Mértola é já ali em baixo

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Uma das primeiras vistas com que o Guadiana nos brindou

No sexto dia voltámos ao passeio. Tínhamos visto na previsão do tempo que seria o dia menos quente, ideal para as subidas e descidas de Mértola. Sim, que isto de ter começado o Outono não se aplica ao país todo, e o interior alentejano ainda não tinha baixado dos 30.

Mas rumo a Mértola cedinho, que havia muito para ver. Mal entramos na parte velha de Mértola somos brindados com magníficas vistas sobre o Guadiana. A vila é deslumbrante, e as vistas bonitas não nos largam, quer seja sobre o rio, quer seja sobre o Alentejo a perder de vista. É um sítio encantador e muito fotogénico. Dentro das muralhas, começamos por visitar a igreja matriz, que já foi uma mesquita e isso está bem patente na sua arquitectura. Desde os motivos que adornam a porta, à sua forma quadrangular, tudo espelha o seu passado. Seguimos para a alcáçova, mesmo nas traseiras da igreja, por indicação da simpática funcionária da igreja. Tudo estava bem explicado e o caminho a seguir bem traçado para desfrutarmos e aprendermos o mais possível. Calçado confortável recomenda-se, muita água e um chapéu na cabeça que o sol, mesmo de fim de Setembro, não perdoa.

Depois, rumo ao castelo. Hajam pernas para o sobe e desce, mas somos recompensados com uma vista ainda melhor sobre o Guadiana. O castelo em si não é grande, mas está bem conservado, e tem um museu dentro da torre de menagem. Por 2€ pode subir-se e ver-se o museu. Afiança o Peixinho Vermelho que vale a pena, eu alturas dispenso e fiquei a descansar à sombra, juntamente com uma excursão de brasileiros que estavam deslumbrados com os bolinhos de bacalhau e não conseguiam falar de outra coisa.

Depois do Castelo, foi caminhar sem destino pelas ruas estreitas da zona muralhada enquanto o calor deixou. Fomos ter à Câmara Municipal que alberga dentro dela uma casa romana que se pode visitar gratuitamente. À semelhança do que podemos encontrar no núcleo arqueológico da Rua dos Correeiros em Lisboa, onde escavações para ampliação do edifício do Millenium BCP deixaram à vista belíssimos vestígios romanos que hoje podemos visitar de borla, sucedeu exactamente o mesmo com as obras na câmara de Mértola e por isso tivemos acesso a mais este pedaço de história. Eu gostei particularmente dos unguentários de vidro, muito delicados. No site da Camara Municipal podemos encontrar mais informação sobre os vários núcleos expositivos.

Estava na hora de almoçar e tínhamos escolhido um restaurante de inspiração mediterrânica com vista para o Guadiana, chamado Terra Utópica. Dificilmente poderia ser melhor. À entrada somos recebidos pela música de Lhasa, sem dúvida das minhas cantoras favoritas. Depois toda a casa estava lindamente recuperada e decorada com antiguidades como se fosse um museu dentro da vila museu. Primeiro que conseguíssemos decidir qual a sala mais bonita onde almoçar, e finalmente parar de fotografar demorou. O que vale é que a moça era paciente. A comida era bonita e interessante. Recomendo vivamente.

Mas o dia estava longe de ter acabado. Mesmo à saída de Mértola temos as Azenhas do Guadiana, que não é bem praia fluvial porque dizem que as correntes são perigosas e o leito escorregadio, mas que se tivéssemos levado fato-de-banho acho que não íamos resistir. A paisagem é deslumbrante, um antigo açude com umas velhas construções que serviam para moer cereais, e hoje em dia são habitação duma panóplia de aves, insectos e peixes de meter inveja ao Nelson Évora. Foram momentos muito bem passados e voltaremos mais bem equipados uma próxima vez.

Assim sendo o banho teve de ficar na nossa praia já conhecida, onde acabámos o dia a refrescar e a ver o por do sol. A aventura estava a chegar ao fim, mas este foi sem dúvida um dos meus dias favoritos.

