12 Livros de Não-Ficção Para os Próximos 12 Meses

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Quem me conhece, ou lê o blog há algum tempo, já sabe que eu costumo ler muitos livros de não-ficção. Não sei se sempre foi assim na minha vida de leitora, imagino que em adolescente isso não fosse tão comum, mas já é assim há muitos anos. Não-ficção é um género extremamente abrangente, que vai desde ensaios, crónicas, literatura de viagens, literatura cientifica, biografias e uma imensidão de outras coisas.

Suponho que haja menos gente a ler não-ficção (ou pelo menos tem manos visibilidade) porque tendemos a associar estes livros com uma experiência penosa e maçuda. Achamos que vão ser sempre grandes calhamaços, difíceis de decifrar, muito porque essa foi a experiência que tivemos no nosso percurso escolar onde, pelo menos no meu tempo, os programas não eram conhecidos por escolher livros acessíveis e que dessem prazer ler (levante a mão quem efetivamente conseguiu ler “As Viagens na Minha Terra”, que eu tiro-vos o chapéu). Podemos também associar não-ficção aos livros de auto-ajuda, de alimentação, de bricolage, e nem todos temos interesse nisso, ou preferimos ver vídeos no Youtube.

Mas na realidade, um bom livro de não-ficção pode ler-se com o mesmo entusiasmo com que se lê uma história imaginada. A realidade é muitas vezes muito mais inacreditável que o que qualquer mente consiga inventar.

Todos os anos acabo por ler alguns livros destes, servem muitas vezes para “desenjoar” quando estamos fartos do género que mais costumamos ler. O ano em que mais li foi 2012, em que dos 50 títulos, 21 eram não ficção. Foi o ano em que comprei o Kindle, e de repente todo um novo mundo de livros em inglês ficou disponível. Tive acesso a imensa literatura de viagem, descobri Bill Bryson, de quem já li quase tudo, e muitos outros autores. O ano mais fraquinho foi 2015, em que dos 40 que li, só 2 eram não ficção. Não faço ideia porquê.

O Goodreads diz que eu já li 124 livros de não ficção, o que é uma quantidade que me deixa feliz. Mas com certeza que nem todos foram assim tão interessantes. Deixo-vos uma lista dos 12 melhores, se quiserem ler um por mês.

Sem Deixar Rasto, de Jon Krakaeur – mais conhecido por “Into Thin Air”, este foi o primeiro livro que li sobre escalada ao Evereste, mais concretamente o desastre de 1996, que mais tarde deu um filme, e foi o grande responsável por eu ser uma leitora assídua de montanhismo de alta montanha. Jon Krakaeur é um excelente escritor, foi muitos anos cronista em revistas de desportos de ar livre, e participou nesta expedição. Fez parte da equipa em que alguns clientes morreram, e muitos ficaram com sequelas permanentes. Apesar das suas opiniões serem um pouco tendenciosas, como seria de esperar de alguém que viveu o evento em vez de o observar de fora, o livro está brutalmente bem escrito, e foi um dos dois do autor que me fez chorar copiosamente no autocarro a caminho do emprego (e não pelo facto de ter que ir trabalhar).

Cozinha Confidencial, de Anthony Bourdain – o que dizer sobre este livro e este autor que ainda não se tenha dito? Escrevia bem, tinha um olhar único sobre o mundo, uma visão particular. Este foi o livro que o catapultou para o estrelato, e foi uma leitura fabulosa. Tem um sentido de humor muito apurado e diz-nos verdades sem papas na língua. Aprendi muito com este livro, e continuo a achar que vale muito a pena ler.

Os Meus Problemas, de Miguel Esteves Cardoso – segunda colecção de crónicas deste escritor português, este foi o livro que me iniciou na literatura adulta aos 14 anos. As crónicas que mais ficaram na minha ideia foram as mais cómicas, fruto da minha idade, nomeadamente uma sobre ter 15 anos (extremamente adequada) e outra sobre os nomes de terras portuguesas. A Bertrand tomou conta disto em 2020 e tem vindo a reeditar estas crónicas para quem quiser aproveitar. Eu ainda cá tenho os originais de finais dos anos 80, principios dos 90, e é incrível como algumas continuam actuais.

