Finalistas do Booker International 2021

Booker International 2021

Ainda há meia dúzia de dias vim aqui anunciar a lista de nomeados ao prémio Booker International 2021 e já saiu a lista com os 6 finalistas. Isto é que é eficiência por parte destes júris.

Estes finalistas estão cheios de boas opções de leitura, coisas com aspecto de serem interessantes, mas confesso que não há nenhum este ano que me dê uma vontade louca de ler. Com tanto confina/desconfina/desinfecta o meu cérebro está numa espécie de pousio e não aguenta coisas muito elaboradas. Vou por isso guardar estas sugestões para mais tarde, eventualmente quando voltar novamente a dormir noites inteiras.

Digam-me se lerem algum que valha a pena.

Boas Leituras!

Acabei de Ler – Os Caçadores da Lua Vermelha

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Keep scrolling if you prefer to read in English

Recomendei este livro aqui há cerca de 2 anos, um livro que li há muitos anos e me iniciou no gosto pela ficção científica. Fui recentemente buscar os meus livros todos à casa que foi dos meus pais, e entre eles vinha este. Que não foi o que eu reli, porque estão neste momento todos arrumadinhos num armazém, à espera de ter espaço para os arrumar em casa, mas fiquei com o bichinho de o reler.

Aproveitei então para ler em inglês, precisamente agora que tenho estado com pouca disposição para leituras complexas, sabendo que este tinha capacidade para me animar.

E foi exactamente o que aconteceu. Dane Marsh é um velejador solitário, que se encontra no meio do Pacífico, quando é raptado por uma nava extraterrestre para ser vendido como escravo. No seu cativeiro conhece outros seres que tiveram o mesmo destino que ele, e vai formando amizades com humanos e não humanos, ao mesmo tempo que planeia como poderá escapar, dentro dum universo sobre o qual não sabe nada.

A história é simples e bem escrita, sem falhas aparentes, e faz-nos ficar colados às páginas a ver o que acontece a seguir, mesmo quando já sabemos o que vai acontecer, como era o meu caso. Apesar de ser uma releitura, coisa que faço raramente por falta de tempo, foi ainda interessante e estimulante, e não dei o meu tempo por perdido.

Por isso ainda recomendo este livro a todos os amantes de ficção científica, ou apenas que gostam duma história dinâmica e bem contada.

Boas Leituras!

Goodreads Review

Two years ago I recommended this book here on the blog as the first sci-fi book I’ve read. Recently I picked up all my old books from the house that used to belong to my parents, and this was one of them. It was not the copy I’ve now read, as those books went straight to storage waiting for me to have room to house them, but I’ve picked up an english ebook, so I could read the original version. My hope was that it could bring me back from my reading slump. 

And my hope was not in vain. Dane Marsh is a lonely sailor in the middle of the Pacific that is kidnapped by an alien spaceship to be sold as a slave. In his captivity he gets to know other prisioners, humans and not so much, with whom he bonds and starts planning his escape. To where in is unsure, and he is now in a vast unknown universe. 

It is a simple well written story, with no major flaws, despite being a bit dated. Even knowing it, it still kept me glued to the pages wanting to see what comes next, especially the twists I no longer remembered. It was interesting, stimulating, and made want to read more, which was the initial purpose anyway. 

I recommed it to all sci-fi fans, but especially to everyone who loves a good dynamic story. 

Happy Reading!

Love me Tender

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Estou cansado de pessoas.
Contudo, sentado ao balcão
e sua garrida mini-saia, Daisy
insiste em chorar sobre a quinta imperial.

Ainda bem que neste bar
não são admitidos pessoanos
(seria concorrência desleal,
convenhamos). E contudo Daisy
chora, esconde o rosto em lenços
de papel expressamente concebidos
para atenuar o desamor
e precaver a melancolia atípica.

Daisy chora, chora – e eu,
que nem disso sou capaz,
prometo a mim mesmo
deixar de sair à noite e começar
a escrever poesia metafísica.

Manuel de Freitas

Acabei de Ler – Romance de Cordélia

romance de cordelia

Começo por dizer que sou um bocadinho preconceituosa. Todos somos em relação a alguma coisa, no meu caso era em relação à Rosa Lobato de Faria. Talvez pelo seu ar sereno e altivo, eu achava que a senhora era uma aristocrata sem grande coisa para dizer que me interessasse. Claro que o facto dela ter participado em programas do Herman me devia ter chamado a atenção, mas só quando li em 2020 um dos seus romances é que percebi que estava redondamente enganada, e que não podia deixar os seus livros de lado, sob pena de perder pérolas.

