Os Mortos Ainda Dançam

dead can dance
Foto de Rita Carmo, retirada daqui

Em Setembro passado, sensivelmente uma semana antes de saber que estava grávida, os Dead Can Dance anunciaram duas datas para concerto em Lisboa. Sendo o que mais se aproxima do conceito de minha banda favorita, que ao contrário de muitas, não tem perdido qualidade com o passar dos anos. E são muitos, já que a banda formou-se em 1981, tendo começado por ser mais ou menos gótica (editada pela mítica 4AD) mas enveredando mais tarde pelos caminhos da World Music sofisticada.

Comecei a ouvi-los no início dos anos 90, quando uma das minhas alunas (eu dei explicações de matemática e afins durante 16 anos) me ofereceu um CD de Mariah Carey, e eu, depois de agradecer e dizer que gostava muito, fui imediatamente trocar na saudosa Valentim de Carvalho do Fonte Nova. Quando lá cheguei resolvi arriscar no The Serpent’s Egg, porque gostei muito da capa e já me tinham falado bem da banda. E assim começou um amor sincero por músicas que me fazem levantar voo e partir por muitos mundos internos.

E na sexta feira, dia 24, graças a umas queridas amigas que nos ficaram com o jaquinzinho, lá conseguimos ir ao tão esperado concerto.

O que para mim é incrível é a qualidade da voz quer da Lisa quer do Brendan, considerando que já não são meninos novos. As músicas continuam excelentes, tocaram as minhas duas favoritas, Cantara e Host of Seraphim, e eu senti-me levantar voo durante todo o concerto. O ambiente na Aula Magna estava mágico, como se um grande grupo de amigos estivesse a ouvir música. Um privilégio!

Nota também para o concerto de abertura, David Kuckhermann, que tocava uma espécie de discos voadores (handpan), foi acarinhado por todos e preparou lindamente o terreno para o que se passou a seguir.

Boas leituras e boas músicas!

Ainda Tenho um Sonho ou Dois

pop dellarte

Quase tanto como de livros, o Peixinho gosta de música. Enquanto as outras meninas iam para casa depois da escola e viam a Candy Candy, eu ficava deslumbrada a ver o Top of the Pops que dava na RTP na minha infância, e a ver um homem dançar com um ramo de rosas no bolso de trás das calças (Morrisey) ou um homem de lábios pintados (Robert Smith) e perguntava à minha mãe porque é que eles faziam aquilo.

O fascínio pela música diferente ficou, e sempre me acompanhou em todas as fases da vida, passando por (quase) todos os estilos musicais.

Com as bandas portuguesas passou-se o mesmo e eu sempre fiquei fascinada por coisas diferentes e fora dos circuitos comuns da rádio. O que me leva ao que vos venho falar hoje. Deu a semana passada na RTP2 um documentário sobre uma das bandas portuguesas mais experimentais e incatalogáveis, os Pop Dell’Arte. O documentário foi realizado pelo Nuno Duarte, que é normalmente conhecido por Jel, e está muito bem feito.

É documental sem ser chato, mostra as realidades sem ser melodramático, e tem testemunhos em primeira mão dos (muitos) artistas que passaram pela banda. Confesso que um ou dois me surpreenderam, não fazia ideia que tinham tocado com eles (por exemplo JP Simões).

Aconselho a todos os que são fãs, os que querem saber mais sobre música portuguesa e sobre a nossa história cultural. E para que não fiquem a lamentar ter perdido, deixo em baixo os links para o documentário, que está disponível no RTP Play. Verdadeiro serviço público da estação.

Boas Leituras e Boas Cantorias

Documentário aqui

Música que dá título ao filme e ao post aqui

Livros e Música no Fim-de-Semana

Lisb-On 2

Este fim-de-semana que passou eu tinha muitas tentações à porta. Era a já famosa Festa do Livro de Belém, à qual fui pela primeira vez o ano passado, diverti-me muito e acabei por não resistir a comprar um livro do Gonçalo Cadilhe que terminei de ler estas férias.

Mas como sabem o Peixinho está determinado em não comprar livros este ano, por isso tinha de encontrar alternativas. Entretanto era também o fim-de-semana do meu festival de música favorito, o Lisb-on, eu já tinha comprado bilhetes para Domingo há meses e estava animadíssima.