Uma Breve História de Quase Tudo, de Bill Bryson – Não foi o primeiro Bill Bryson que li, mas foi com certeza o melhor, que é o que se quer. Não é pequeno, 544 páginas, mas também não é extraordinário para a história de quase tudo. Isto não só é a história de nós enquanto humanidade, mas também a história do que nós fizemos para compreender o mundo à nossa volta, nomeadamente a ciência. Tudo contado com um humor muito sarcástico, episódios anedóticos, tudo o que possam imaginar que torna isto numa leitura extremamente rápida e agradável. Gostei tanto que já o ofereci várias vezes a pessoas completamente diferentes. Maravilhoso!

The Sound of a Wild Snail Eating, de Elisabeth Tova Bailey – este livro foi uma maravilhosa surpresa. Lembro-me que o escolhi simplesmente pelo título, sem saber nada sobre ele, e acabei por o adorar. É a história da autora, que sofre duma doença repentina que a deixa presa à cama. Uma amiga leva-lhe um caracol que encontrou no jardim, e deixa-o no seu vaso de flores. Elisabeth vai passar muito tempo a observar esta forma de vida tão delicada e a meditar no seu próprio sentido da vida, e o impacto que uma doença pode ter. Acabou por se dedicar ao estudo de gastrópodes porque ficou fascinada por estas belas criaturas. Confesso que mudou completamente o modo como eu própria aprecio estas pequenotes, e fiquei muito mais consciente da sua existência, ao ponto de ser a maluquinha que anda a apanhar bichos no meio da estrada para os colocar na vegetação e não serem atropelados. Se gostam de natureza e de pensar na vida de modos diferentes, este livro é para vocês.

O Caminho Imperfeito, de José Luis Peixoto – este livro é uma mistura de coisas. Primeiro, é dum autor português que eu gosto muito e que escreve muito bem. Depois, é um livro de viagens, género que eu leio imenso, e ao mesmo tempo é muito diferente dos livros de viagens tradicionais. Eu já tinha ido à Tailândia, mas a minha experiência foi muito diferente de tudo o que é relatado neste livro. Uma bela colecção de histórias e momentos que nos fazem passar um bom bocado e viajar no nosso sofá.

As Cinzas de Angela, de Frank McCourt – só depois de ver a minha lista de livros lidos é que me apercebi que este também é não ficção. As cinzas de Angela contam a história da infância de Frank McCourt, passada na Irlanda numa altura em que grassava uma enorme crise económica. O seu pai era alcoólico e a sua mãe não tinha dinheiro para alimentar todos os filhos. A pobreza era extrema, a fome também, mas mesmo assim damos por nós a sorrir muitas vezes ao ler este livro. A escrita é leve e divertida, tudo o que a sua infância não foi, apesar de passarmos o tempo com o coração nas mãos. Confesso que chorei na altura, mas hoje em dia, sendo mãe, não sei se conseguiria ler este livro. Aconselho, mas vão avisados que não é sobre uma realidade bonita.

Bad Science, de Ben Goldacre – claro que tinha que incluir aqui um livro sobre ciência. Ben Goldacre é um escritor e psiquiatra britânico, que escreveu uma coluna no The Guardian com o mesmo nome, que se dedicava a desmistificar mitos e pseudociência. Todas aquelas mezinhas e curas milagrosas que aparecem ciclicamente por aí, mas também os “estudos cientificos” que muitas vezes não têm nada de ciência e servem unicamente determinados interesses económicos. Desde modas de nutrição a campanhas antivacinas, tudo foi desmistificado e melhor ainda, aprendemos a distinguir quando um estudo tem verdadeiramente validade cientifica. Apesar de já ser de 2008, continua tremendamente atual, como se pode comprovar com a recente pandemia. Aconselho muito, a menos que sejam muito fãs de homeopatia, terapias florais, ou acreditem que vacinas causam autismo.