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A Igreja Matriz
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O interior da Igreja Matriz
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A alcáçova, núcleo islâmico por trás da Igreja Matriz
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O Castelo de Mértola
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O Guadiana sempre a nosso lado. 
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O terraço do restaurante, ideal para fins de tarde. 
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Pormenor da decoração do Terra Utópica
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O nosso almoço
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As Azenhas do Guadiana
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Ainda as Azenhas
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Nunca andar sem fato de banho… 

Ler à Sombra das Palhinhas

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Outra vista da tapada que vimos numa das caminhadas

Os dois dias seguintes foram de descanso apenas. Manhã de caminhada pela aldeia a tentar conhecer o mais possível, ou ver pássaros típicos do interior alentejano, e depois na sesta praia fluvial.

A calma retornou ao local e conseguimos desfrutar de tranquilidade e despachar alguns livros à beira de água. Na realidade nestas férias vimos imensas aves diferentes e bonitas, como gaios, poupas e até umas abetardas passaram à frente do nosso carro, mas todas se esconderam diligentemente de cada vez que saí de casa de câmera em punho. Terão de acreditar na minha palavra.

O dia seguinte seria novamente de passeio, que ainda havia muitos tesouros escondidos por descobrir, venham até cá para saber tudo.

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Há vestígios de estruturas da mina escondidos por toda a parte
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Apesar do calor, as cores do Outono já se insinuavam.
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O sol a pôr-se nas traseiras da aldeia.

Finalmente, a Mina

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As Oficinas, mesmo à entrada das ruínas da Mina.

E ao terceiro dia seria tempo de descansar? Ainda não.

Ora um dos motivos de interesse de estarmos na Mina de São Domingos é exactamente o que lhe deu o nome. Por isso toca a levantar cedo (mais coisa menos coisa) e ir conhecer as ruínas da Mina, que além de tudo são um local interessantíssimo para fotografar. A mina esteve em laboração muito tempo, mas as edificações que se podem ver pertencem ao período em que foi explorada pela empresa inglesa Mason & Barry, de 1858 a 1966. É também um bom local para observação de aves, principalmente a zona da Achada do Gamo (ficará para outras núpcias)

Se pensarem visitar a mina aconselho alguma investigação prévia. Por exemplo aqui encontram um mapa do local e aqui encontram mais informação. Isso evita que andem como nós, baratas tontas debaixo dum sol escaldante, já que a informação no local é escassa, está dispersa e por vezes em locais pouco intuitivos. Regressámos sem nunca ter visitado a parte que está na Achada do Gamo, mas isso é apenas mais uma razão para voltarmos. Aconselho também calçado confortável. Eu tinha umas sandálias de caminhada e chegou, mas se tivesse ido de havaianas não me tinha dado bem, que o terreno é acidentado e cheio de coisas perigosas. E como sempre, muita água, que o sol alentejano, mesmo em meados de Setembro, não é para brincadeiras.

De resto têm diversos percursos que podem seguir, imensas ruínas interessantes. Fico sempre fascinada a pensar como seria tudo aquilo quando a mina estava em plena laboração e havia um caminho de ferro, uma indústria, importavam-se trabalhadores. Aconselho vivamente uma visita.

À tarde fomos finalmente espreitar a praia fluvial e a aposta foi ganha. Passada a euforia do fim de semana associado a fim de quinzena, ao que se juntou o fim da época balnear, o Peixinho estava no seu elemento, um sítio calmo e com pouca gente. A praia é muito arranjadinha, com chapéus de palha gratuitos à disposição, a água muito limpa e a envolvente bonita. Pessoalmente tinha dispensado a RFM toda a tarde aos berros na esplanada, mas nos dias seguintes fui para uma palhinha mais longe e isso deixou de ser problema. A Tapada Grande, nome dado à albufeira, foi também legado deixado pela empresa mineira, que precisava de muita água para o seu processo de extração de minério.

Mas assim ficámos o resto da tarde pacatamente a retemperar forças. Os próximos dias não iriam ser muito diferentes disto, passadas debaixo das palhinhas a ler preguiçosamente os livros que trouxemos na mala. Venham até cá que conto-vos tudo.

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Um pormenor da zona das oficinas
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A corta, zona que era explorada a céu aberto em diversos patamares e que está hoje cheia de águas ácidas e contaminadas
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Um pormenor da água que enche a corta
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O malacate, engenho hidráulico que servia para retirar água da zona de corte.
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Malacate
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As oficinas
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O cais da mina
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A central eléctrica
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Fim de tarde, recuperar forças na praia fluvial.

Serpa é já ali em cima

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A típica paisagem alentejana que nos acompanhou em todos os passeios.

