Livros que Recomendo – As Luminárias

luminaries

Estou sempre aqui a falar dos prémios do Man Booker, e isso tem uma razão de ser. Já li muitos livros que foram nomeados ou vencedores e que me encheram as medidas. Este é um deles, o vencedor de 2013, As Luminárias de Eleanor Catton, uma escritora neo-zelandesa.

É um livro grande e complexo, mas um prazer de ler. Passado na corrida ao ouro neo-zelandesa no final do século XIX, segue Walter Moody acabado de chegar a Hokitika e que se depara com um crime e um mistério para resolver. Entra numa sala onde estão 12 homens, cada um deles de algum modo relacionado com a história. Cada um destes homens está também relacionado com um signo astrológico e a personagem foi construída de acordo com as características gerais do seu signo. Há também outros personagens associados a outros eventos astrológicos, como planetas e afins. O próprio Walter Moody é Mercúrio, associado entre outras coisas a comunicação e viagens.

Um livro muito interessante e bem construído, mesmo que não atribuamos nenhuma importância à parte astrológica. Mostra-nos a dureza da vida e dos valores numa zona remota do globo no final do século XIX, os conflitos entre os povos nativos e os colonizadores, tudo embrulhado numa história complexa e muito bem contada. É para ser lido com o cérebro bem alerta, para não deixar escapar nenhum pormenor.

Recomendo a todos os que gostam de uma boa história, de romance histórico, que não têm medo dum livro grande e exigente. Para uma crítica detalhada, podem ver aqui.

Boas Leituras!

Acabei de Ler – Baise-Moi (Rape Me)

virginie despentes

Conheci Virginie Despentes em 2017 com um livro excelente proporcionado pelo Netgalley, Vernon Subutex. Tenho andado à espera do segundo volume traduzido em inglês, que ainda não consegui arranjar para o meu Kindle. Enquanto espero resolvi que estava na altura de ler mais qualquer coisa desta senhora, já que foi uma autora que me impressionou. Tem o tipo de linguagem que eu gosto, moderna, do nosso tempo e do nosso mundo. Sem contemplações e sem filtro. Por isso atirei-me de cabeça a este livro, sabendo que ia ter uma jornada dura.

E foi uma jornada bastante dura, mas um livro que devorei em dois dias. E isso tem sido tarefa impossível ultimamente, já que o tempo disponível para ler tem sido curto. O livro é rápido, alucinante, difícil de digerir e muito violento. Nele conhecemos Nadine e Manu, duas jovens francesas duma cidade média, que vivem um pouco à margem da sociedade. Abusam de álcool e drogas, recorrem a prostituição para ganhar dinheiro e não têm uma vida fácil, nem a facilitam. Nadine e Manu não se conhecem, mas cruzam-se por coincidência e nunca mais se vão largar. São atraídas uma para a outra um pouco como a expressão “misery loves company” e a “aventura” que vão viver marca-nos pela dureza e pela crueza.

É um livro muito simples, mas cheio de emoções complexas. Tal como em Vernon Subutex, fala-se aqui de situações que preferimos acreditar que não existem, e pessoas com as quais nunca nos queremos cruzar. Mas estas pessoas existem, e estas situações, principalmente as que acontecem a Nadine e Manu antes de se conhecerem, acontecem mais frequentemente do que queremos admitir.

O título em inglês deixa um bocadinho a desejar. Depois de alguma investigação percebi que uma interpretação mais literal seria “Fuck Me”, mas os editores anglo-saxónicos devem ter achado este título mais chocante. Go figure!

Não recomendo a toda a gente. Se quiserem ler este livro vão preparados para muita violência gratuita, para muitas imagens gráficas e de cariz sexual, nem sempre consensual. Tem muito sexo, sem ser de todo um livro erótico. É preciso estômago, mas é uma viagem que não esqueceremos.

Noutra nota, já tenho na minha lista de autores a ler Georges Bataille e Dennis Cooper, que foram muitas vezes mencionados na sinopse deste livro. A ver em 2020, que agora sigo para leituras mais “limpas” para desintoxicar.

Boas Leituras!