Into The Wild, de Jon Krakauer – Único repetente desta lista, mas não conseguia deixar de falar no primeiro livro do Jon Krakaeur que li, sobre a história de Christopher McCandless, e que deu origem a um filme igualmente bonito. No inicio dos anos 90 Christopher McCandless, logo após a conclusãoda faculdade, resolve desfazer-se do seu carro e dinheiro, e partir à aventura um pouco por toda a América, livre de qualquer apego material ou familiar. Essa jornada acaba por o levar até ao Alaska, onde acaba por morrer de fome, mas pelo caminho conhece muita gente e toca a vida de muitas pessoas. É especialmente interessante a reação que cada pessoa tem a esta escolha de vida, tão alienigena para alguns que acabam por a classificar como mimada, inconsequente, ou irresponsável. Para muitos de nós, as escolhas radicalmente diferentes das nossas são incompreensíveis, ou pior, repreensíveis. Mas se fizermos apenas o exercício de apreciar sem tentar compreender, de perceber a beleza que a diferença tráz ao mundo, seremos com certeza melhores por isso.

O Rapaz Que Prendeu o Vento, de William Kamkwamba – o autor nasceu numa família muito pobre no Malawi, numa pequena aldeia rural. Muito curioso e muito desejoso de aprender, acabou por ter que sair da escola por falta de meios dos pais. Mas continuou a aprender como podia, nomeadamente através duma biblioteca escolar. Quando se depara com um livro que explica o funcionamente dos moinhos de vento, vai começar uma empreitada que poderá finalmente trazer a electricidade a toda a aldeia. Foi uma história fabulosa e muito bem contada. É daqueles livros que me foi oferecido e que já ofereci também a muita gente, recomendo muitíssimo, até como leitura para os mais novos.

Histórias Naturais, de Clara Pinto Correia – este é não só um livro antigo, como é possivelmente o menos conhecido desta autora/bióloga. É um pequeno livro cheio de pequenas curiosidades sobre o mundo vivo, escrito duma maneira divertida e acessível. Uma espécie de biologia para não biólogos, pessoas que gostam de curiosidades sobre a diversidade do mundo natural. E mais uma autora portuguesa nesta lista.

Freakonomics, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner – para não pensarem que isto é só viagens e ciência, também dou uma perninha na economia, com a sua versão light, para não iniciados. Este livro é uma colecção de investigações interessantes, feitas no ambito da Economia, e que nos mostra que realmente podemos analisar tudo estatisticamente. Muito interessante, uma leitura fácil e que nos pode abrir novos horizontes.

Espero que tenham ficado com vontade de ler algum, e se assim foi voltem cá para contar a experiência. Da minha parte este ano vou tentar ler mais não-ficção, que é sempre enriquecedora. Até já comecei a seguir mais um prémio literário para me ajudar nessa tarefa, mas sobre isso falarei mais tarde.

Até lá, Boas Leituras!

Os Melhores Livros do Primeiro Semestre de 2023

The Yellow Books by Vincent Van Gogh

Apesar de ter passado grande parte deste primeiro semestre com a sensação que não me apetecia ler nada, na realidade acabei por ler bem mais do que pensava, e houve aqui pérolas muito boas. Não tenho conseguido estar muito tempo concentrada em leituras complexas, porque nem sempre consigo descansar aquilo que o meu cérebro precisaria, e isso condiciona grandemente aquilo que me apetece/consigo ler. Mesmo assim, dos 33 livros que passaram por mim nestes 6 meses, ainda houve alguns muito bons. Falei de muitos aqui no Peixinho, e os melhores de todos são os que estão aí em baixo.

  • Heliotrope, de Palmer Pickering – Comecei o ano com um excelente livro de fantasia, cortesia do Netgalley, duma autora que ainda não conhecia. Foi um livro adulto, que não é o começo de nenhuma série interminável, e muito bem escrito. Recomendo muito.
  • Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago – Passei anos sem me apetecer pegar em Saramago, e quando o faço foi logo com um livro deste calibre. Já sobejamente conhecido, nem preciso de me alongar muito sem ser para vos aconselhar a ler, se ainda não o fizeram.
  • Boulder, de Eva Baltasar – Um dos finalistas do Booker International deste ano, este foi um livro pequeno mas cheio de impacto. Gostei bastante de conhecer a história destas duas mulheres, e de reflectir com elas sobre o amor e o seu efeito na nossa individualidade.
  • A Breve Vida das Flores, de Valérie Perin – Um dos livros que li recentemente e que realmente gostei. Uma prosa muito boa, uma história com impacto, daquelas que nos fazem ficar a pensar em todas as nossas nuances, mesmo como eu gosto. Um mimo!
  • Pod, de Laline Paull – Um dos finalistas do Women’s Prize for Fiction, e um dos meus favoritos dos últimos tempos. Bom, mas bom, apesar das poucas expectativas com que eu ia. Recomendo muito, especialmente aos meus amigos da Biologia que gostam de ler, que vão achar este livro com um gostinho especial.
  • I’m a Fan, de Sheena Patel – Este ainda não saiu aqui no blog, porque está mesmo fresquinho e acabadinho de ler. Foi um dos nomeados para o Women’s Prize for Fiction, tal como o anterior, e foi muito bom. Muito diferente do anterior, mas interessante e actual. Recomendo muito, e em breve saberão porquê.

