já não tivesse o encanto da descoberta que teve da primeira vez, este continua a ser um bom livro. O facto de ter sido escrito por um jornalista faz com que os factos históricos que constituem o seu pano de fundo ganhem credibilidade, porque se há coisa que jornalista deve saber fazer é investigação.

De resto é uma história cheia de Portugalidade, do nosso fado muito português, de sermos reactivos e não proactivos, de termos amores muito trágicos e sofridos. As descrições de São Tomé são belissimas, acho que ninguém consegue ler sem ficar indiferente ao apelo das ilhas. Ainda recentemente li As Altas Montanhas de Portugal, onde o autor também falava extensivamente de São Tomé, mas aqui o retrato era bem menos lisonjeiro e mais focado nos aspectos brutais da geografia e do clima do que na beleza dos trópicos.

Agrada-me intercalar os muitos livros do Kindle, quase sempre em inglês, com coisas mais nossas, que reflectem a nossa alma e o nosso ambiente. Ler descrições sobre salões no Chiado, soirées na Baixa dá alento ao coração pelo prazer do conhecido. Por outro lado, já não estava habituada a carregar um livro tão grande no autocarro cheio, e ler quando ia de pé era absolutamente impossível.

Recomendo a quem quer que ainda não tenha lido e que goste de livros de época, História de Portugal, paragens distantes, viagens no tempo e no globo.

50 Sombras de Nada

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Domingo é muitas vezes o dia muito pouco glamorouso de fazer coisas necessárias como passar a ferro. Ontem não foi excepção. Normalmente alio a isso pôr em dia as minhas séries de eleição, que já são poucas, ou um pouco de televisão pop para entreter. Ontem vi a uns episódios antigos da Ellen, onde falavam do grande sucesso que estava a ter o 50 Shades of Grey. E pensei, “porque não? Já que estou em modo dona de casa, mais vale fazê-lo como deve de ser!

E pronto, resolvi ver o filme. Não estava à espera de nada de bom, uma vez que já não tinha gostado dos livros. Mas por alguma razão que eu própria desconheço, li os 3, de enfiada, apesar de os ter achado uma bela xaropada, falando bem e depressa. Mas é o chamado efeito train wreck (inventado por mim, óbvio), aquela coisa que apesar de saber que é má não consigo deixar de ler. A quantidade de trilogias que já li à conta disso é incrível.

Nesse aspecto o filme não desiludiu. Nada mesmo. Eu ri-me bastante com todo aquele pseudo-erotismo de gente a tentar retratar um mundo do qual não percebe nada e onde um morder de lábios é o supra sumo da sensualidade. E os actores escolhidos também não ajudaram. A Dakota é desenxabida, e o outro senhor não é minimamente convincente ou sensual (no meu entendimento, como diria a minha mãe).

Gostei da música, achei bem escolhida, e acho que foi isso. A parte boa é que sou mais resistente nos filmes e não me sinto minimamente com vontade de ver os restantes. Literatura erótica gosto muito e em breve hei-de fazer um artigo sobre os livros que me entusiasmaram.

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Os Astros do café.

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Pode dizer-se que sou uma crente moderada em Astrologia. Dou uma espreitadela em algumas previsões mais gerais, e interessa-me mais a parte das energias, dos trânsitos, do que as verdades absolutas que se lêm nas páginas das revistas cor-de-rosa.

No entanto há livros que valem por bem mais que o seu conteúdo, e é o caso do que está na foto. Comprado numa feira do livro há mais de 20 anos, ele é “muito rodado”, e devo-lhe muitas horas de entretenimento. Perdi a conta à quantidade de sitios por onde me acompanhou e serões que animou com as suas descrições de personalidades. Belas noites se passavam no Califa a ler em voz alta e a esmiuçar ao pormenor cada detalhe de cada pessoa.

De mim própria começa por dizer: “Desorienta qualquer um. Recusa o aborrecimento. Raciocina logicamente a partir de premissas irracionais. Encantador e insuportavel”. Realmente, como não gostar dum livro assim?

