Mais uma vez o Netgalley deu-me a oportunidade de ler um livro que de outra maneira não teria tido acesso. Madonna in a Fur Coat foi publicado em 1943 na Turquia e tem sido um grande sucesso desde então, mas só agora foi traduzido para inglês. Confesso que a razão que me levou a escolhê-lo foi simplesmente o título, que me pareceu tão próximo doutro título da literatura clássica que também envolve furs que eu simplesmente não podia deixar de o ler. E se bem que a temática não seja de todo a mesma, lá bem no fundo não deixa de ter algumas semelhanças, quanto mais não seja pela profunda impressão que uma mulher de temperamento forte consegue produzir num homem que não sabe muito bem que rumo dar à sua vida.
Quando começamos a nossa história, seguimos um jovem que arranja emprego numa firma onde trabalha como tradutor de alemão Raif Efendi. E todo o resto do livro vai seguir a história de vida desta misteriosa e incompreensível personagem, começando pelo seu final, e levando-nos depois pelas páginas do seu caderno preto até aos tempos do pós grande guerra, onde Raif conheceu aquela que viria a ser o seu grande amor, e que, para além de o fazer desabrochar, mudaria radicalmente o curso da sua vida e personalidade.
Este livro está profundamente marcado pela época em que foi escrito (1941), e a época em que se desenrola, os anos 20. Anos em que havia esperança pelo fim da Grande Guerra, mas em que se caminhava a passos decididos para um novo conflito. Todo o livro está marcado pelos chamados “what if’s?”, como teria sido a minha vida se em vez de um zig tivesse dado um zag, mas tendo a certeza da inevitabilidade do caminho que se percorreu. Respiram-se e vivem-se as oportunidades perdidas.
É um livro belíssimo, um história dum amor intenso e profundo, mas ao mesmo tempo triste e carregado dum fado quase português. Raif Efendi é um personagem com o qual me identifiquei imenso, ao mesmo tempo que só me apetecia abaná-lo para o obrigar a sair do estupor em que se tinha deixado mergulhar, tão próximo e reconhecível. Por outro lado, a universalidade deste texto é imensa. Foi escrito na Turquia em 1941, como poderia ter sido escrito em Portugal em 2017, de tal maneira é próximo à condição humana.
Não faço ideia se está, ou alguma vez será, traduzido em português. Mas duvido, como tantas outras pérolas obscuras que passam ao lado do nosso pequenino e míope mercado editorial, mas se forem proficientes a ler em inglês, não deixem escapar esta oportunidade.
He was, in the end, the sort of man who causes us to ask ourselves: ‘What do they live for? What do they find in life? What logic compels them to keep breathing? What philosophy drives them, as they wander the earth?’ But we ask in vain, if we fail to look beyond the surface – if we forget that beneath each surface lurks another realm, in which a caged mind whirls alone.
She searched my face. ‘You are alone in Berlin, right?’ ‘What do you mean?’ ‘I mean . . . alone . . . with no one else . . . spiritually alone . . . How can I put it . . . you have such an air about you that . . .’ ‘I understand . . . I am completely alone . . . But not just in Berlin . . . alone in all of the world . . . since I was a child . . .’ ‘Me too,’ she said.