Trocar música por livros, parece-me bem, uma tarde bem passada é sempre uma tarde bem passada. Claro que o que eu não contava é que depois de tanto tempo à espera em ansiedade, na semana antes do concerto apanhei uma bicheza qualquer desconhecida e estive com uma febre baixa mas persistente durante mais de uma semana, e estava bastante debilitada.

Por isso o que se esperava uma festa de dançar sem parar, na realidade tornou-se numa dança de cadeiras. Sentadinha num banco de jardim próxima do Hilside Stage, depois sentadinha na colina a ouvir os dois palcos ao mesmo tempo, depois sentadinha a jantar e a ouvir o palco principal. Depois finalmente um pezinho de dança no palca principal durante Larry Heard, que fez com que quase caísse dentro do wc portátil quando fui fazer um xixizinho a seguir.

Mas valeu a pena, como sempre. É o meu festival favorito porque a localização é muito bonita, central, um jardim de música mesmo. Para o ano espero estar mais arrebitada, e quem sabe conseguir usufruir do jardim da música e da escrita.

Boas leituras!

Lisb-On

Um Dia no Nos Alive, ou Está Tudo Bem

pearl Jam
Foto de Rita Carmo, no Blitz

A primeira vez que eu fui a um festival de Verão ainda eles não tinham esse nome, e foi ao Super Bock Super Rock de 1996. Na realidade a edição estava a ter tão pouco sucesso que eu ouvi na rádio que iam abrir as portas ao público e isso fez-me rumar a Alcântara fardada a rigor de preto e botas da tropa para ver algumas das minhas bandas favoritas da altura, Moonspell , Nefilim e Paradise Lost. Foi um dia memorável, mesmo sendo eu na altura uma papa concertos.

Em 2000 fui experimentar o Sudoeste, depois de já ter falhado edições com Portishead e Massive Attack, mas foi festival que não me encheu as medidas. Os desconfortos não suplantaram os concertos e a única coisa que ganhei nessa edição foi ter conhecido Placebo.

Em 2004 voltei ao Super Bock, naquele mítico dia com Pixies e Massive Attack, que estava a rebentar pelas costuras, tudo esgotou, não se conseguia andar e jurei pela minha saúde mental que não me voltava a meter nessas coisas. Fiz um ano de paragem e voltei em 2006 para ver Tool, Placebo e Alice in Chains. Naquele tempo chegava-se ao recinto pouco antes dos concertos e comprava-se o bilhete lá à porta, não tinha de ser com meses de antecedência com medo de esgotar.

Em 2007 despedi-me dos grandes festivais, novamente no Super Bock, a ver Underworld, Scissor Sisters e conheci aí Interpol, que foi um amor que não mais me deixou. Depois continuei obviamente a ir a concertos, é um hábito que não me larga, mas prefiro largamente os em nome próprio, sítios mais sossegados em vez destes fast foods de bandas.

No entanto este ano decidimos ir ao Alive porque nenhum de nós tinha visto ainda Pearl Jam ao vivo e não queríamos que eles acabassem sem passar por essa experiência. Acho que dos grandes da minha juventude só me faltava mesmo ouvir Pearl Jam (bom, e Type O Negative, mas esses infelizmente nunca terei oportunidade).

Fomos preparadíssimos. Felizmente estava mau tempo, o que significou que não apanhamos nenhuma estopada de calor, levámos uma sandes de casa para não ter de estar nas filas para comer mais do que o necessário, roupa e calçado confortável, e espírito aventureiro. Chegámos cedo para evitar a confusão, e fomos de Uber porque já não temos paciência para ir de transporte e não fizemos mal a ninguém para passar horas a tentar estacionar e depois deixar o carro quase ao pé de casa.

O espaço está bem organizado, cheio de ideias de sustentabilidade giras. Os copos de cerveja são de material vegetal biodegradavel, igual ao plástico, as palhinhas de papel, há imensos ecopontos. Há muita coisa para ver e para fazer, mas 55 mil pessoas são 55 mil pessoas e o concerto de Pearl Jam foi… aconchegante. Para quem tem pouco mais que 1.50m foi mesmo claustrofóbico. Nas primeiras músicas não vi mais do que as costas do gigante que estava postado à minha frente, até conseguir uma aberta para lhe passar à frente e ver finalmente o ecrã. Afinal até circulava um ventinho agradável.

