Acabei de Ler – O Deslumbre de Cecília Fluss

joao tordo

Devia ter criado uma hashtag e um desafio para esta coisa de passar Dezembro a ler em português, não devia? E dinamizar a iniciativa no Instagram e assim. Mas agora é tarde, e também gosto de deixar as coisas assim, íntimas, entre a meia dúzia de amigos que vem até aqui dar uma olhada. Sintam-se especiais, porque o são!

Depois de acabar este livro do João Tordo percebi que havia aqui claramente um desvio nos livros escolhidos. Já vamos em 3 homens para uma mulher, rácio que pode ser interessante nalgumas coisas da vida, mas não necessariamente nesta. Não tiremos nenhuma ilação discriminatória, porque não a há. A ideia era despachar coisas que já tinha cá por casa, e estas eram as que andavam aqui a apanhar pó. Também tenho a minha quota parte de mulheres por cá, mas mais já lidas que por ler. 

Considerações à parte, lá voltei a uma estreia, desta vez João Tordo. Sei que este é o terceiro volume duma trilogia, mas era o que havia, e parece que as histórias não estão ligadas. Tive que desligar um bocadinho a ansiedade que isso me provocou, mas de todos os livros que tinha disponíveis era o que mais me apetecia, por isso lá foi. 

Cecilia é a irmã mais velha de Matias Fluss, o personagem principal deste livro. É uma adolescente de 16 anos, que luta com aquelas coisas que nos apoquentam na adolescência. Quem somos, o que é o amor, que rumo vai tomar a nossa vida? Luta também com uma certa angústia de viver, mais conhecida como depressão. Matias e Cecilia são próximos, a mãe lida com os seus próprios problemas, e o outro único membro da família é o tio Elias, que está a ficar louco. O foco principal deste livro é mesmo a saúde mental. 

Até agora, este foi o meu livro favorito de todos os que li. Adorei a escrita do João Tordo, poética mas directa, uma história fluida e que se revela aos poucos. E mesmo que se vislumbrem algumas das revelações finais durante o livro, o importante foi mesmo a jornada até elas. Todos os personagens eram maravilhosos, bem construídos, mesmo aqueles que tiveram um papel mais secundário. Todo o livro gira à volta de doença mental, demência e como os acontecimentos da vida despoletam coisas em nós. Um tema pesado, mas que foi muito bem trabalhado. Um livro ao mesmo tempo triste, mas doce, e um relato muito convincente do que é sentir as nossas capacidades a escapar-nos por entre os dedos. Infelizmente, as pessoas com doença mental nem sempre são tratadas com a dignidade que merecem. É difícil lembrar que por trás de alguns comportamentos está uma pessoa cuja dignidade deve ser preservada e mantida, e isso é um tema que me é muito querido. Gostei muito da forma como a mensagem passou neste livro, e só por isso acho que vale a pena lê-lo.

Sem dúvida o melhor dos 4 portugueses que li até agora, recomendo muito e irei com certeza procurar ler mais livros do autor. Dezembro está quase a chegar ao fim, terei tempo ainda de ler mais um português? Vamos descobrir. 

Até ao próximo, Boas Leituras!

Goodreads Review

 

 

Balanço de 2022

montanha russa

Chegou aquela altura do ano em que é esperado uma reflexão sobre os 12 meses que passaram, e obviamente que eu não sou excepção. 2022 foi um ano cheio de livros. No momento em que escrevo isto estou a acabar o 74º, o que acho que é um record pessoal. Foi sem intenção, eu própria não sei como fiz isto, mas cheira-me que comprometi muitas horas de sono em troca da gratificação rápida de mais umas páginas. Li mais de 23 mil páginas, e em média cada livro tinha 319. Apenas 5 tiveram direito a 5 estrelas, e todos foram falados aqui:

Mrs Death Misses Death

Dune

The Last Rhinos

Bear Town

At Night All Blood is Black

Tinha quatro projectos para este ano, e apraz-me dizer que (quase) não cumpri nenhum, isso sim a verdadeira tradição que tenho mantido todos estes anos de blogue. 