Os Três Casamentos de Camilla S. foi um livro belíssimo e muito bem escrito, que mesmo assim não me preparou para o que viria a encontrar n’O Romance de Cordélia. Peguei nele porque achei o título uma delícia, este trocadilho entre romances de cordel (que li muito nas minhas férias de verão do início da adolescência, o suficiente para perceber que todos têm uma estrutura igual) e o nome da protagonista é fantástico. Depois o modo como estes romances são retratados tem também um toque de mestre, e enriqueceu muito a leitura.

Cordélia é reclusa em Tires e está a preparar-se para a sua saída, que está iminente. Parte da preparação consiste em relembrar todo o seu percurso até chegar ali, coisa dolorosa e difícil. Partilha o seu dia a dia com outras colegas, cujas histórias são baseadas em histórias reais, recolhidas pela autora. E aí começa o aperto no nosso coração. É um livro forte, triste, carregado de relatos impressionantes. Mas ao mesmo tempo está cheio de cenas belas, de um sarcasmo e duma ironia que são refrescantes, e ajudam a não nos sentirmos sufocados com tanta desventura. Fala-nos do sentido de família, das teias em que nos deixamos enredar porque não temos força para sair, e, tal como o livro que li anteriormente, das escolhas que fazemos que nem sempre são as melhores.

É uma história com pouca redenção e pouco romance, mesmo de cordel, mas é muito bonita e está maravilhosamente escrita. É preciso algum estômago, porque tem alguns relatos fortes. No entanto, aconselho a todos os que gostam de boa literatura, boas histórias com sabor português. Não se irão arrepender.

Boas Leituras!

Goodreads Review

Feira do Livro de Lisboa 2021

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Obviamente não podia deixar passar o facto que já temos datas para a Feira do Livro de Lisboa deste ano. À semelhança de 2020 vai ser mais para o final do verão, na esperança que a pandemia esteja mais controlada nessa altura, de 26 de Agosto a 12 de Setembro. Boa altura, ainda apanha uns dias das minhas férias.

Já nem sei há quantos anos não vou à Feira do Livro, mas será pelo menos desde 2018 (se não for mais). Já tenho o bichinho da saudade, e espero mesmo poder lá passar este ano, com o petiz, para começar a criar a mesma tradição que começaram comigo. Todos os anos comprar pelo menos um livro de criança na feira, e passear a comer queijadas de Sintra, compradas num vendedor ambulante. É uma das minhas memórias de infância felizes, especialmente de ir no dia da criança e receber ainda mais miminhos com cada livro comprado.

Espero poder transmitir esta magia ao meu jaquinzinho, que já adora livros, mesmo que por enquanto nenhum fique inteiro por muito tempo.

Encontramo-nos por lá?

Até lá, boas leituras!

Acabei de Ler – Midnight Library

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Keep scrolling if you prefer to read in English.

Se aos 35 anos ainda acordavam de noite a pensar em coisas que podiam ter mudado no secundário, então este é o livro para vocês. Claramente foi livro para mim, que me encontro nesta categoria.

Nora Seed tem 35 anos e decide morrer. Isto não é um spoiler, está bem visível desde as primeiras páginas do livro. Só que em vez de morrer, Nora fica presa num limbo, neste caso uma biblioteca, em que cada livro conta a história de como é a vida dela naquele momento se ela tivesse tomado decisões diferentes. E é-lhe dada a possibilidade de experimentar tudo aquilo que ela sempre achou que teria mudado a sua vida. A partir desta premissa vamos ver as diferentes vidas de Nora Seed, ao mesmo tempo que avaliamos o impacto de grandes e pequenas decisões.

A história é muito interessante e muito bem explorada. Claramente o autor percebe de ansiedade, depressão e outros males semelhantes que nos assolam neste mundo moderno. E apesar de abordar temas complicados o livro não é derrotista nem pesado de ler. Avança muito bem e ficamos colados às páginas a tentar perceber o que vai acontecer a seguir.

Lá para meio do livro eu já suspeitava como iria ser o final, e mais lá para a frente tinha medo que o final pudesse ser doutra maneira, que para mim não faria qualquer sentido. Afinal não foi muito diferente do que tinha imaginado, e pude sossegar o meu coração.

Aconselho a todos os que lamentam algumas decisões que tomaram na vida, aos que desejavam poder ter feito algumas coisas de modo diferente, aos que acham que outro caminho teria sido melhor. Talvez fiquem surpreendidos com este livro. A todos os outros aconselho na mesma, porque vale a pena conhecer outras visões do mundo.

Boas Leituras!