Como disse no dia anterior, mais uma vez comecei as férias doente. Desta vez, num almoço fora ainda no trabalho apanhei uma virose qualquer que me fez ficar com um piquinho de febre e uma relação muito próxima com todas as casas de banho dos sítios onde íamos parando na viagem. Neste segundo dia acordei mais arrebitada, já sem febre, e pronta a ir rumo a Serpa, para juntar um dia de passeio com as necessárias compras. Mas primeiro faríamos um desvio até ao Pulo do Lobo.

Desde os tempos de faculdade que tinha curiosidade em conhecer este acidente geológico, onde o poderoso Guadiana é estrangulado numa cascata de pouco mais de um metro de largura, tão estreita que um lobo poderia atravessar de um salto, e daí o seu nome. Indo pelo lado de Serpa, como nós fomos, encontramos uma paisagem imponente, mas para chegar à cascata propriamente dita ainda é uma caminhada íngreme por mau caminho. Noutras circunstâncias teríamos ido lá abaixo, mas estava muito calor, estávamos sem água, e ficámos a meio caminho. Mas dava para ver que indo por Mértola se fica mais perto de água. Fica para a próxima. No entanto, valeu muito a pena pelo cenário que encontrámos, dramático, e como estávamos do lado “errado”, tivemos a vantagem de estarmos praticamente sozinhos a desfrutar daquele pedaço de paraíso. Um luxo nos dias que correm.

Paragem seguinte, Serpa. Já era perto da hora de almoço e eu já estava furiosamente a pesquisar restaurantes, acabámos por ir parar ao Alentejano, depois de termos sido rejeitados sem cerimónia pelo Molhó bico, e de eu ter andado a fazer um circuito de WC de cafés pelo centro da vila (todos limpinhos, fiquei impressionada). O Alentejano foi uma categoria, com umas belas bochechas de porco estufadas, que obviamente não devia ter comido, mas fui incapaz de resistir. Ao menos caíram bem. O pão de rala da sobremesa não impressionou, mas se calhar foi pelo meu sentimento de culpa a comê-lo.

Depois foi passear pelo centro de Serpa, o seu Castelo, o aqueduto, caminhar nas muralhas. Vale muito a pena, é muito bonito. O museu no castelo está muito bem conseguido, com um filme explicativo de muita qualidade e que vale a pena perder 5 minutos a ver. É incrível como cada vez mais por este Portugal interior se encontram equipamentos muito bem conseguidos (obrigada fundos comunitários bem aplicados por gente com vontade) que nos ajudam a perceber a nossa história, geologia, biologia. Pena não haver mais gente a desfrutar deles, que na maioria das vezes são gratuitos ou a preços irrisórios.

Depois duma tarde a desmoer bochechas e pão de rala debaixo do sol inclemente do Alentejo, hora de voltar para o ponto de partida. Deixo aqui nota alta para a qualidade das casas de banho, nas quais fui parando frequentemente. Dia seguinte, mais passeata.

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O Pulo do Lobo, aquela garganta estreita ali ao fundo
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As bochechas, deliciosas.
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Hilarião, hilariante. Cada terra com seu santo.
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E com o seu motivo de orgulho.
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Estive tão tentada a usar o elevador. Mas acabei por ter vergonha.
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Uma vista dos telhados circundantes, uns mais criativos que outros.
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Alentejo até perder de vista.
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O interior do Castelo, depois de termos passeado pelas muralhas.
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Cá fora, rodeando Serpa, o Aqueduto. Impressionante.
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Ainda o Aqueduto.

Rumo a Sul

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A igreja da aldeia

Depois de ter começado a ilustrar estas férias exactamente pelo fim, está na altura de voltar ao principio, e esse foi há já algum tempo, mais concretamente um sábado a meio de Setembro.

Finalmente era tempo da última prestação das férias deste ano, e mais uma vez íamos para fora cá dentro. Este ano tínhamos pensado em conhecer zonas novas, e Mértola já há muito que andava na nossa mira. Acabámos por nos decidir por Mina de São Domingos por causa da praia fluvial, já que peixinho que se preze tem de estar ao pé de água.