Man Booker Internacional 2016

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O prémio Man Booker existe desde 1969 e destina-se a premiar o que em cada ano é considerado o melhor livro de ficção, eleito por um painel de juizes. Existe em duas versões, o Man Booker propriamente dito, para todos os livros escritos originalmente em inglês independentemente da nacionalidade do autor, e o Man Booker International para os livros traduzidos para inglês. Em qualquer das versões os livros têm de ter sido publicados no UK.

No passado dia 16 de Maio foi atribuido o Man Booker International de 2016, The Vegetarian da sul-coreana Han Kang. Pela descrição parece um livro interessante e estranho, mesmo o género que eu costumo gostar. Já está na minha lista “to read”. Não esquecer também que José Eduardo Agualusa tinha chegado à shortlist com Teoria Geral do Esquecimento.

O prémio Man Booker ainda está em processo, sendo que a lista candidatos será divulgada a 27 de Julho, os finalistas serão conhecidos a 13 de Setembro e o vencedor será divulgado a 25 de Outubro.

Tradicionalmente  saem boas sugestões de leitura destas listas, e foi através deste prémio que conheci Ruth OsekiJhumpa Lahiri e Eleanor Catton, tudo livros excelentes.

Vou manter-me a par.

A BD Ambiental

Sherman

Quando duas coisas que nos interessam estão reunidas no mesmo formato. Sherman é um adorável tubarão branco que vive numa lagoa tropical em Kapupu na Micronésia, rodeado pela sua mulher, e restantes amigos que basicamente são aqueles que conseguem sobreviver ao seu apetite voraz. Como refeição gourmet vai petiscando uns quantos macacos sem pelos, ou seja, nós. E esta é a premissa base duma BD ambientalista que serve como chamada de atenção para o estado dos nossos oceanos.

Sherman tem a facilidade de viajar por todo o mundo oceânico e faz mesmo algumas incursões em terra com a ajuda duma cabeça mágica da Ilha da Páscoa, que tem poderes para o transformar em humano. Assim podemos meditar sobre questões ambientais prementes de modo descontraído mas não menos interessante. O sentido de humor deste comic é muito apurado e existencialista, faz-nos sorrir muitas vezes.

Em Portugal apenas dois volumes foram editados e traduzidos (na foto), ambos pela Devir e estão sempre presentes na Feira do Livro.

Eu pessoalmente sigo diariamente as tiras no site para começar o dia com uma dose de boa disposição.

Sherman's Lagoon

Vida Louca em Edimburgo

Irvine Welsh

Eu adorei o Trainspotting, filme que vi assim que saiu algures nos 90. Foi assim como que um despertar para filmes melhores e mais originais que as costumeiras xaropadas de Hollywood. Com o Kindle tive também acesso ao Trainsppoting em livro, por traduzir claro, e fiquei um bocadinho desanimada quando percebi que nem com o dicionário de Oxford eu conseguia seguir minimamente o que se estava a passar. Escrito no mais profundo calão escocês, tudo aquilo estava claramente fora do meu alcance. E assim deixei-o ficar no fundo da minha to read list.

 Agora, mais uma vez graças ao Netgalley, chegou-me às mãos a mais recente sequela do Trainspotting. Este Blade Artist segue um Frank Begbie mais maduro, com uma vida nova, a viver em LA depois de ter cumprido uma longa pena em Edimburgo e de ter conhecido a mulher que o regenerou. Ou mais ou menos.

O livro é alucinante, este personagem que me deixava absolutamente enervada nos idos anos ’90 é agora fascinante, cativante, e dei por mim a torcer que tudo lhe corresse bem independentemente das escolhas mais ou menos duvidosas que ele fazia. Irvine Welsh é um mestre a fazer-nos gostar de sociopatas.

Aconselho muito este livro a quem tenha um estômago de aço e não se impressione com facilidade. Da minha parte vou voltar ao Trainspotting e dar-lhe uma nova chance.

Goodreads Review