  • Ler mais um volume da Roda do Tempo, no caso o oitavo volume, The Path of Daggers – Não li, e não se alguma vez mais pegarei nesta série. Li o desfecho da história numa página da internet, e acho que me chega. Apesar de andar numa fase em que me apetece imenso ler fantasia, não consegui ultrapassar o facto das personagens femininas nesta série serem sempre irritantes, numa tentativa falhada de construir personalidades fortes. Também não me caiu bem o tratamento infantil que o autor escolheu dar à violação dum personagem, por isso não consigo imaginar-me a ter prazer com a continuação desta leitura. Como ainda por cima não vi a série da Amazon Prime, caso encerrado, sigamos para paragens mais prazerosas. 
  • Ler autores portugueses. – Este objectivo esteve longe de ser atingido mesmo até ao fim do ano, mas uma forcinha final e um Dezembro dedicado apenas a leituras lusas vieram equilibrar um bocadinho as coisas. Foi uma experiência que me deu muito prazer, a repetir. 
  • Ler as BDs que ainda tenho aqui por casa que não lhes peguei.  – Pois, é isso. Ficará para 2023. 
  • Ver menos Booktubes. –  Os vídeos sobre livros no Youtube enchem-me duma coisa chamada FOMO, Fear Of Missing Out, e aumentam imenso a minha lista de leituras. Mas por outro lado vão-me mantendo actualizada nas coisas novas que andam por aí, por isso será sempre uma questão de equilíbrio. 

No geral, 2022 foi um ano em cheio. Não espero que 2023 traga a mesma quantidade de leituras, mas fico contente com algumas horas de entretenimento puro e mais uma mão cheia de livros de 5 estrelas. 

Desejo um 2023 muito feliz a todos, com muitos projectos e objectivos para realizar, mas pouca ansiedade no caminho até eles. 

Boas Leituras!

 

 

Os Domingos de Lisboa

pedro mexia

«Os domingos de Lisboa são domingos
terríveis de passar», mais terrível
este verso ter quarenta anos.
Tenho menos de quarenta, prazo
de alegrias, mas ao domingo
é plos domingos que tenho tristeza.
Os domingos em que não soube
e se soubesse não seria diferente,
os domingos de pó e naftalina.
Os domingos sem pão e sem
correio, dia do Senhor
que morreu à sexta-feira.
Os domingos de arrumações,
de matutinos do mês passado,
da sesta hipocondríaca na cama amor.
Os domingos decrescentes,
dia em que se envelhece, missa
para os que são de missa,
futebol para os da bola,
e para as famílias almoços
em melancólicos restaurantes,
parques e lojas onde também
estou, passeando com os olhos
os filhos, saudáveis, dos outros.
Pedro Mexia

Acabei de Ler – Jesus Cristo Bebia Cerveja

jesus cristo bebia cerveja

Continuo Dezembro adentro a ler autores portugueses, numa tentativa de expiar a secura do resto do ano. Por enquanto tenho escolhido essencialmente coisas contemporâneas, porque não ando muito virada a clássicos. E assim cheguei a este livro do Afonso Cruz, o segundo que leio do autor e que tem um título muito convidativo, como é aliás seu apanágio.

Há cerca de 2 anos, quando li O Pintor Debaixo do Lava-Loiça, achei a escrita um bocadinho rebuscada, próxima de um livrinho de aforismos, cujo objectivo é guardar bonitas frases em posts do Instagram. Mas desta vez estou a ler este livro mesmo após ter terminado Valter Hugo Mãe, por isso quase achei a escrita jornalística. Não sei se efectivamente é mais escorreita neste livro que no anterior, sei que me agradou muito mais, e pôs em evidência a história, que é muito interessante e me fez deslizar pelas páginas. Ajudou também o pano de fundo ser uma aldeia alentejana, e poucas coisas existem que sejam mais literárias que uma bela aldeia no Alentejo rural. 