Como sempre, investigamos a zona previamente, porque faz parte do prazer da viagem, e tracei um plano para as férias, completamente flexível e adaptável ao que fôssemos encontrar e ao que nos apetecesse fazer na altura. Sábado saímos directamente do tai chi para 3 horas de viagem para o remoto interior do baixo Alentejo. A viagem foi muito agradável, o calor de Setembro é mais reconfortante que abrasador e tudo decorreu com tranquilidade, apesar das cegonhas já terem partido.

Mas quando chegámos ao destino esperava-nos uma surpresa. O sitio que antecipavamos que fosse calma e pacatez, estava cheio que nem um ovo. Imaginem conduzir 3h por estradas semi desertas e no fim chegarem à Fonte da Telha num domingo de Agosto. Foi o que nós sentimos. Ainda fomos à esplanada da praia fluvial beber uma água, mas não havia 1 cm de areia disponível, nem vontade de entrar na confusão. A própria água tinha mais pranchas de padel e gaivotas que pessoas.

Teríamos de mudar os planos. O domingo não ia ser passado tranquilamente na praia, até porque supermercado só a 40 km, por isso o dia seguinte seria de passeata.

Por agora, foi voltar para o que seria a nossa casa nos próximos dias e recuperar a forma, até porque pela milionésima vez este ano, estava a começar as férias doente.

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A vista da nossa casa.

Miró e os Livros

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Pormenor duma tela, ou como o Miró afinal conhecia o Peixinho. 

Resolvi começar a contar as minhas aventuras destas férias exactamente pelo fim, que foi o dia de hoje. Depois de uma semana no Alentejo com alguns contratempos pelo meio, esta manhã decidimos ter um tempo cultural. Já que tinha perdido a exposição do Miró em Serralves, desta vez não quis deixar escapar a oportunidade de a ver na Ajuda, por isso foi por lá que começámos o dia.

A exposição não é grande, apesar de ter 85 obras, mas creio que é bastante representativa de vários momentos da evolução deste pintor. O enquadramento dado pelo Palácio da Ajuda é também uma mais valia, uma espécie de casamento entre o antigo e a modernidade. Eu gostei muito, mas também seria difícil não gostar já que sou uma grande fã de Miró desde que via reproduções de quadros dele nas paredes da casa dos meus padrinhos. Por isso, para mim, está sempre associado a boas recordações. Achei também que era adequado no meio de tantas convulsões independentistas catalãs ver um pintor que era conhecido pelo seu orgulho catalão.

Depois da exposição vista, aproveitámos estar na zona para irmos até à Festa do Livro em Belém, mais para aproveitar e conhecer os jardins do Palácio de Belém, onde nunca tínhamos ido, do que propriamente comprar livros. Pelo menos, esse era o propósito inicial, juro que tinha a firme ideia de não comprar nada, mas foi claramente prova não superada. Eu e as pechinchas, ainda para mais quando aliam livros e viagens. Não resisti. Mas gostei muito da iniciativa, os jardins são lindíssimos, o facto de só estarem à venda autores portugueses foi um apontamento muito curioso e pertinente, o ambiente esta óptimo, ainda para mais com o Grupo Dixie da Banda da Armada que nos acompanhou durante todo o tempo que lá estivemos foi um bocado muito bem passado. Se forem ao Instagram do Peixinho vêm um bocadinho da atuação.

Cereja no topo do bolo foi que pudemos sair pelo Jardim Botânico e Tropical e ainda dar um pequenino passeio por lá, desfrutando das sombras e dos recantos escondidos.

A Festa do Livro está só até hoje, mas o Palácio de Belém e o Jardim são visitáveis noutras alturas e eu aconselho vivamente.

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A Festa do Livro, com a banda lá ao fundo.
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Depois vos digo se valeu a pena 😉

Sandman, A Tempestade dos Sonhos

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Parece-me apropriado depois de ler os livros do Sandman Slim, voltar ao Sandman original, o senhor dos sonhos, neste que é o oitavo volume da sua colecção de histórias.

Desta vez seguimos Brant Tucker que se perde numa tempestade e vai ter a uma estalagem em World’s End, onde fica preso, junto com muitos outros comensais, e todos se entretêm a partilhar histórias para passar o tempo até que passe a tempestade e possam retomar a sua viagem. Sendo isto contado por Neil Gaiman, conseguimos facilmente imaginar que cada personagem habita uma linha temporal diferente, e mesmo uma realidade muito diversa. Para intensificar essa percepção, cada conto foi ilustrado por um conjunto de artistas diferente, por isso difere também no estilo em que nos é apresentado.

