Os Peros

poesia às segundas

Na minha infância havia peros.

Peros grandes, amarelos,

claramente diferentes das maçãs,

que eram vermelhas.

Mais o pero bravo-esmolfe

que era pequenino e rijo. 

Os peros sabiam a sumo e a Verão

as maçãs sabiam a princípio de Outono

e dias curtos.

Hoje só temos maçãs Fuji, Royal Gala,

Granny Smith

e outros nomes sem sentido,

e todas sabem a água e desilusão. 

Globalizámos a fruta. 

Peixinho de Prata, 2018

As Raparigas

poesia as segundas 5 anos

Quando eu era miúda 

a minha mãe chamava rapariga 

a mulheres da idade dela, 

e eu ria-me 

porque achava que eram muito velhas 

para serem raparigas.

Agora, quando eu falo em ser miúda

refiro-me a um tempo indefinido

algures entre os cinco e os trinta e cinco anos

e percebo que estou mais velha

que a minha mãe quando se achava rapariga.

Peixinho de Prata, 2018

5 Anos de Peixinho

Feeling Like Reading the Next Volume by Utagawa Kuniyoshi

Sinto que ainda ontem comecei nestas andanças e na realidade o Peixinho já fez 5 anos. Por aqui passaram muitos livros lidos e para ler, muita poesia e algumas viagens. Cada vez menos viagens por causa da pandemia e de um carapauzinho que nem dois anos tem, mas há sempre esperança de retomar em breve.

5 anos em que muitas vezes sinto que escrevo apenas para mim, mas suponho que esse seja o objectivo primeiro de qualquer blog, permitir-nos deitar cá para fora os nossos pensamentos.

Venham mais 5 recheados de livros, viagens e muita poesia!

Boas Leituras!

Passarinhos

Poemas à Segunda

Subo às tuas cavalitas

como quando tinha cinco anos

e a vida era simples.

Dos teus ombros vejo o mundo

até perder de vista.

Vejo uma linha reta

até um dia em que já não estás

para me dares a mão

e irmos aos passarinhos,

mesmo que eu ache que isso não se faz.

O mundo ficou mais vazio,

mesmo que tenha mais passarinhos.

Peixinho de Prata, 2018