E assim começa mais um semestre, que espero que seja no mínimo tão rico como o anterior. Férias nem sempre dão para ler mais quando se tem um piolho pequeno, e o calor às vezes desespera e derrete neurónios, mas acho que vou ter um fim de ano muito positivo.

Boas Leituras!

Os 6 Melhores Livros Lidos Em 2022

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E assim de repente já se passaram os primeiros seis meses do ano, e eu juro que não sei por onde é que o tempo foge. Mas ao menos este ano tem fugido com livros, o que sempre é melhor.

Propus-me no desafio de início do ano do Goodreads a ler 50 livros em 2022, que é mais ou menos o desafio que faço por ano. Mas desde que a capacidade cerebral diminuiu (leia-se maternidade aconteceu), que eu não tenho andado muito virada a livros grandes ou extremamente complexos, e isso reflecte-se na quantidade de livros que eu consigo ler. Este primeiro semestre já foram 40, o que é um número impressionante, para mim.

E posso dizer que a qualidade não anda nada má, já que 5 foram 5 estrelas, e 14 foram 4 estrelas. Também houve alguns no outro extremo da tabela, mas foram menos. Em baixo deixo as minhas sugestões de 5 estrelas, que foram todos livros muito interessantes (e 2 de 4 que ainda penso neles), sem nenhuma ordem em particular.

  • Mrs Death Misses Death: um livro poético e estranho que li quase no início do ano, com a morte como personagem.
  • Dune: o clássico de ficção científica, que não será para todos os gostos, e que ao contrário do que eu disse acima, era grande e complexo.
  • The Last Rhinos: um relato particularmente interessante sobre os esforços dum conservacionista em salvar uma subespécie de rinocerontes africanos que apenas existia num pequeno parque numa zona flagelada por conflito armado. Triste, como infelizmente estas coisas normalmente são.
  • Beartown: Finalmente rendi-me à coqueluche dos últimos anos, Fredrick Backman, e não me arrependi. Já tenho a sequela no Kindle para ler.
  • At Night All Blood is Black: vencedor do Booker International do ano passado, é um relato brutal e poderoso dos horrores da guerra. Apesar de se passar na Primeira Guerra Mundial, continua tristemente actual.
  • The Ones That Walk Away From Omelas: Um pequeno conto da raínha da ficção cientifica, Ursula K. Le Guin, que nos faz pensar muito sobre as escolhas que fazemos diariamente, e o impacto que têm no resto da humanidade.
  • This is Going to Hurt: Um relato na primeira pessoa do serviço nacional de saúde britânico, mas que poderia muito bem ser no nosso. Actual e transversal.

De todos os livros que li este ano estes são os que se destacam mais, no entanto tem sido uma boa colheita cheia de bons títulos. Esperemos que o resto do ano seja pelo menos tão bom, que eu aqui vos vou dando conta.

Até lá, Boas Leituras!

Os Cinco Melhores Livros de 2021

Ora já estamos a meio de Janeiro, mas ainda assim gostava de partilhar aqui os cinco melhores livros que li durante o ano passado. 2021 foi um ano surpreendente, principalmente no número de livros que consegui ler, uns prodigiosos 63. Mas, como é óbvio, nem todos ficaram com lugar marcado na minha memória. Mesmo assim, a grande maioria foi muito prazerosa e vou aproveitar para revisitar os que considero os 5 melhores, sem nenhuma ordem em particular.

