Acabei de ler – Cards on the Table, Poirot #15

poirot 16

Como já devem ter percebido entusiasmei-me com os Poirots e tenho lido em catadupa. Ajuda o facto do cérebro ainda não estar a 100% e estas leituras são interessantes e mais fáceis.

Este décimo quinto volume conseguiu mais uma vez surpreender.  O prefácio escrito pela autora estabelece logo o tom. Estamos perante um caso em que apenas 4 pessoas que se encontram a jogar Bridge poderiam ter cometido o crime, todas têm motivos e oportunidade. Será um trabalho de dedução chegar ao assassino. É o caso favorito do Poirot, mas o Hastings acha-o aborrecido. A autora lança-nos um repto, com quem nos identificamos mais?

Após a leitura do livro eu cheguei à conclusão que estou próxima do Poirot. Não sei se é o meu livro favorito, mas certamente não tem nada de aborrecido, é tem algumas voltas interessantes.

Como sempre aconselho a fãs do Poirot, de policiais e boas histórias em geral.

Boas leituras!

Goodreads review

Man Booker 2019

Man Booker 2019

Já fio há alguns dias que foram anunciados os finalistas do Man Booker deste ano, mas já sabem que no Peixinho a moda agora são as notícias atrasadas. Falei há algum tempo de todos os finalistas aqui, e este ano pela primeira vez escolheram-se duas vencedoras, Margaret Atwood e Bernardine Evaristo.

Dois livros e autoras muito diferentes, mas de certa forma literatura feminina, sobre a condição das mulheres. Em relação a The Testaments tenho sentimentos contraditórios. Por um lado quero ler porque gostei muito do Handmaid’s Tale, por outro tenho algum receio que este livro só tenha aparecido por causa do sucesso da série e que eu vá acabar por me desiludir.

No entanto, ao ritmo que tenho andado a ler ultimamente, estará na minha lista de livros a ler até 2035, por isso não é caso para me preocupar já.

Se lerem algum dos dois venham cá dizer-me se vale a pena.

Boas Leituras!

Balada do Caixão

antonio-nobre-1

O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte,
Ponteia e cose, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mognos, debruados de veludo,
Flandres gentil, pinho do Norte…
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai a aborrecer,
Fui-me lá, ontem: (Era Entrudo,
Havia imenso que fazer…)
– Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva? – Vamos ver…
Olhou, mexeu na casa toda.
– Eis aqui um e bem barato.
– Está na moda? – Está na moda.
(Gostei e nem quis apreçá-lo:
Muito justinho, pouca roda…)
– Quando posso mandar buscá-lo?
– Ao pôr-do-Sol. Vou dá-lo a ferro:
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo…)

Ó meus Amigos! salvo erro,
Juro-o pela alma, pelo Céu:
Nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi, olhai! do que eu!

António Nobre

Preso Político

fernando assis pacheco

 

1

Quiseram pôr-me inteiro numa ficha.
O dia e a noite são iguais por dentro.
Não há papel que conte a minha vida
mais que estes versos de punhal à cinta.
A barba cresce, e cresce a voz armada
descendo pelos muros tão tranquila;
tão tranquila que já nem desespera
de ser apenas voz, não uma guerra.

Quiseram pôr-me inteiro numa ficha.
Não há papel que conte a minha vida.
Mais que estes versos, esta mão estendida
por sobre os muros só de medo e pedra.

2

Quando saíres, amigo, não me esqueças.
Fico à espera da tua novidade.
Olha bem que farás da liberdade:
quando saíres, amigo, não me esqueças.

Quero mais fazimento que promessas.
São de prata os enganos da cidade
com que outros sujeitam a vontade.
Não me esqueças, amigo, não me esqueças.

1966

Fernando Assis Pacheco, in ‘Lote de Salvados’

Acabei de ler – Crime na Mesopotâmia, Poirot #14

crime na mesopotâmia

Se bem me lembro este foi um dos primeiros livros do Poirot que eu li, por volta dos meus 14/15 anos, quando estava de férias na terra. Li a versão dos Livros do Brasil, que tinha dois mistérios num só volume. Este vinha acompanhado de Morte no Nilo, talvez por serem os dois em locais exóticos.