Goodreads Review

If by the time you were 35 you turned in bed at night thinking about things you could have done better back in high school, then this book is for you. It was a book for me, as I fit in this category like a glove.

Nora Seed is 35 years old when she decides to die. This is not a spoiler, it’s a fact presented to us since the beggining of the book. But instead of dying, Nora becomes stuck in a limbo, in this case a library, where every book is one of her lives, in which she has made different options, either big or small. From this we will be able to watch many of her different lives and the outcome of many different decisions.

This is a very interesting and well written story. Clearly Matt Haig is no stranger to the struggles of anxiety, depression and other mental health issues that are so common nowadays. And even though the book speaks about delicate issues, it is not a heavy read and is indeed a page turner. We are glued to the book trying to figure out what is happening next. 

By the middle of it I started suspecting how it would end, and a little later I started dreading that the end might be different than what I envisioned, as in my head ending differently would not make any sense. I was reassured to see that it was very similar to what I had imagined, and my heart could finally rest. 

I recommend it to everyone who has any regret in life, some decisions that could be changed and things done differently. Maybe this book will surprise you, or make you see things differently. To all the others I also recommend this book, as different perspectives are always enriching. 

Happy Reading!

Nomeados do International Booker Prize 2021

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Foi anunciado no passado dia 30 de Março os nomeados para o International Booker Prize, que premeia livros traduzidos para inglês e editados no Reino Unido ou na Irlanda. Os 13 nomeados deste ano são diversificados, de muitas nacionalidades e línguas diferentes, como se espera dum prémio cujo objectivo é divulgar literatura não anglófona. O prémio é partilhado pelo escritor e pelo tradutor. Deixo-vos abaixo a lista dos nomeados, com respectivo link para o Goodreads e uma brevíssima impressão minha.

  1. I Live in the Slums, de Can Xue. Traduzido do chinês por Karen Gernant e Chen Zeping (Yale University Press) – Livro de contos, tem potencial, mas tenho lido bastantes contos ultimamente.
  2. At Night All Blood is Black, de David Diop. Traduzido do francês Anna Mocschovakis (Pushkin Press) – Pode ser fabuloso ou aterrador, provavelmente uma mistura dos dois. A história pouco comum de soldados senegaleses na Primeira Guerra Mundial.
  3. The Pear Field, de Nana Ekvtimishvili. Traduzido do georgiano por Elizabeth Heighway (Peirene Press) – Uma história passada num orfanato da Georgia, parece ser uma história bonita e triste.
  4. The Dangers of Smoking in Bed, de Mariana Enríquez. Traduzido do espanhol por Megan McDowell (Granta Books) – Mais um livro de contos, mas com um título destes é impossível não ter vontade de ler. Ainda mais porque a autora é associada a Shirley Jackson e Jorge Luis Borges. Direitinha para a minha TBR list.
  5. When We Cease to Understand the World, de Benjamín Labatut. Traduzido do espanhol por Adrian Nathan West (Pushkin Press) – Uma espécie de livro de ficção científica sobre ciência, com excelentes críticas no Goodreads. Parece muito interessante, mas talvez necessite de mais cérebro que aquele que tenho disponível no momento.
  6. The Perfect Nine: The Epic Gikuyuand Mumbi, de Ngũgĩ wa Thiong’o. Traduzido da língua quicuio pelo próprio autor (VINTAGE, Harvill Secker) – Um épico em verso sobre um povo queniano. Não me parece o meu género de livro.
  7. The Employees, de Olga Ravn. Traduzido do dinamarquês por Martin Aitken (Lolli Editions) – Mais um de ficção cientifica sobre condições de trabalho numa sociedade dum futuro distante. Muito potencial aqui.
  8. Summer Brother, de Jaap Robben. Traduzido do holandês por David Doherty (World Editions) – Dois irmãos que vão passar o verão juntos, o mais velho com necessidades especiais, e que fica ao cuidado do mais novo. Não consigo ler nada sobre pessoas com necessidades especiais neste momento, mas parece um livro muito bonito.
  9. An Inventory of Losses, de Judith Schalansky. Traduzido do alemão por Jackie Smith (Quercus, MacLehose Press) – Em que serão relevantes para nós 12 tesouros que foram definitivamente perdidos para o mundo. É o que vamos descobrir neste livro.
  10. Minor Detail, de Adania Shibli. Traduzido do árabe por Elisabeth Jaquette (Fitzcarraldo Editions) – a visão palestiniana sobre os acontecimentos do verão de 1949, parece ser um livro muito interessante.
  11. In Memory of Memory, de Maria Stepanova. Traduzido do russo por Sasha Dugdale (Fitzcarraldo Editions) – Através das memórias duma família vamos meditar nas memórias dum povo e dum país, a Rússia. Parece um documento interessante, mas demasiado para mim.
  12. Wretchedness, de Andrzej Tichý. Traduzido do sueco por Nichola Smalley (And Other Stories) – Umas voltas no underground europeu, dadas por duas personagens de origens muito distintas. Uma espécie de fábula urbana que vai direitinha para a minha lista.
  13. The War of the Poor, de Éric Vuillard. Traduzido do francês por Mark Polizzotti (Pan Macmillan, Picador) – As injustiças sociais como base de lutas por melhores direitos, no Séx XVI tal como hoje.

