#DezembroPortuguês

livros e oculos

Comecei este Dezembro com mais um bom livro da Rosa Lobato de Faria, que já falei aqui. E pensei comigo mesma que dos 70 livros lido até aquela data, este era apenas o segundo dum autor português, e senti alguma vergonha. Há razões práticas para isso. Eu leio essencialmente no Kindle, porque estou a ficar pitosga e a letra dos livros físicos é muito pequena. Infelizmente as editoras portuguesas na sua generalidade não acreditam em disponibilizar livros para Kindle, e ler numa app no telefone não é de todo a mesma coisa.  

Enfim, depois desta reflexão, que foi bem mais complexa do que o resumo que fiz acima, resolvi que ia tentar ler apenas autores portugueses em Dezembro, assim o meu feitio o permitisse. E devo dizer que permitiu sim senhora, terminei 4 livros completos de autores portugueses, e entrei em 2023 com outro. Destes 5 escritores, dois foram uma estreia, Valter Hugo Mãe e João Tordo. Foi um mês muito divertido e com excelentes resultados. 

Rosa Lobato de Faria e João Aguiar são dois velhos amigos que não desiludem, os livros deles são sempre muito bons, mesmo os que são um bocadinho menos bons. As Esquinas do Tempo não foi o meu favorito da autora, mas mesmo assim foi interessante, e o Navegante Solitário foi um prazer enorme de ler. 

Valter Hugo Mãe foi um osso duro de roer, mas mesmo assim acho que voltarei a dar uma oportunidade a outro livro dele. Afonso Cruz foi igual a si próprio, e foi um livro que se leu muito bem.

Mas o grande sucesso/surpresa foi realmente João Tordo, um portento de livro, mesmo sendo o terceiro duma trilogia. Talvez por se debruçar tanto sobre saúde mental e demência, que são temas que me tocam no coração, mas também pela escrita poética e envolvente, e por um naipe de personagens que inspirava muito carinho, mesmo quando discordávamos de todas as suas ações. 

Ainda houve tempo para ler dois romances que consegui no Netgalley, para desenjoar, que foram bastante engraçados, mas nada digno de nota. O livro do João Aguiar era um físico que tinha aqui em casa por ler (finalmente), o que significa que só posso ler com óculos postos (é a velhice, senhores. É a velhice), por isso ainda li simultaneamente no Kindle um livro de fantasia, também do Netgalley. O pior é que eram os dois interessantíssimos, por isso tive dificuldade em escolher a cada momento qual é que me apetecia ler mais. Mas todos os males fossem esses, e não duraram muito no início de Janeiro. 

Janeiro que começa com uma incrível vontade de ler fantasia e thrillers, e é também o mês em que o estaminé faz 7 anos. Cá virei depois fazer o resumo deste início de ano. 

Até lá, Boas Leituras!

 

Acabei de Ler – O Deslumbre de Cecília Fluss

joao tordo

Devia ter criado uma hashtag e um desafio para esta coisa de passar Dezembro a ler em português, não devia? E dinamizar a iniciativa no Instagram e assim. Mas agora é tarde, e também gosto de deixar as coisas assim, íntimas, entre a meia dúzia de amigos que vem até aqui dar uma olhada. Sintam-se especiais, porque o são!

Depois de acabar este livro do João Tordo percebi que havia aqui claramente um desvio nos livros escolhidos. Já vamos em 3 homens para uma mulher, rácio que pode ser interessante nalgumas coisas da vida, mas não necessariamente nesta. Não tiremos nenhuma ilação discriminatória, porque não a há. A ideia era despachar coisas que já tinha cá por casa, e estas eram as que andavam aqui a apanhar pó. Também tenho a minha quota parte de mulheres por cá, mas mais já lidas que por ler. 

Considerações à parte, lá voltei a uma estreia, desta vez João Tordo. Sei que este é o terceiro volume duma trilogia, mas era o que havia, e parece que as histórias não estão ligadas. Tive que desligar um bocadinho a ansiedade que isso me provocou, mas de todos os livros que tinha disponíveis era o que mais me apetecia, por isso lá foi. 