Piranesi – Susanna Clarke

Foi dos primeiros livros que li em 2021, e mesmo assim ainda me lembro dele frequentemente. Comprei para oferecer no Natal, sugeri a quem me quis ouvir. Foi o vencedor do Women’s Prize for Fiction de 2021, não surpreendentemente.

É um livro estranho, passado numa casa que não tem fim, com vários andares, quartos, mares e marés, corredores cheios de estátuas e habitada por Piranesi, um homem que a conhece profundamente. É fantasia, mas daquela sem fadas nem elfos, é um thriller de mistério, é sobretudo um livro que nos faz pensar. Se ainda não leram, contemplem fazê-lo.

The Midnight Library – Matt Haig

Mais um livro que me fez pensar. Este dividiu opiniões, houve quem o achasse um “favorito para a vida”, outros acharam-no assim-assim. Eu gostei bastante, achei que tem uma abordagem interessante aos problemas de ansiedade, depressão, saúde mental, e acho que é interessante para ler e nos ajudar a refletir sobre a nossa vida e a dos outros.

The Collected Works – Scott McClanahan

Que pérola de livro. Cheguei a ele por uma recomendação feita no Goodreads a outra pessoa, mas aquela capa não me deixou indiferente. Maravilhoso, é como estar num café com um amigo meio estranho e ouvi-lo falar da vida, e sermos surpreendidos a cada instante. Apesar de ser feito de pequenas histórias, não fui capaz de o pousar até ter tudo lido.

Recomendo muito, vale mesmo muito a pena.

Romance de Cordélia – Rosa Lobato de Faria

Obviamente que tinha que incluir um autor português nesta lista, e o ano passado Rosa Lobato de Faria foi a que mais se distinguiu. Como é que demorei tanto tempo a perceber que os livros desta senhora eram pérolas refinadas que eu precisava mesmo ler. A subtileza, o humor, a clareza da escrita, é tudo maravilhoso.

Este livro em particular não tem uma história muito feliz, mas a maneira como está escrito é muito boa, e prende-nos do princípio ao fim. Aconselho muito a lerem livros desta autora!

Odeio-te e Amo-te – Sally Thorne

Considerando que dos 63 livros que li em 2021, 16 foram romances no sentido estrito, acho que é justo que ponha nesta lista o que eu gostei mais. Há alguns mesmo muito fraquinhos, nem sei o que me passou pela cabeça, mas houve alguns muito engraçados e bem escritos. É o caso deste de Sally Thorne, que me agradou imenso. Foi o primeiro desta autora, e da minha experiência o único que vale a pena. Os dois seguintes eram muito fraquinhos.

Mas descobri com este livro que o enredo que mais me diverte é o de enemies to lovers, e que sabe sempre bem ter um pouco de humor à mistura. No geral foi um livro que dispôs bem, divertiu e que se leu num sopro.

Estes foram os meus livros favoritos de 2021 e que eu aconselho a quase toda a gente. Se lerem, partilhem comigo o que acharam.

Até lá, Boas Leituras!

Livros que Recomendo – O Assassinato de Roger Ackroyd

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Keep scrolling if you prefer to read in English.

É sobejamente conhecido o meu gosto pelos livros de Agatha Christie, no entanto ainda só aqui recomendei dois. Uma história individual, e o primeiro da série Poirot, que foi também o primeiro livro publicado por esta autora.

Mas este que vos apresento hoje é considerado o melhor dela, e o único desta autora a figurar na lista de 1001 Livros para Ler Antes de Morrer. Talvez injustamente, porque ela tem vários livros bons, mas é o problema destas listas, dependem sempre da opinião de quem as faz.

Terceiro livro a figurar o nosso detective belga e editado pela primeira vez em 1926. Poirot tinha decidido aposentar-se e e dedicar-se à agricultura, mas um assassinato ocorrido na vila para onde se retirou vai obrigá-lo a voltar atrás na sua decisão e usar os seus conhecimentos mais uma vez. O livro é um clássico da autora, um assassinato que ocorre num ambiente semi fechado, onde apenas uma meia dúzia de pessoas parecem ser suspeitas, mas (quase) todas elas têm um alibi convincente. O narrador é uma dessas pessoas, o doutor Sheppard, vizinho de Poirot e que o assiste durante a investigação. O volte-face final é surpreendente, e o desfecho engenhoso, fazendo jus à fama que este livro alcançou.