Depois disso já o reli, e vi o respectivo episódio, mas resolvi reler de novo, agora em inglês. Também porque é o volume seguinte do Poirot que eu continuo a ler obsessivamente por ordem.

É um livro muito pitoresco. Não só é passado na Síria no início do século XX, como a narradora é uma das personagens participantes da trama. Poderíamos pensar que isso elimina logo uma das suspeitas, mas quem leu os Poirots anteriores sabe que ser narrador não é garantia de idoneidade.

Mas é esta enfermeira que narra a história que confere um toque ainda mais especial a esta história intrincada. Profundamente inglesa, vê com desconfiança e condescendência tudo e todos os que são estrangeiros, é isso dá uma cor muito engraçada à história. Creio que podemos vislumbrar um pouco da verdadeira Agatha Christie nesta personagem.

Mais uma vez recomendo a todos os que gostam de policiais e histórias bem contadas que nos prendem a atenção.

Boas leituras!

Goodreads Review

Fui Ver – Variações

variacoes
Os peixes adultos cá de casa aproveitaram umas horas livres que tiveram para ir ao cinema. Queríamos ver uma coisa simples e divertida e resolvemos ir ver o tão falado Variações. Só falhou na parte do divertimento, porque acabou por ser bastante mais triste do que antecipavamos.

No geral o filme está muito interessante e bem conseguido, quer na história quer visualmente. É fácil seguir e perceber o percurso do artista, as suas angústias, a sua vontade de ser bem sucedido no mundo da música, sem nada saber dela para além do que sentia dentro.

Eu senti que se calhar soube a pouco, que não se aprofundou mais para além do que já é do domínio público, ficou por conhecer algo sobre aquilo que o motivava. Por outro lado Sérgio Praia encarnou muito bem no personagem, até os maneirismos estavam parecidos. Uma boa interpretação.

Penso muitas vezes como teria evoluído o “personagem” António Variações caso tivesse sobrevivido até hoje. O que era diferente e espantoso nos anos 80 lisboetas, é hoje banal e corriqueiro. Nunca saberemos.

Entretanto deixo-vos a minha música favorita de António Variações aqui.

Bons filmes e boas leituras!

Livros que Recomendo – Retrato Dum Artista Quando Jovem

james joyce

Por algum motivo que me escapa, sempre confundi este livro com o Retrato de Dorian Gray, que recomendei aqui no Peixinho há algum tempo. Creio que foi por os ter lido na mesma altura, e por ambos terem retrato no nome. No entanto as semelhanças não são muitas mais, exceptuando talvez o facto que James Joyce e Oscar Wilde eram irlandeses.

Este livro foi o primeiro que li deste autor, e único até agora. Não sei o tamanho dos outros me intimida, se simplesmente ainda não me senti suficientemente motivada para os ler, mas a impressão com que fiquei deste livro foi bastante boa.

O retrato do artista quando jovem é mesmo o que o título diz. Uma ficção inspirada na juventude do próprio autor, e em que Stephen Dedalus é como que o seu espelho. Tal como James Joyce, Stephen também nasceu na Irlanda, filho de pais muito católicos, e com uma relação conturbada. Com uma infância conturbada, e depois de uma passagem traumática por um colégio católico,  Stephen questiona a sua identidade e os seus valore e acaba por sair da sua Irlanda natal e embarcar rumo à Europa, mais liberta de tradicionalismos.

Escrito num estilo modernista, em que a linguagem se vai adaptando ao crescimento da personagem, este livro tem também inspiração no mito grego de Dédalo, o grande artesão. Foi também aqui que Joyce lançou as fundações para a sua obra maior Ulysses.

Recomendo a todos os que gostam de literatura clássica, de ler livros bem escritos e diferentes. Aqui deixo-vos o link onde podem obter a versão digital gratuita, pois já está em domínio público.

Boas Leituras!