Cecilia é a irmã mais velha de Matias Fluss, o personagem principal deste livro. É uma adolescente de 16 anos, que luta com aquelas coisas que nos apoquentam na adolescência. Quem somos, o que é o amor, que rumo vai tomar a nossa vida? Luta também com uma certa angústia de viver, mais conhecida como depressão. Matias e Cecilia são próximos, a mãe lida com os seus próprios problemas, e o outro único membro da família é o tio Elias, que está a ficar louco. O foco principal deste livro é mesmo a saúde mental. 

Até agora, este foi o meu livro favorito de todos os que li. Adorei a escrita do João Tordo, poética mas directa, uma história fluida e que se revela aos poucos. E mesmo que se vislumbrem algumas das revelações finais durante o livro, o importante foi mesmo a jornada até elas. Todos os personagens eram maravilhosos, bem construídos, mesmo aqueles que tiveram um papel mais secundário. Todo o livro gira à volta de doença mental, demência e como os acontecimentos da vida despoletam coisas em nós. Um tema pesado, mas que foi muito bem trabalhado. Um livro ao mesmo tempo triste, mas doce, e um relato muito convincente do que é sentir as nossas capacidades a escapar-nos por entre os dedos. Infelizmente, as pessoas com doença mental nem sempre são tratadas com a dignidade que merecem. É difícil lembrar que por trás de alguns comportamentos está uma pessoa cuja dignidade deve ser preservada e mantida, e isso é um tema que me é muito querido. Gostei muito da forma como a mensagem passou neste livro, e só por isso acho que vale a pena lê-lo.

Sem dúvida o melhor dos 4 portugueses que li até agora, recomendo muito e irei com certeza procurar ler mais livros do autor. Dezembro está quase a chegar ao fim, terei tempo ainda de ler mais um português? Vamos descobrir. 

Até ao próximo, Boas Leituras!

Goodreads Review

 

 

Acabei de Ler – Jesus Cristo Bebia Cerveja

jesus cristo bebia cerveja

Continuo Dezembro adentro a ler autores portugueses, numa tentativa de expiar a secura do resto do ano. Por enquanto tenho escolhido essencialmente coisas contemporâneas, porque não ando muito virada a clássicos. E assim cheguei a este livro do Afonso Cruz, o segundo que leio do autor e que tem um título muito convidativo, como é aliás seu apanágio.

Há cerca de 2 anos, quando li O Pintor Debaixo do Lava-Loiça, achei a escrita um bocadinho rebuscada, próxima de um livrinho de aforismos, cujo objectivo é guardar bonitas frases em posts do Instagram. Mas desta vez estou a ler este livro mesmo após ter terminado Valter Hugo Mãe, por isso quase achei a escrita jornalística. Não sei se efectivamente é mais escorreita neste livro que no anterior, sei que me agradou muito mais, e pôs em evidência a história, que é muito interessante e me fez deslizar pelas páginas. Ajudou também o pano de fundo ser uma aldeia alentejana, e poucas coisas existem que sejam mais literárias que uma bela aldeia no Alentejo rural. 

A história é sobre Rosa e a sua avó Antónia, que se encontra em fim de vida e cujo maior desejo era visitar a Terra Santa. E, de um modo rebuscado e com ajudas improváveis, Rosa vai concretizar o sonho da avó. Isso é basicamente a história, mas é também muito mais que isso. É uma lista infindável de personagens alentejanas, rurais, estereotípicas, e digo tudo isto como elogio. As outras personagens estão na história como a vila, o rio, o casebre, apenas para dar contexto e corpo, e tornar tudo verosímil, apesar de ser profundamente fantasioso. Quem, como eu, conheceu de perto a vida de aldeia, com todas as suas imensas qualidades e defeitos, reconhece neste Alentejo ficcionado muita realidade da nossa natureza. Ao contrário do livro anterior, todas as personagens aqui eram carne, e consegui relacionar-me com todas, mesmo a que não gostei. 