A história é sobre Rosa e a sua avó Antónia, que se encontra em fim de vida e cujo maior desejo era visitar a Terra Santa. E, de um modo rebuscado e com ajudas improváveis, Rosa vai concretizar o sonho da avó. Isso é basicamente a história, mas é também muito mais que isso. É uma lista infindável de personagens alentejanas, rurais, estereotípicas, e digo tudo isto como elogio. As outras personagens estão na história como a vila, o rio, o casebre, apenas para dar contexto e corpo, e tornar tudo verosímil, apesar de ser profundamente fantasioso. Quem, como eu, conheceu de perto a vida de aldeia, com todas as suas imensas qualidades e defeitos, reconhece neste Alentejo ficcionado muita realidade da nossa natureza. Ao contrário do livro anterior, todas as personagens aqui eram carne, e consegui relacionar-me com todas, mesmo a que não gostei. 

O livro para mim pecou pelas páginas finais, aquelas mesmo depois do evento final. Depois duma história tão bem construída e delineada, aquele final pareceu-me um posfácio apressado, e creio que Rosa merecia mais sumo. Não um final diferente, apenas mais bem definido. Fará sentido se já tiverem lido. 

Mas gostei muito da experiência, voltarei a repetir este autor certamente. Agora é continuar que ainda há muito Dezembro em português. 

Rumo ao próximo. Até lá, Boas Leituras!

Goodreads Review

 

Acabei de Ler – Homens Imprudentemente Poéticos

homens poeticos

Não é frequente, mas por vezes acontece terminar um livro sem perceber se gostei ou não, e sem saber muito bem o que dizer. É claro que isso nunca me deteve antes, nem vai impedir agora de me alongar sobre este livro do Valter Hugo Mãe, o primeiro que leio dele. 

Começo por uma pequena sinopse. Este livro passa-se no Japão rural de outros tempos e conta a história entre um oleiro e um artesão, que são vizinhos mas não amigos. Um faz leques artísticos, cobiçados por todo o Japão, o outro faz potes de barro que mal dão para ser usados. Cada um deles é uma descrição profunda de aspectos diferentes da mesma moeda, uma ode à natureza humana, assim como a relação entre eles, entre a sociedade que os rodeia (uma pequena aldeia do Japão remoto), e com a autoridade (um velho sábio que vem habitar a aldeia e dispensar juízos que são lei). 

A escrita de Valter Hugo Mãe é muito característica, muitas vezes apelidada de português desconstruído, e nota-se que cada frase foi polida e trabalhada até chegar ao resultado final. Há muito trabalho na criação desta história, e isso nota-se. Para mim é um tipo de escrita que confesso que não é a que mais me apela, distrai-me da história, e acabo por ter dificuldade em seguir. Eu gosto de escrita poética (basta ver que adoro poesia), mais delicada, livros diferentes, mas este já é um ponto em que acabo a reler a mesma frase várias vezes só para ver se fazia sentido. E fazia sempre, notem. 

Gostava de ter ficado mais deslumbrada e encantada com um autor que já ando a tantos anos para ler, e que parece reunir uma grande base de fãs fieis, mas simplesmente não foi para mim. A história também não me despertou grande interesse, não consegui criar empatia com nenhuma das personagens, talvez por nenhuma soar real. Se é um bom livro? É, com certeza. Se vale a pena ler? Vale, se forem avisados que o português dá luta. Mas este é daqueles livros que se ama ou odeia (ou se fica gentilmente neutra, como eu), e vocês podem amá-lo. Se vou ler outro livro do mesmo autor? Com certeza, assim que me esquecer do que passei com este. Claro, que estando a minha memória no estado lamentável em que está, isso pode ser já no mês que vem. 

Mas para já sei que vou continuar Dezembro a ler em português. Rumo ao próximo, até lá, Boas Leituras!

Goodreads Review

Homens Que Trabalham Sob a Lâmpada

Daniel Faria

Homens que trabalham sob a lâmpada
Da morte
Que escavam nessa luz para ver quem ilumina
A fonte dos seus dias
Homens muito dobrados pelo pensamento
Que vêm devagar como quem corre
As persianas
Para ver no escuro a primeira nascente
Homens que escavam dia após dias o pensamento
Que trabalham na sombra da copa cerebral
Que podam a pedra da loucura quando esmagam as pupilas
Homens todos brancos que abrem a cabeça
À procura dessa pedra definida
Homens de cabeça aberta exposta ao pensamento
Livre. Que vêm devagar abrir
Um lugar onde amanheça.
Homens que se sentam para ver uma manhã
Que escavam um lugar
Para a saída.