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Acabei de Ler – Travelling to Work, Diário Michael Palin #3

michael palin diary 3

Tal como quando li os contos de Hyperion, pegar neste terceiro volume dos diários do Michael Palin foi como voltar a algo conhecido e familiar como a nossa casa. Eu tinha ficado com a pulga atrás da orelha para ler este terceiro volume, não só porque foi quando se deu a morte do único Python até à data, Graham Chapman, que foi co-autor com John Cleese de alguns dos melhores sketches deles, como o dead parrot sketch, mas também porque foi neste altura que a carreira de Palin como apresentador e escritor de viagens se lançou com força.

Assim aqui podemos ver o lado mais pessoal de projectos como A Volta ao Mundo em 80 Dias, ou de Polo a Polo, toda a preparação que é necessária, a pós-produção, a luta para arranjar financiamentos para começar enquanto ao mesmo tempo se tenta garantir alguma independência, e depois a agonia de seguir as audiências televisivas ou as vendas de livros para saber se o esforço valeu a pena. Foi também interessante ler sobre todo o trabalho preparatório dum livro que eu li este ano, Hemingway’s Adventure. Não é só viajar e registar, há muito trabalho envolvido antes e depois.

Mesmo no fim dos 40 início dos 50’s, Michael Palin mantêm-se um jovem de espírito, sempre com vontade de fazer mais, descobrir mais e fazer algo de bom pela sociedade onde se insere, já que é muito consciente do seu papel social. Ao mesmo tempo continua com as mesmas inseguranças sobre o seu trabalho, o que nos mostra que é realmente uma pessoa de pés bem assentes na terra. É também refrescante ver que depois de todos estes anos os Python mantêm a amizade, se encontram regularmente e ainda gostam de colaborar juntos, mesmo que em moldes diferentes.

Recomendo a todos os fãs de Monty Python e de Michael Palin em geral.

Boas Leituras!

Goodreads Review

Dezasseis Anos, Talvez

couto

Dezasseis anos, talvez.
Vejo-a, no café, cada manhã,
A folhear, atenta, um compêndio de inglês,
Com um perfume a Escola e a maçã.

Não me canso de a olhar. Às vezes, olha
(Um velho!), num desvio de atenção,
E logo volta a folha,
Enquanto molha
o bolo no «galão».

Eu saio, com pesar, bebida a «bica».
Ela é a minha manhã,
Tão natural, tão clara… que ali fica.

– Que saudades da Escola! Que fome de maçã!

António Manuel Couto Viana, in ‘Café de Subúrbio’

Retrato

rui caeiro

Uma demora lenta nas palavras
um calor bom na palma das mãos
uma maneira de gostar das pessoas e das coisas
sem tolher movimentos ou forçar as superfícies
beber aos golinhos o café a ferver
ou o whisky chocalhado com pedrinhas de gelo
viver viver roçando as coisas ao de leve
sem poupar o veludo das mãos e do corpo
sem regatear o amor à flor da pele
olhar em torno de si perdida ou esperar o verão
e saber de um saber obscuro que o calor
todo o calor é de mais dentro que vem

Rui Caeiro in Livro de Afectos

Livros que Recomendo – Cathy

cathy

Algures no início dos anos 90 começou a ser traduzida para português a BD Cathy, editada pela Gradiva. Nesse Natal eu e a minha melhor amiga oferecemo-nos mutuamente o livro, sem uma saber da outra. Cathy é uma BD que foi publicada nos Estados Unidos diariamente de 1976 a 2010 e reflectia a “mulher real”. Pelo menos uma mulher real com a qual nos podíamos relacionar. Sempre a lutar com o peso, namorados errados, e uma mãe que o que mais queria é que ela estivesse no lugar da Princesa Diana e casasse com realeza.

Muito divertido e escrito com muito auto-conhecimento, estas BD’s proporcionaram-me muitas horas de diversão, até a minha vida ter mudado de direcção e a personagem deixar de se adequar tanto à minha própria realidade.

Ainda devo ter muitos volumes em casa dos meus pais, que um dia gostarei de reler. Creio que na maior parte as piadas já estarão datadas, e mesmo o tipo de desenho já parece muito rústico, mas creio que o espírito divertido de auto-censura ainda se manterá. Para quem não se importa com o inglês, todas as tiras podem ser encontradas aqui, e uma descrição da autora aqui.