O livro para mim pecou pelas páginas finais, aquelas mesmo depois do evento final. Depois duma história tão bem construída e delineada, aquele final pareceu-me um posfácio apressado, e creio que Rosa merecia mais sumo. Não um final diferente, apenas mais bem definido. Fará sentido se já tiverem lido. 

Mas gostei muito da experiência, voltarei a repetir este autor certamente. Agora é continuar que ainda há muito Dezembro em português. 

Rumo ao próximo. Até lá, Boas Leituras!

Goodreads Review

 

Acabei de Ler – Homens Imprudentemente Poéticos

homens poeticos

Não é frequente, mas por vezes acontece terminar um livro sem perceber se gostei ou não, e sem saber muito bem o que dizer. É claro que isso nunca me deteve antes, nem vai impedir agora de me alongar sobre este livro do Valter Hugo Mãe, o primeiro que leio dele. 

Começo por uma pequena sinopse. Este livro passa-se no Japão rural de outros tempos e conta a história entre um oleiro e um artesão, que são vizinhos mas não amigos. Um faz leques artísticos, cobiçados por todo o Japão, o outro faz potes de barro que mal dão para ser usados. Cada um deles é uma descrição profunda de aspectos diferentes da mesma moeda, uma ode à natureza humana, assim como a relação entre eles, entre a sociedade que os rodeia (uma pequena aldeia do Japão remoto), e com a autoridade (um velho sábio que vem habitar a aldeia e dispensar juízos que são lei). 

A escrita de Valter Hugo Mãe é muito característica, muitas vezes apelidada de português desconstruído, e nota-se que cada frase foi polida e trabalhada até chegar ao resultado final. Há muito trabalho na criação desta história, e isso nota-se. Para mim é um tipo de escrita que confesso que não é a que mais me apela, distrai-me da história, e acabo por ter dificuldade em seguir. Eu gosto de escrita poética (basta ver que adoro poesia), mais delicada, livros diferentes, mas este já é um ponto em que acabo a reler a mesma frase várias vezes só para ver se fazia sentido. E fazia sempre, notem. 

Gostava de ter ficado mais deslumbrada e encantada com um autor que já ando a tantos anos para ler, e que parece reunir uma grande base de fãs fieis, mas simplesmente não foi para mim. A história também não me despertou grande interesse, não consegui criar empatia com nenhuma das personagens, talvez por nenhuma soar real. Se é um bom livro? É, com certeza. Se vale a pena ler? Vale, se forem avisados que o português dá luta. Mas este é daqueles livros que se ama ou odeia (ou se fica gentilmente neutra, como eu), e vocês podem amá-lo. Se vou ler outro livro do mesmo autor? Com certeza, assim que me esquecer do que passei com este. Claro, que estando a minha memória no estado lamentável em que está, isso pode ser já no mês que vem. 

Mas para já sei que vou continuar Dezembro a ler em português. Rumo ao próximo, até lá, Boas Leituras!

Goodreads Review

#NovembroQuente

novembrofrio

Depois dum Outubro quentinho e com poucas histórias de terror, em Novembro esperava-se o tempo frio para nos enrolarmos com mantas, chás e livros. Mas as alterações climáticas vieram para ficar, e Novembro esteve mais próximo da manga curta que das mantas. Vamos ver o que Dezembro nos reserva, que o meu sonho é passar um Natal tropical, mas a ideia era ser fora de Lisboa.

Este Novembro li 5 livros, com coisas muito interessantes pelo meio. Comecei com uma ficção histórica passada na época vitoriana, numa Londres fria, escura e cheia de mistérios, ainda a dizer adeus ao espírito do Halloween. Foi um excelente começo, que falei aqui. Depois entretive-me a ler livros que foram muito falados em anos passados, mas que ainda não me tinha apetecido pegar. Normalmente acabo por me desiludir porque vou cheia de expectativas que nunca são correspondidas. No entanto este mês não me desiludi, e sou capaz de continuar com esta tendência nos meses que se seguem. Desta vez “despachei” A Casa no Mar Cerúleo, que gostei muito, e O Clube do Crime das Quintas-Feiras, que foi bom mas ficou um bocadinho aquém. Para ambos os autores, já tenho os próximos livros à espera no Kindle. Claro que podem lá ficar anos a ganhar pó, conhecendo-me como conheço.