Numa altura em que estamos rodeados duma nova vaga de livros policiais, que a sua popularidade ganhou novo fôlego e novos adeptos em toda a parte, nunca é demais relembrar os bons clássicos que pavimentaram o caminho.

Boas Leituras!

I am a big Agatha Christie’s fan and yet I have only recommended 2 of her books on my blog. And Then There Were None, a superb standalone story and the first Poirot book, The Misterious Affair at Styles, that was also the first one published by the author. 

However, the one I present here today, The Murder of Roger Ackroyd, is considered by many as her masterpiece, and is the only one featured in the 1001 Books to Read Before You Die list. Which might seem a bit unfair, as she has many wonderful books, however, as it always happens in these things, it’s at the editors discretion. 

This is the third novel featuring Poirot, our belgian detective, that has decided to retire and go live in the country to grow vegetable marrows. However, there is a murder in the village he chose to live, and his next door neighbour, Dr. Sheppard, was present when it happened, so Poirot is dragged in to investigate the case. Dr. Sheppard is actually the person telling us the story. It is classical Christie, a murder perpretaded in a close environment, with a handful of suspects, all with more or less believable alibis. The final plot twist is very interesting and unexpected, making this a really good whodunnit mistery book. 

In a time where the mistery books seem to have gained new audiences and new fame, it is always good to look at the old classics that paved the way for all this success. 

Happy Readings!

Livros que Recomendo – O Amor nos Tempos de Cólera

amor nos tempos de colera

Mais um livro de Gabriel García Márquez que venho aqui recomendar, depois dos Cem Anos de Solidão, e da Crónica duma Morte Anunciada. Estes três títulos são, na minha opinião, os melhores de toda a sua bibliografia e uma lição na arte de bem escrever.

Amor nos Tempos de Cólera é uma história de amor. Um amor longo e recheado de dificuldades, como todos os grandes amores costumam ser na literatura. Estes amantes estão desencontrados durante grande parte da sua vida, e é já na velhice que finalmente se reencontram para dar continuação à sua história. É uma bonita história de amor, sem ser um romance lamechas.

O poder deste livro está na escrita poderosa de García Marquéz, no vislumbre que ele nos dá da sociedade colombiana através dos tempos, dos constrangimentos sociais que por vezes ditam as opções de cada um, e que têm efeito na sua vida toda. É um livro maravilhoso e intemporal, que aconselho a todos os amantes de boa literatura.

Boas Leituras!

Livros que Recomendo – Os Dragões do Eden

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Começo por dizer que este é um livro de ciência de 1977, por isso é provavel que alguns conceitos não tenham envelhecido muito bem. No entanto lembro-me bem de estar sempre fascinada enquanto lia este livro, que me fez pensar a me lançou na leitura de livros de ciência.

Carl Sagan é um conhecido astrónomo que tentou tornar a ciência acessível aos comuns mortais com o seu livro e série Cosmos. No entanto, ainda antes disso tinha escrito este Dragões do Eden, que venceu o prémio Pulitzer em 1978, e onde fala da evolução da inteligência humana.

É a escrita de Carl Sagan que torna este livro tão interessante. O modo como interliga conceitos cientificos com mitos e histórias bem conhecidas da humanidade faz com que esta leitura seja informativa e um verdadeiro prazer. Mesmo que alguns conceitos estejam já desactualizados, dado que ele nos deu uma visão muito geral da evolução humana é provável que apenas falhem questões de pormenor.

Aconselho a todos os que gostam de aprender, pensar e reflectir sobre diferentes aspectos da humanidade.

Boas Leituras!

Livros que Recomendo – O Misterioso Caso de Styles

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Pois é, desde o início deste blog que vos tenho vindo a falar dos livros do Poirot que tenho andado a ler por ordem de publicação, e parece impossível que ainda não tenha recomendado nenhum. Pois isso muda hoje em que eu recomendo, exactamente como esperado, o primeiro caso de Poirot.

Publicado em 1920 (fez 100 anos em Outubro) este foi o primeiro livro de Agatha Christie a ver a luz do dia. É simultaneamente a primeira aparição de Hercule Poirot, o detective belga que está em Inglaterra como refugiado da grande guerra. É com este livro que se estabelecem as bases para todas as histórias seguintes, e também para muita da literatura policial que lemos hoje em dia.