Eu sou uma fã incondicional de Sandman, como já devem ter reparado, mas acho sinceramente que à medida que caminhamos para o final destes volumes as histórias vão ganhando mais consistência e maturidade, as referências a outros imaginários literários e mitológicos multiplicam-se e enriquecem a história, e com certeza que eu nem as consegui abarcar todas. O facto de ter utilizado ilustradores diferentes deu imenso caracter a esta compilação, e veio dar-lhe uma coerência quase paradoxal.

O final deste livro é também dos mais poderosos que já li até agora em toda a saga do deus dos sonhos. Depois de todos terem contado as suas histórias (as minhas favoritas foram as duas primeiras), todos os que estão presos na estalagem assistem à passagem dum cortejo fúnebre no céu, imponente, com figuras gigantes no meio das estrelas. A encabeçá-lo vemos o Destino (como se nos mostrasse que no final de tudo é ele que nos rege) e a fechá-lo vêm as irmãs Desejo e Morte. Todos os Endless estão presentes menos o nosso protagonista, por isso não nos é difícil adivinhar qual a causa do cortejo, e, consequentemente, o que causou a tempestade. A solenidade imprimida à cena, e a maneira como tudo nos é mostrado e não contado, deixou-me com um aperto no estômago, como se de um amigo se tratasse.

Gostava também de deixar aqui uma nota para a introdução que foi feita por Stephen King. Nestes livros as introduções são quase sempre muito longas, e pecam muitas vezes por serem demasiado explicativas e quase anteverem toda a trama que se vai seguir. Por várias vezes que as abandonei para ler apenas no final, ou nem isso porque não tive paciência. Mas esta introdução revela que Stephen King é um grande escritor, mesmo numa tarefa tão simples como fazer uma abertura para um outro livro. Sem revelar nada que não deva ser revelado, ele aguça-nos a curiosidade e espicaça-nos a vontade de ler o mais rapidamente possível aquilo que temos nas mãos, chamando subtilmente a atenção para pormenores que poderiam passar despercebidos. Gostei muito.

Como sempre, recomendo a todos os que gostam de banda desenhada, mitologia, boas histórias e boa literatura em geral. Deixo-vos com um cheirinho.

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Finalistas Man Booker 2017

Man Booker 2017

Foram finalmente anunciados os finalistas do prémio Man Booker deste ano, duma lista previamente divulgada. Até agora apenas li o da Ali Smith, que gostei bastante. Paul Auster por algum motivo não me parece apelativo. Os outros acho que são definitivamente uma boa recomendação.

Segundo o painel de jurados: the novels, each in its own way, challenge and subtly shift our preconceptions — about the nature of love, about the experience of time, about questions of identity and even death. 

O vencedor será anunciado a 17 de Outubro e cá estaremos para dizer quem foi.

De volta ao Sandman Slim

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Pois que às vezes o difícil é começar. Como tinha dito há uns dias atrás, descobri por acaso que o Richard Kadrey tinha editado mais dois volumes da história do Sandman Slim, aka James Stark, e devorei-os num sopro.

O último volume que li tinha acabado duma maneira muito abrupta e deixou-nos literalmente pendurados num precipício vertiginoso, por isso ainda bem que tinha mesmo à mão o volume seguinte para poder prosseguir a história. E felizmente o autor não desilude e pega mesmo onde nos deixou, resolvendo a trama muito habilidosamente. Mas ao mesmo tempo dá uma volta de 180º à história, e põe-nos numa cruzada ao melhor estilo Mad Max, com um comboio de veículos a percorrer Tenebrae, o mundo de trevas às portas do Inferno.

Aqui vamos encontrar velhos amigos de James Stark, a guerra entre diferentes facções angélicas continua a pontuar a trama, os diálogos continuam a ser violentamente cómicos e a acção é rápida e intensa. James não desilude, continua a destruir roupa a cada 10 páginas, e Samael/Lucifer continua a ser o anjo mais interessante da criação. O livro devora-se numa vertigem até culminar num final que nos vai deixar novamente de queixo caído, mas desta vez ainda não há volume seguinte à vista.

Resta a consolação que não estamos a lidar com George R.R. Martin e sabemos que com certeza teremos continuação da história para breve. Como sempre, recomendo a quem gosta de livros de fantasia de inspiração motard.

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