Recomendo a todos os amantes de BD e de mulheres reais.

Boas Leituras.

Acabei de Ler – Vénus na India

venus na india

Eu acho que já falei aqui algures que os meus pais tinham uma pequena colecção de livros eróticos (mal) escondidos, e aos quais eu acedi em tenra idade. Este foi um deles, que ajudou a preencher algumas tardes em vez de ver desenhos animados. Encontrei-o perdido na net, e resolvi descarregar para o Kindle e reler.

Este é supostamente um livro biográfico que narra as aventuras do capitão inglês, Charles Devereaux, aquando o seu destacamento na Índia e no Afeganistão, no final dos 1800. A primeira coisa que salta à vista é a escrita delicada, floreada e profundamente vitoriana. A quantidade de pormenores, nomes carinhosos e metáforas é bastante interessante, e está ao nível de alguns contos que eu li naquele livro que comecei, Dentro da Noute, contos góticos, e que falei aqui.

A segunda coisa que salta à vista é que a moralidade vitoriana é muito diferente da nossa, mas que em alguns aspectos se este livro fosse publicado hoje o seu autor seria preso por pedofilia. Talvez seja leitura difícil para quem não se consiga abstrair de como as coisas eram diferentes há mais de um século atrás, em que uma rapariga de 15 anos já estava em idade de casar.

Mas em geral é um livro muito bem escrito, um clássico deste género, e com uma história engraçada. Tem supostamente uma sequela, mas essa não a consegui encontrar em lado nenhum.

Aconselho a quem gosta de literatura erótica, e livros de época.

Boas Leituras!

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Acabei de Ler – Hyperion Tales

shrike

Como falei anteriormente, a minha escolha de leitura tem andado bastante reduzida e muito centrada em Agatha Christie. Mas como tudo o que é demais enjoa, resolvi pesquisar as coisas que tinha perdidas no Kindle e procurar algo que me satisfizesse.

Quem segue o blog sabe que Hyperion, de Dan Simmons, e subsequentes títulos da série, são dos melhores livros de ficção científica que li desde sempre. Por isso nada como “voltar a casa”, que neste caso significa ao Universo de Hyperion, e ler uma compilação de 3 contos passados no mesmo universo.

Estes contos foram uma forma do autor voltar a mostrar-nos o que se passava naquele universo, quer antes dos acontecimentos de Hyperion, quer algum tempo depois do final de Endymion, sem no entanto fazer uma sequela propriamente dita. O primeiro conto, Orphans of the Hellix foi o meu favorito, o que se passa muitos anos depois dos eventos de Rise of Endymion, e foi bonito e triste como deveria ser a despedida deste Universo. Porque é esse o sentimento que fica, de que nos estamos a despedir de um amigo que tanto nos agradou mas que não voltaremos a ver.

Remembering Siri, o segundo conto, esteve quase integralmente incluido em Hyperion, por isso não foi novidade. O terceiro conto, The Death of the Centaur, é talvez o mais biográfico dos 3, já que é uma alegoria contada por um professor de literatura à sua turma numa comunidade rural. Vemos um cheirinho da presença do Shrike, só para nos aguçar o apetite (tal como no primeiro conto, aliás).

Gostei muito, recomendo imensamente a todos os que leram os quatro Cantos de Hyperion. Aos que não leram, sinceramente não sei o que esperam. Ficção científica é tão mais do que naves espaciais aos tiros. Aqui reflecte-se sobre degradação ambiental, religião, filosofia, liberdades individuais versus obediência ao colectivo, política, e muito, muito mais, tudo com um monstro assassino de 4 braços à mistura. Recomendo!

Boas Leituras!

Goodreads Review

 

Hoje Também Não Recomendo Livros

estante

Já há cerca de dois anos que recomendo livros à sexta feira para nos alegrar os fins de semana. Segundo os meus registos já aqui falei de 86 livros, que de uma maneira ou outra me encheram as medidas, me deixaram recordações e que achei pertinente partilhar com os outros.

O ano passado pedi recomendações e recebi excelentes ideias de leitura, por isso este ano pergunto o mesmo. Que livros vos chamaram a atenção nos últimos tempos e que desejam recomendar?

Boas Leituras!