Pelo meio ainda consegui ler dois romances do Netgalley, mas que foram tão inconsequentes que nãovos conseguiria dizer a sinopse de nenhum deles sem ajuda do Goodreads. Mentira, um deles foi tão mau que ainda me lembro perfeitamente, porque fiquei ligeiramente traumatizada. Mas foi bom, porque me fez dar uma limpeza no Kindle e apagar todos os romances do mesmo género que andavam por lá perdidos. Acho que se chamam mafia romances, e são o expoente máximo da Bad Boy trope, para a qual claramente já não tenho idade. Daria todo um post à parte, mas há guerras que não quero comprar.

Dezembro promete frio, e uma mudança na direcção das leituras. Cá virei no final do mês a dizer como correu.

Até lá, Boas Leituras!

Acabei de Ler – As Esquinas do Tempo

esquinas do tempo

Estive vários dias a começar livros e a abandoná-los quase de seguida. Nada me enchia as medidas, coisa que acontece frequentemente. É o cérebro a dizer que precisa de descanso de tantas histórias. Resolvi dar uma arrumação ao Kindle, apagar coisas que já li ou que nunca vou ler e foi depois da casa arrumada que peguei neste livro da Rosa Lobato de Faria. Nunca falha, esta senhora. Já aqui falei de outros dois livros dela que li (Os Três Casamentos de Camilla S. e Romance de Cordélia), e a minha opinião continua a ser a mesma. Como é possível que ela não tenha mais leitores?

Este Esquinas do Tempo é um bocadinho diferente dos anteriores, talvez se possa dizer que é realismo mágico. Margarida é uma mulher independente do século XXI, professora de matemática, solteira, que vai dar uma palestra ao norte. Fica hospedada num antigo solar, estranho e fantasmagórico, e quando acorda no dia seguinte percebe que andou 100 anos para trás. Continua a ser Margarida, com as mesmas duas irmãs, mas é agora uma donzela rica, filha de boas famílias. E é ao entrar neste papel que a sua vida vai mudar radicalmente.

Esta ideia que as mesmas pessoas vão aparecendo sucessivamente na história e no tempo não é propriamente nova, mas é sempre interessante quando é bem feita. E foi esse o caso. Há sempre espaço para reflexão nestas histórias da Rosa Lobato de Faria, para pensarmos na condição social da mulher, nas suas dificuldades mas também na sua resiliência e capacidade de adaptação. Tal como os outros livros, este também não tem um final de conto de fadas, apesar de ser uma história de amor. Entre outras coisas. Nos três livros que li até agora há sempre um toque de trágico, ou dramático, sem ser miserabilista.

Esta senhora escrevia muito bem, e sabe contar histórias, manter-nos agarrados até ao final. Felizmente ainda tenho alguns livros pela frente, para ir saboreando lentamente, como um bom vinho.

Recomendo muito, a todos os que gostam de ler, mesmo não sendo o meu favorito desta escritora.

Rumo ao próximo, até lá Boas Leituras! 

Goodreads Review

 

 

Acabei de Ler – O Clube do Crime das Quintas-Feiras

thursday murder club

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Depois de muito tempo em lista de espera resolvi pegar no Clube do Crime das Quintas Feiras, que ganhei há algum tempo no canal da Dorinha. De vez em quando apetece-me um bom mistério, e chegou a altura deste. Ia um bocadinho de pé atrás porque as opiniões que tenho visto não são espectaculares, mas resolvi ver por mim própria.

Este clube é um grupo de 4 idosos que vivem num empreendimento para a terceira idade, algures no campo inglês. Juntam-se todas as quintas feiras para tentar deslindar casos antigos e sem solução. Mas quando se dão não um, mas dois assassinatos na aldeia, está na hora de porem os seus dotes a mexer. Os personagens são claramente o ponto forte desta história, estão bem construídos, são divertidos e no fundo todos esperamos conseguir viver a velhice com (quase) todas as faculdades intactas.