Daniel Faria in Homens Que São Como Lugares Mal Situados

5 Razões Para Ler Clássicos

old books

Começo por dizer que não acredito que se “deva” ler seja o que for, fora do contexto escolar. Cada um sabe o que lhe dá prazer, e o nosso tempo é demasiado precioso para o gastarmos a fazer fretes no que deveria ser lazer. No entanto, para quem se questiona se vale ou não a pena ler livros clássicos, segue aqui uma lista de boas razões para o fazer. Até porque, quem consegue resistir a uma boa lista?

  1.  Os clássicos estão bem escritos. Há uma razão para terem resistido ao passar do tempo, e normalmente essa razão é boa. São boas histórias, bem alicerçadas na natureza humana e com bom domínio da língua em que foram escritos. Se pensarmos em Shakespeare, por exemplo, até contribuíram com muitas palavras novas.
  2. Já não há (quase) nada para inventar. Coisas que nos parecem incrivelmente originais hoje em dia, são provavelmente reinvenções de coisas que já foram escritas no passado. Por vezes é bom ir às fontes, ver em primeira mão aquilo que inspira os autores contemporâneos que gostamos. Todos nós somos a soma do conhecimento que adquirimos com as experiências que vivemos, e ler um bom clássico pode ajudar nas duas coisas.
  3. Podemos aprender história, sem ler um livro de história. Cada livro é escrito com o seu tempo histórico como pano de fundo, directa ou indirectamente, por isso podemos ler uma boa história de ficção e ao mesmo tempo perceber como eram as coisas na altura em que se passava, a todos os níveis. É como uma janela para outro tempo e outra cultura, principalmente se resistirmos à tentação de julgar o passado com os olhos do presente.
  4. Enriquecer o vocabulário. Há alguns anos li um livro de Aquilino Ribeiro e foi mais complexo que a maioria dos livros que leio em inglês. Está cheio de expressões idiomáticas típicas das Beiras com pelo menos um século, e tenho a certeza que muitas foram inventadas. Mas mesmo sem este exemplo extremo, ler clássicos vai com certeza relembrar-nos palavras que já não se usam tanto, provavelmente ligadas a actividades que também já não são comuns, por isso só temos a ganhar.
  5. A definição de clássico não se resume a livros que foram escritos nas calendas gregas, em séculos distantes. O conceito de “classico moderno” é real, e inclui autores do século XX, que são bastante acessíveis e interessantes. Por isso não pensem que temos que nos perder na linguagem romântica do século XIX, ou na poesia barroca, para se qualificar como clássico. Kurt Vonnegut, por exemplo, que eu costumo ler com alguma frequência e recomendo, já se enquadra nesta categoria.

Espero que tenham ficado com o interesse desperto para pegar nalgumas obras mais antigas que tenham ai por casa, e se quiserem uma lista de livros clássicos que nos podem despertar o interesse, é só dizerem.

Rumo ao próximo. Até lá, Boas Leituras!

We Will Replace Lost Lovers

raquel

Não vou perder tempo a procurar amores perdidos,
perdidos na adolescência, na praia,
na floresta, noutros olhos, noutras bocas, noutros corações,
vou ao funeral, levarei flores, as preferidas, três dias de luto,
vou guardar só as boas memórias, as memórias boas,
vou deixar doer até a dor desaparecer,
morrer à míngua como sem água uma planta num vaso,
vou visitar velhos amantes,
jóias sem par, de pôr e tirar,
brincos, botões de punho, anéis de pedras perdidas,
camas onde tenho sempre lugar,
corpos que me protegem em concha,
bocas que beijam os meus defeitos,
vou olhar com olhos em cio todos os habitantes da cidade,
e no olhar mais brilhante encontrar um novo amante,
a quem vou, uma vez mais, chamar amor
e amar, poro a poro, sem pudor e sem decoro,
como um dia amei os meus amores perdidos.