Como sempre parece-me que temos aqui uma lista muito rica e muito diversa. Potencialmente poderia lê-los todos, pois todos me parecem interessantes na sua essência. Alguns, pela forma ou pelo conteúdo estão mais distantes daquilo a que me proponho (ou consigo) ler neste momento. Conhecem algum?

Boas Leituras!

Acabei de Ler – Bad Behaviour

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Ainda recentemente aqui disse que queria ler este livro, e toca de lhe pegar logo a seguir. É um livro de contos passados em Nova Iorque no final dos anos 80, sobre pessoas com vidas que não se enquadram na normalidade, como geralmente eu costumo gostar. O pormenor desta vez é que comecei a lê-lo quase no início deste segundo confinamento, o que esmoreceu um bocadinho a minha capacidade literária. Sendo um livro de contos foi perfeito para esta altura, já que pelo menos conseguia ler um de cada vez e nunca perdia o fio à meada da história.

Em todos os contos há pessoas estranhas, desenquadradas, que lutam para ser felizes. Ou pelo menos para serem aceites e reconhecidas. As histórias são provocadoras e interessantes, com aquela aura de desespero que encontramos nos livros desta altura. Tem personagens que são bem sucedidas, outras que passam dificuldades, mas todas têm em comum a dificuldade em lidar com o mundo real.

Gostei da maioria das histórias, estavam bem escritas e prendiam a atenção. Houve duas coisas neste livro que não me permitiram disfrutá-lo mais. Primeira, a obsessão da autora com ombros que transmitem emoções. Pode ser dificuldade minha, admito, mas ombros envergonhados, subtis, alegres, etc, simplesmente são uma coisa que não consigo visualizar. E no momento em que nos apercebemos, já não conseguimos deixar de ver estas expressões em todo o lado.

A segunda coisa foi o único conto que eu conhecia, A Secretária, o tal que deu origem a um filme com o mesmo nome. O filme, mesmo com toda a sua estranheza, era leve e esperançoso, deixava-nos com um gostinho a final feliz e a boas possibilidades para a vida. O conto que lhe deu origem não é nada disso, é só desadequação e estranheza, e sentimentos de desespero, e isso desiludiu-me um bocadinho.

Um livro interessante, mas não fabuloso. Recomendo se gostarem de contos diferentes e estranhos, e se não forem com demasiadas expectativas.

Boas Leituras!

Goodreads Review

Not long ago I mentioned here that I wished to read this book. Not long after I just had to do it. It is a book with short stories set in New York in the late 80’s, about weird people with weird lives, something I usually enjoy. I started reading it right before the second confinement and that has impacted the time it took for me to finish it. Luckily I could read one story at the time, and not loose track of any plot. 

In all the stories we find misfits, strange people that are trying to be happy, or at least to fit in. The stories are thought provoking and interesting, with that aura of desperation that we sometimes find in books from the 80’s. Some of the characters are sucessfull, some are looser, but they are all inadequate and struggle to adjust to the real world. 

I enjoyed the majority of the stories, they were well written and kept us hooked. However there were two things I just could not ignore. The first one was the author’s obsession with shoulders and the way they portrayed emotions. Weird, right? I for one have never seen timid shoulders, happy shoulders, shy ones, etc, and I cannot picture them in my mind. And once you notice this pattern, there’s no way you can unsee it. 

The second thing was The Secretary, the only story I’ve know previously. The movie, even tough it was different, had an upbeat vibe about it, and allowed us to dream of happy endings, of everyone finding a shoe that fits. In reality, the story was bleak and desperate, the main character was depressive, and just left me in a sad mood. 

Um livro interessante, mas não fabuloso. Recomendo se gostarem de contos diferentes e estranhos, e se não forem com demasiadas expectativas. 

It is an interesting book, but not a fabulous one. I recommend it if you like this kind of literature and if you are not deterred by emotional shoulders. 

Happy Reading!