Gostei muito dos personagens, do ambiente, do sentido de humor subtil. A história flui bem e mantém-nos interessados, com a quantidade certa de reviravoltas e pistas falsas. Passei a maior parte do tempo a questionar porque razão as pessoas não gostavam do livro até chegar à resolução final. Aí é que foi a desilusão que fez este livro baixar umas estrelas. O culminar da história não fez sentido nenhum, não era verossímil, e não fez jus à qualidade do resto do livro. Mesmo assim valeu as três estrelas no Goodreads por tudo o que se passou até lá.

Recomendo a todos os que gostam de policiais, e de histórias que nos mostram que velhice não significa morrer em vida. Apesar de tudo foram umas horas bem passadas.

Rumo ao próximo. Até lá, Boas Leituras!

Goodreads Review

After a long time on the TBR, I finally picked up The Thursday Murder Club, that I won some time ago on Dorinha’s YouTube channel. Every once in a while, I’m on the mood for a cosy mystery, and this was one of these times. I was a bit reluctant, as I saw some not so good reviews, but that did not deter me.

This club refers to a group of 4 elderly people that live in a retired community somewhere in the English countryside. They get together every Thursday to look at old police cases and try to solve them together. But when no tone, but 2 murders happen in their neighbourhood it’s time to get together and solve them, the characters are this book’s strong point. They are engaging, well developed and most of all, fun. They are what we all hope will be a portrait of our older years, living a full life with all our capabilities.

I really enjoyed the main characters, the ambience, and the subtle sense of humour. The story has a nice pace, keeps us interested at all times with a lot of plot twists, some more obvious that others. I wondered throughout the book why there were so many negative opinions. But then I reached the end and I understood. Unfortunately, the ending is not very good. It did not make sense; it was sloppy and not on par with the rest of the book. Still, I gave 3 stars on Goodreads, as the overall experience was so enjoyable.

I recommend it to all that love cosy mysteries, and stories that show us that being old is not the same as being dead. In the end it was a time well spent.

On to the next, until then Happy Reading!

Acabei de Ler – A Casa no Mar Cerúleo

house in the cerulean sea

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Eu sou uma pessoa que não gosta por aí além de ler as coisas que toda a gente anda a ler, normalmente porque já vou com predisposição para não gostar. E por vezes esses receios são fundamentados, como aconteceu recentemente com Os Sete Maridos de Evelyn Hugo. Mas depois, noutras alturas, descobrimos que na realidade toda a gente tinha razão, como aconteceu com Bear Town. Este livro foi um desses.

A Casa no Mar Cerúleo é o que se chama uma “cosy fantasy”. Assim um livro de fantasia que aquece o coração, em vez de encher a cabeça com raças de elfos, e batalhas sem fim. Gosto de uns e outros, mas ultimamente ando mais virada a coisas simples, porque há muita beleza na simplicidade.

E há muita beleza na história de Linus Baker, um empregado da agência governamental encarregue dos orfanatos dedicados a crianças que são simultaneamente seres mágicos. Uma CPCJ da magia, e Linus tem como principal função garantir que as crianças são bem tratadas nestas instituições, e caso isso não se verifique, recomendar o seu encerramento. O que acontece às crianças depois, já não faz parte da sua jurisdicção, e por isso ele não sabe nem tenta saber. Mas um dia recebe como missão ir investigar um orfanato ultra-secreto, e vai descobrir que a sua vida cinzenta se calhar precisa de mais cor.

Houve duas coisas que me conquistaram neste livro. A primeira é sem dúvida o sentido de humor que está imbuído. Dum modo muito diferente, mas fez-me lembrar o À Boleia Pela Galáxia. Dei por mim com um sorriso na cara muitas vezes. A outra coisa que gostei foi da naturalidade com que a história fluiu. Muitas vezes parece que há personagens/situações que são colocadas na história “a martelo”, para fazer o livro estar mais dentro dos valores actuais, e isso não me deixa apreciar a história como ela é. Mas aqui tudo é natural, tudo flui, tudo faz sentido sem esforço. As personagens são fabulosas, e carregam toda a história que não tem nada de original, mas que é bonita e aquece o coração.