Para mim os melhores concertos da noite foram sem dúvida os Pearl Jam, que foram brilhantes, mas também os Franz Ferdinand que me fizeram saltar do principio ao fim. The Last Internationale, a banda que abriu o palco principal também foi uma agradável surpresa. Jack White era promissor, mas em algum momento nós teríamos que abraçar a árdua tarefa de enfrentar a fila para o wc e comer qualquer coisa, e foi essa a altura escolhida. Foi complicado, e fez com que bebesse muito menos água e cerveja do que me apetecia só para não ter de lá voltar. Mas ainda consegui voltar a tempo de ver a última música.

Pearl Jam tocaram não só as músicas esperadas e ansiadas, como algumas versões bonitas, do Imagine por exemplo. Eddie Vedder tem o dom da comunicação, fala imenso com o público e dá-se ao trabalho de ter uns textos em português para se sentir mais próximo dos seus fãs. Aquele está tudo bem do título vem do refrão duma das músicas, entoado por todos em bom português, um dos momentos bonitos do concerto. No fim ainda chamaram Jack White para cantarem a música do Neil Young Rockin’ in the Free World em conjunto, numa apoteose final.

Eu estava oficialmente morta, mas como ainda ninguém me tinha dito, decidimos esperar por MGMT. Gosto da Pop electrónica desta banda, as quatro primeiras músicas foram logo muito boas, começando pela minha panca recente My Little Dark Age, sem esquecer Time to Pretend.

Mas estava na hora de rumar ao Uber antes que os últimos convivas começassem a sair e fosse demasiado tarde. Não sei se voltaremos a estas aventuras, porque acho que prefiro concertos em nome individual e bandas mais do momento do que festivais de revivalismo, mas certamente não me arrependo da experiência. Em baixo para quem não quis ler tudo, um resumo dos concertos, com os principais momentos.

Resumo dos concertos:

The Last Internationale: a tipa tem uma grande voz e ele sabe dizer Força, caralho!

Alice in Chains: relembrem-me lá porque é que gostei tanto disto? As letras já desapareceram da minha cabeça, e as músicas pareceram-me todas iguais.

Franz Ferdinand: Ainda se dança tão bem ao som destes tipos, a idade não passou por eles. Por mim mais ou menos, mas ainda andei aos saltos a cantar This fire is out of control, I’m gonna burn this city, burn this city. Grande concerto!

Jack White: Pão com chouriço não é o que eu escolheria, mas era o que tinha menos fila e a paciência para filas esgotou com a da casa-de-banho. Seven Nations Army é uma grande malha.

Pearl Jam: Uns senhores, um grande concerto, mas como diria a minha mãe, não vai mais vinho para essa mesa. A falta de sobriedade de Eddie Vedder só trouxe mais animação ao concerto, e pessoas com mais de 1,80m deviam ser obrigadas a ficar nas filas de trás.

MGMT: Essas 4 músicas foram óptimas, mas se não for embora agora nunca mais apanho um Uber para casa. Obrigada por terem começado logo com o Little Dark Age, assim vou sem peso na consciência.

franz ferdinand
Foto de Rita Carmo aqui

Zé Pedro

Ze Pedro

O Peixinho tinha livros para recomendar hoje, como na semana passada, mas depois da notícia de ontem, do falecimento do Zé Pedro dos Xutos, não podia deixar de vir aqui deixar a minha homenagem a um homem que teve um contributo tão grande na música portuguesa, e nas adolescências de toda uma geração.

No meu caso particular, ele era o dono do Johnny Guitar, o melhor bar da noite lisboeta dos 90’s, que me proporcionou das melhores noites de borga da minha vida, bem como alguns dos melhores concertos que vi, nomeadamente os primeiros concertos de Moonspell, onde eu estava tão perto do “palco” que o manto vermelho que o Fernando Ribeiro usava durante o Vampiria me envolvia como num abraço.