Poirot não é um detective como os outros. Não anda de nariz no chão à procura de pistas escondidas, não anda a colher impressões digitais nem marcas de sapatos, esse é o trabalho da polícia. Poirot conversa. Conversa muito. E é através desses diálogos que vamos conhecendo a história, as personagens, as circunstâncias. As histórias são (quase) sempre muito bem construidas e levam-nos a tentar adivinhar quem é o culpado quase desde início. Não temos perseguições espectaculares, nem outro tipo de artifícios usados actualmente, em que cada livro parece um filme, mas temos escrita muito inteligente que se lê num ápice.

É também neste volume que conhecemos duas das personagens mais recorrentes para além do próprio Poirot. O Capitão Hastings, seu fiel amigo e parceiro ligeiramente menos inteligente, e o homem que realmente pesquisa e fornece as pistas físicas, o Inpector Japp da Scotland Yard.

É um livro que recomendo a todos os níveis. É interessante, descomplexado, fácil de ler e que nos deixa agarrados do princípio ao fim. É também um retrato interessante da época em que foi escrito.

Boas Leituras!

Livros que Recomendo – Born to Run

born to run

Talvez não seja grande surpresa se eu vos disser que não sou muito dada a corridas. Desde pequena que nunca gostei muito de correr, não era coisa que me entusiasmasse. Eu sou mais virada para tudo o que tenha a ver com água. No entanto, uma coisa que sempre gostei foi de um bom livro, com uma boa história, e é o que temos aqui.

Christopher McDougall é um jornalista que gosta de correr. Após uma lesão num pé começa a investigar sobre a qualidade do calçado desportivo e isso leva-o ao conhecimento duma tribo mexicana que corre grandes distâncias maioritariamente descalços. Os Tarahumara não só correm muito, como correm bem e parecem bastante saudáveis enquanto população.

A investigação sobre esta tribo leva-o a conhecer imensos personagens fantásticos, mas também os seus problemas já que o seu território é também o território de alguns carteis de droga. Vamos também entrar no mundo das ultramaratonas e os seus desafios, e a meio do livro já só me apetecia levantar do sofá e ir correr pela natureza descalça.

Muita gente argumenta que a ciência por trás de algumas afirmações não está 100% correcta, mas isso não denigre em nada a qualidade do livro, e se possível até lhe dá mais força. Tendo em conta que uma das afirmações feita é que o calçado de corrida, principalmente o mais caro e mais desenvolvido, é também aquele que mais lesões provoca, é natural que se encontre alguma disputa em relação a isto.

Recomendo a todos os amantes de corrida, mas também de viagens e culturas diferentes, ou simplesmente quem gosta duma boa história, bem contada.

Boas Leituras!

Livros que Recomendo – A Casa dos Espíritos

casa dos espiritos

Demorei muito tempo a recomendar A Casa dos Espíritos porque tenho uma relação de amor/ódio com Isabel Allende. Os primeiros livros que li dela algures nos anos 90 eram absolutamente fantásticos, mas os mais recentes parecem quase literatura de cordel. Mas este livro vale bastante a pena ler.

Esteban Trueba é o patriarca desta família que vamos acompanhar ao longo de 3 gerações, juntamente com a sua mulher Clara, a filha Alba e a neta Alba. Três mulheres muito diferentes e especiais, e juntamente com a história desta família, as suas dificuldades e mudanças, vamos ver também a história dum Chile em mudança e convulsão, nem sempre muito pacífico.

É um livro grande, com cerca de 400 páginas, mas que nos deixa colados à história, que tem aquele toque tão característico dos autores sul americanos desta altura, uma espécie de realismo mágico que nos mostra o mundo como é, mas com todas as correntes profundas que o levam a ser assim. Uma delícia!

Em 1993 fez-se um filme deste livro, com excelentes actores e parcialmente filmado em Portugal (Lisboa e Alentejo), no entanto não foi do agrado da crítica, e confesso que também o achei fraquinho.

Recomendo a todos os que gostam de literatura sul-americana, desta vez com um toque feminino. Com bons personagens e uma história rica e complexa.

Boas Leituras!