Se ainda não leram, eu recomendo muito, acho que vão passar umas boas horas, com um sorriso no rosto e um quentinho no coração.

Rumo ao próximo, até lá Boas Leituras!

Goodreads Review

I usually don’t like reading books that are trending because I have a predisposition to dislike them. Sometimes I am right, as it recently happened with The Seven Husbands of Evelyn Hugo, but in many cases I am wrong, as was the case of Bear Town, that I loved. This book was in the Bear Town category.

The House in the Cerulean Sea is a cosy fantasy. Like a warm blanket on your heart, instead of a head full of elf races and endless battles. I like both versions, but lately I’m more inclined to read simpler things, as there is a lot of beauty in simplicity.

And there was a lot of beauty in Linus Baker story. He is a case at the Department in Charge Of Magical Youth, DICOMY, a government agency that overseas the orphanages for children with magical abilities. His main job is to ensure that the children are well taken care off, and don’t suffer any abuse, and if that happens, he recommends said orphanage to be shut down. What happens after that is no longer his responsibility, and will be taken over by other departments. But one day he receives a very important mission, to conduct an investigation on a top-secret orphanage, with very special children and a unique master, and that will lend some colour to his otherwise grey life.

Two things grabbed with this book. First its sense of humour that permeates every page. Reminded me of The Hitchhikers’ Guide to the Galaxy, albeit being very different, and I had a smile on my face for most of the time. I also enjoyed the easiness with which the story flows. In some books we see characters or situations that are there mainly as conduit for the author’s ideas, or as a way to make the book trendier but that does not happen here. Everything makes sense, all has a purpose, everything flows naturally. The characters are fabulous and carry the story, that is not incredibly original but beautiful and endearing.

If you haven’t read it yet, I highly recommend it. It will warm your hearts and fill a couple of hours with much joy.

On to the next, until then Happy Reading!

Acabei de Ler – The London Séance Society

london seance society

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Mais ou menos há um ano li o romance de estreia de Sarah Penner, O Segredo da Boticária, e gostei. Não foi extraordinário, mas foi bom para passar o tempo, a parte histórica estava bem escrita e o ambiente da época estava bem descrito e bem criado. Por isso, quando apareceu o segundo livro da autora no Netgalley resolvi embarcar na aventura.

The London Séance Society é uma espécie de thriller histórico, passado em Londres em 1873. O ambiente está mais uma vez muito bem descrito, e é a melhor parte do livro. Conseguimos, sem esforço, visualizar ruelas sujas, estreitas e empedradas, miúdos de cara suja, e quase sentimos o cheiro nauseabundo do rio Tamisa. Neste cenário ocorreram dois assassinatos. O do presidente da London Séance Society, um clube só de cavalheiros dedicado às artes espiritualistas, coisa muito em voga na Londres vitoriana, e o de Evie, a irmã da nossa protagonista, que também era uma crente fervorosa do ocultismo. Leena tenta desvendar o mistério da morte da sua irmã, e para isso vai estudar com a médium mais famosa da altura, Vaudeline, que é perita em desvendar casos de homicídio. O que se segue é uma história interessante, com mistério, suspense, e muito ambiente gótico.

A primeira reviravolta do livro era muito óbvia, mas creio que isso foi propositado. As outras foram coerentes e fizeram sentido. A história estava bem construída e foram umas horas bem passadas a desenrolar este mistério com um pano de fundo tão interessante. Recomendo a todos os que gostam de ficção histórica, e de um bom mistério.

Boas Leituras!

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Close to a year ago I read Sarah Penner’s debut novel The Lost Apothecary and I liked it. It wasn’t extraordinary, but it was entertaining, the story was well told and the ambiance was great. So, when her second novel was made available on Netgalley, I did not hesitate.