Partilho aqui uma entrevista que ele deu a José Luis Peixoto para a Visão, de onde tirei a foto acima e que de algum modo resume aquilo que eu gostaria de dizer. Até sempre.

Suzi Quatro

Suzi Quatro

Eu gosto de música desde que me lembro de ser gente, e os grandes “culpados” disso, como em muitas outras coisas, são os meus pais. Em minha casa havia muita música, muita leitura, muita interacção com as coisas boas da vida.

Hoje no trabalho alguém disse que estava a ouvir Suzi Quatro, e isso transportou-me imediatamente para memórias felizes de infância, quando punha este albúm vezes infinitas a tocar no gira-discos, milénios antes de se inventar o botão de repeat.

Ainda hoje acho que é um grande albúm de rock, e que esta senhora fez muito pela imagem feminina na música. Hoje vou andar a ouvir isto pelo meu youtube. Vejam em baixo algumas das minhas músicas favoritas.

Tudo a dançar!

48 Crash

Primitive Love

Glycerine Queen

 

Sunsets no CCB

Sunset CCB

Começou este fim-de-semana no CCB uma das propostas de animação de Verão que nós mais gostamos cá em casa. Os concertos de fim de tarde no Jardim das Oliveiras, sentados na relva, a ver o pôr-do-sol, enquanto ouvimos um jazz ou uma música do mundo a embalar-nos para o começo da noite.

O ano passado acabámos por ir duas vezes, e adorámos as duas. Um ambiente tranquilo e intimista, proximidade com os artistas, nada de enchentes, passam-se uns momentos relaxados que nos descontraem da loucura da semana.

Podem ver a programação aqui, há muita coisa boa por onde escolher.

20 anos de Placebo

Placebo

 

A primeira vez que ouvi Placebo foi no festival Sudoeste em 2000 ainda eles eram suficientemente obscuros para tocarem no primeiro dia antes do sol se pôr, e eu não fazia ideia de quem eles eram.

A viagem até ao festival foi atribulada por vários motivos, incluiu vários kms finais a pé por teimosias várias, e eu cheguei ao recinto cansada e fula da vida. Assim que cheguei deitei-me no chão a pensar na vida e como me apanhava em situações daquelas, e comecei a achar que a banda que estava a tocar era bastante boa. E lembro-me de pensar que, se naquele estado de espírito eu conseguia perceber isso, eles deviam ser mesmo bons. O festival depois compôs-se, e acabei por me divertir muito, e com Placebo foi o início duma história de amor que durou os três primeiros álbuns e muitos outros concertos.

Esta terça feira eles voltaram ao Coliseu para festejar os 20 anos e eu não sabia bem o que esperar porque não conhecia os últimos álbuns e há muito não os via ao vivo. Mas no fundo isto era também uma celebração à minha juventude passada, por isso não quis deixar de participar, e há muitos meses atrás comprei os​ bilhetes. Claro que a juventude era mesmo passado, e neste momento estou com uma grande crise de coluna que ameaçava tornar a experiência num festival de dor e desconforto, e passei o fim de semana todo semi-arrependida.

Mas resolvi o assunto ficando sentada nas cadeirinhas e só me levantando nas músicas que valiam mesmo a pena. E esse foi o problema do concerto, mas vamos por partes.
Quando entrou a banda de apoio eu pensei que já era a sério, e depois percebi a confusão. O guitarrista, Stefan Osdal, faz parte, mas nem isso foi o suficiente para encantar. Uma mix de batida com instrumentos de cordas e vozes ocasionais que não convenceu, nem deu grande vontade de dançar. Passemos aos próximos.

Os próximos só demoraram o costume destas ocasiões, qual atraso institucional de noiva, e cedo encheram o palco para começar a festa de aniversário. Aparentemente haviam 3 ecrãs gigantes, mas do lugar dos doentes não consegui ver nenhum, a não ser no ecrã do telemóvel das dezenas de pessoas à minha volta a filmar/fotografar. Aliás, já ninguém simplesmente vê um concerto. Toda a gente tem de validar que lá esteve. Alguns, como eu, tiram meia dúzia de fotos/vídeos. Outros filmam quase tudo. Outros ainda vão documentando tudo nas redes sociais em tempo real. #vidamoderna

Mas a música propriamente dita só lá para meio do concerto é que me começou a animar, o primeiro set de canções pareceu-me muito chocho. Claro que o facto de estar em pior forma física e o Coliseu estar criminosamente quente (a sério, o incentivo à venda de cerveja não pode justificar tudo!) contribuíram, mas na realidade é como tentar reatar uma relação em que ambas as partes sabem que acabou. Foi bom enquanto durou, mas seguimos caminhos diferentes (e àquela temperatura o meu dificilmente voltará a passar pelo Coliseu).