Raquel Serejo Martins

#NovembroQuente

novembrofrio

Depois dum Outubro quentinho e com poucas histórias de terror, em Novembro esperava-se o tempo frio para nos enrolarmos com mantas, chás e livros. Mas as alterações climáticas vieram para ficar, e Novembro esteve mais próximo da manga curta que das mantas. Vamos ver o que Dezembro nos reserva, que o meu sonho é passar um Natal tropical, mas a ideia era ser fora de Lisboa.

Este Novembro li 5 livros, com coisas muito interessantes pelo meio. Comecei com uma ficção histórica passada na época vitoriana, numa Londres fria, escura e cheia de mistérios, ainda a dizer adeus ao espírito do Halloween. Foi um excelente começo, que falei aqui. Depois entretive-me a ler livros que foram muito falados em anos passados, mas que ainda não me tinha apetecido pegar. Normalmente acabo por me desiludir porque vou cheia de expectativas que nunca são correspondidas. No entanto este mês não me desiludi, e sou capaz de continuar com esta tendência nos meses que se seguem. Desta vez “despachei” A Casa no Mar Cerúleo, que gostei muito, e O Clube do Crime das Quintas-Feiras, que foi bom mas ficou um bocadinho aquém. Para ambos os autores, já tenho os próximos livros à espera no Kindle. Claro que podem lá ficar anos a ganhar pó, conhecendo-me como conheço.

Pelo meio ainda consegui ler dois romances do Netgalley, mas que foram tão inconsequentes que nãovos conseguiria dizer a sinopse de nenhum deles sem ajuda do Goodreads. Mentira, um deles foi tão mau que ainda me lembro perfeitamente, porque fiquei ligeiramente traumatizada. Mas foi bom, porque me fez dar uma limpeza no Kindle e apagar todos os romances do mesmo género que andavam por lá perdidos. Acho que se chamam mafia romances, e são o expoente máximo da Bad Boy trope, para a qual claramente já não tenho idade. Daria todo um post à parte, mas há guerras que não quero comprar.

Dezembro promete frio, e uma mudança na direcção das leituras. Cá virei no final do mês a dizer como correu.

Até lá, Boas Leituras!

Acabei de Ler – As Esquinas do Tempo

esquinas do tempo

Estive vários dias a começar livros e a abandoná-los quase de seguida. Nada me enchia as medidas, coisa que acontece frequentemente. É o cérebro a dizer que precisa de descanso de tantas histórias. Resolvi dar uma arrumação ao Kindle, apagar coisas que já li ou que nunca vou ler e foi depois da casa arrumada que peguei neste livro da Rosa Lobato de Faria. Nunca falha, esta senhora. Já aqui falei de outros dois livros dela que li (Os Três Casamentos de Camilla S. e Romance de Cordélia), e a minha opinião continua a ser a mesma. Como é possível que ela não tenha mais leitores?

Este Esquinas do Tempo é um bocadinho diferente dos anteriores, talvez se possa dizer que é realismo mágico. Margarida é uma mulher independente do século XXI, professora de matemática, solteira, que vai dar uma palestra ao norte. Fica hospedada num antigo solar, estranho e fantasmagórico, e quando acorda no dia seguinte percebe que andou 100 anos para trás. Continua a ser Margarida, com as mesmas duas irmãs, mas é agora uma donzela rica, filha de boas famílias. E é ao entrar neste papel que a sua vida vai mudar radicalmente.

Esta ideia que as mesmas pessoas vão aparecendo sucessivamente na história e no tempo não é propriamente nova, mas é sempre interessante quando é bem feita. E foi esse o caso. Há sempre espaço para reflexão nestas histórias da Rosa Lobato de Faria, para pensarmos na condição social da mulher, nas suas dificuldades mas também na sua resiliência e capacidade de adaptação. Tal como os outros livros, este também não tem um final de conto de fadas, apesar de ser uma história de amor. Entre outras coisas. Nos três livros que li até agora há sempre um toque de trágico, ou dramático, sem ser miserabilista.

Esta senhora escrevia muito bem, e sabe contar histórias, manter-nos agarrados até ao final. Felizmente ainda tenho alguns livros pela frente, para ir saboreando lentamente, como um bom vinho.

Recomendo muito, a todos os que gostam de ler, mesmo não sendo o meu favorito desta escritora.

Rumo ao próximo, até lá Boas Leituras! 

Goodreads Review