The London Séance Society is an historical thriller set in the Victorian London, more precisely in 1873. Again, the ambiance was perfectly created and is indeed the best part of the book. I could easily envision London’s dirty, narrow alleys, filled with children with dirty faces, and smell the foul Thames River. It was in this setting that two murders occurred. The president of the London Séance Society, a gentleman’s club that dwells in the occult, which was very fashionable at that time, and Evie, our protagonist’s sister, also a believer in these arts. Leena tries to find out the truth about her sister’s death, and to do so she enlists the help of Evie’s former teacher, Vaudeline, a French medium, very famous for solving murder mysteries. What comes next is an interesting gothic story, filled with mystery and suspense.

The first plot twist was very obvious, and almost threw me off, but I soon realised it must have been done on purpose, so I persevered and ended up enjoying myself a lot. The plot was well constructed and I spent a few hours unravelling this mistery with such an interesting background. I recommend to everyone who likes historical fiction and a good mystery murder.

On to the next, until then Happy Reading!

Acabei de Ler -Acts of Service

acts of service

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Acho que depois de ler muitos romances seguidos fico demasiado xaroposa e tenho que encontrar coisas para contrabalançar. Foi essa premissa que me levou até este romance de estreia de Lillian Fishman, sobre o qual li e vi bastantes opiniões que me deixaram curiosa.

À semelhança do livro de Otessa Moshfegh, My Year of Rest and Relaxation, que li algures já este ano, aqui também parece que não se passa muito em termos de história. No entanto, passa-se imensa coisa, nomeadamente dentro da nossa cabeça. Eve tem uma vida pacata, uma namorada há bastante tempo, um emprego num café, no entanto sente-se inquieta e descontente com algo. Depois de postar algumas fotos suas online, conhece Olivia e, através dela, Nathan, que vão passar a fazer parte do seu quotidiano dum modo quase obsessivo.

Este triangulo, sexual mais que amoroso, vai fazer Eve questionar tudo sobre si própria, a sua relação, a sua (falta de) ambição de vida. Aquilo que ela sempre julgou ser, lésbica, activista dos direitos das mulheres, é agora posto em causa pelo lugar que ela encontra com Nathan e Olivia. Ela sabe que há algo muito errado na sua relação com Nathan, mas continua a voltar como uma traça atraída pela luz.

É no meio destes momentos de intimidade que se passam muitas conversas sobre sexualidade, identidade, o trabalho como algo que nos define, relações laborais e pessoais, o que é abuso e o que é auto-confiança. Foi um livro estranho, mas é daqueles que fica na nossa cabeça por algum tempo, e que nos faz questionar muita coisa.

Gostei muito, recomendo a todos os que gostam de uma boa história e que não se impressionam com copiosas quantidades de cenas sexuais.

Boas Leituras!

Anytime I want, I can forsake this dinner party and jump into real life.

Goodreads Review

After reading too many romance novels in a row I become too syrupy and need to find different things to balance me up. This was what lead me to this debut novel by Lillian Fishman, after reading and watching many online reviews.

Same as Otessa Moshfegh’s book, My Year of Rest and Relaxation, that I read earlier this year, the plot doesn’t seem to be much. There aren’t many things going on, apparently. However, there are a lot of things happening, mainly inside our heads. Our protagonist, Eve, has a normal, boring life, a steady girlfriend of many years, a job in a café as a barista. But she is also restless and one day she posts some nudes on a website, not quite sure why. As a result, she will meet Olivia, and that leads to meeting Nathan. Both of them will start to be a part of her life, almost in an obsessive way.

This triangle, sexual more than romantic, will make Eve question everything about herself, including her relationship and her (lack of) ambition. All the things that used to define her, being lesbian and a women’s rights activist, for example, is now confronted by her relationship with Nathan and Olivia, and the place she occupies in it. She senses there is something deeply wrong in their love triangle, and in her submissiveness to Nathan, but she keeps coming back, as a moth attracted to the light.   

It’s amidst their intimate moments that many important conversations go on. Reflections on identity, sexuality, work as something that defines us, work vs personal relations, what can be considered abuse and what can be considered assertiveness, and all the grey lines in between. This was a strange book, that stayed in my thoughts for a long time.

I really liked it and recommend it to anyone who loves a good story and doesn’t get put off by an abundance of sex scenes.

Happy Reading!