A última parte foi mais arrebitada, com êxitos mais dançáveis, e deu para abanar o que a coluna deixou. No final saímos com um até sempre, pela colina acima, a caminho de novas sonoridades.

Para fotos como deve ser, da fotógrafa de sempre Rita Carmo, vejam a reportagem no Blitz aqui.

Dias da Música 2017

Dias da Musica 2017

No próximo dia 29 começa mais uma edição dos Dias da Música em Belém no CCB, evento a que eu gosto muito de assistir, este ano sob o tema “As Letras da Música”, tema bastante literário é que tem muito a ver com o Peixinho.

Olhando para o programa consigo ver já imensos concertos aos quais gostava de assistir, até porque o ambiente no CCB durante estes dias é muito descontraído e contagiante, mas ainda não sei se vou conseguir ir este ano, que tem sido um bocadinho conturbado.

No entanto deixo-vos algumas ideias de coisas que se eu pudesse não perderia com certeza:

Sexta, 28 de Abril às 21:00 – JP Simões: Buarque, Bloom e Outras Canções (A2)

Sábado, 29 de Abril às 14:00 – Orquestra Sinfónica Ensemble: Sedução e Amores Proibidos (B2)

Domingo, 30 de Abril às 13:00 – DSCH – Schostakovich Ensemble: O Carnaval dos Animais (C10)

Espero que gostem.

Mitos do Norte

Norse Mythology

American Gods é uma série que está mesmo quase a estrear (dizem que dia 30 de Abril num canal de cabo americano), e só isso já seria razão suficiente para pegar num livro do Neil Gaiman (outro, para além do Sandman que tenho andado a ler por aqui). Claro que a escolha óbvia seria o homónimo, mas não consegui resistir a este Norse Mythology, acabadinho de sair, que ainda por cima vem complementar lindamente a outra série que ando a acompanhar, Vikings.

Foi por essa razão que os nomes dos deuses e deusas estavam frescos na minha memória, e isso ajudou muito a relacionar as histórias e os mitos. A mitologia nórdica, apesar de grandemente perdida no tempo, é muito rica em personagens e histórias, e talvez seja essa a razão que me levou a achar este um dos livros mais fracos do autor. Normalmente, ele costuma deslumbrar-nos com a riqueza das suas personagens, o envolvimento das suas narrativas, ao ponto de nos sentirmos parte do mundo fantástico que ele criou para nós em cada livro. Neste o começo foi um pouco confuso, como se o autor tivesse de condensar muita informação logo de início para conseguirmos abarcar o mundo todo, mas à medida que íamos progredindo nos contos, o génio contador de histórias de Neil Gaiman ia vindo progressivamente ao de cima. No entanto, nunca me consegui sentir verdadeiramente envolvida no mundo e nas descrições, sempre me senti como se fossem apenas contos avulsos, mal ataviados uns aos outros, sem continuidade, sem aquela sensação de saga que eu estava à espera.

No final de tudo, o meu conto preferido foi o Ragnarok, ou a descrição do final dos tempos e o seu renascimento, que é suposto encher-nos de temos e esperança ao mesmo tempo, e que deixa no ar a questão se já terá ou não sucedido com o final da era desses personagens distantes.

Ler este livro despertou-me a vontade de voltar a ouvir os velhinhos Amorphis, uma banda finlandesa cujos primeiros álbuns eram inspirados na Kalevala, um poema épico finlandês fundamental no desenvolvimento da identidade deste povo, pleno de histórias, mitologia e sagas. Um cheirinho aqui.

E pronto, a caminho do próximo livro, que espero me entusiasme mais.

Goodreads Review