Estive durante o confinamento com muita falta de vontade de ler, mas isso não quer dizer que tenha andado afastada dos livros. Na realidade descobri o Booktube, que nada mais é que o conjunto de pessoas que fazem vídeos no Youtube com conteúdos relacionados com livros. Há muitos, para todos os géneros e feitios, mas no meio de muita coisa consegui encontrar alguns interessantes e com quem me identifico em termos de gostos literários. E foi aí que descobri este conceito de mood reader, que me descreve na realidade.
Mas afinal o que é um mood reader?
Um mood reader é uma pessoa que lê apenas aquilo que lhe apetece no momento, aquilo que o seu cérebro lhe indica. Mas não somos todos assim? Nem por isso. Há pessoas que têm listas de livros para ler, consoante os que adquiriram recentemente, ou leituras conjuntas com amigos, ou clubes de leitura. Ser um mood reader significa que nunca se faz ideia do que se vai ler a seguir, depende do apetite quando acabamos o livro em que estamos. Obviamente que tenho uma ideia geral de coisas que quero ler. No início do ano costumo fazer uma lista de objectivos que quero atingir, mas tenho que admitir que raramente me guio por ela ao longo do ano, tirando coisas muito específicas, como ler os livros do Poirot por ordem de publicação, por exemplo. Às vezes há novidades literárias que gostava de ler para comentar aqui no blog, compro o livro, mas pode passar meses no Kindle sem que me decida a pegar-lhe.
Como tudo na vida, tem vantagens e desvantagens e funciona de maneira diferente para todos. Comecemos pelas vantagens:
– Ler é um prazer e não uma obrigação. Como lemos sempre apenas aquilo que nos apetece, nunca parece mais um frete que temos que fazer, ou mais uma tarefa que temos que cumprir. É um prazer livre, entretenimento puro.
– Em geral, os mood readers lêm géneros muito variados. Posso ler 2 ou 3 Poirots de seguida e depois perceber que afinal me apetece qualquer coisa radicalmente diferente e passar para um livro de viagens, a seguir poesia ou fantasia, e seguir por aí ao sabor do momento. Não é comum termos um género favorito, vamos passeando ao sabor do momento.
– É mais raro ficarmos encalhados sem vontade de ler. Em qualquer ponto do tempo existe sempre um tipo de livro que nos apetece ler, nem que seja simplesmente uma banda desenhada para descontrair.
Mas não são só maravilhas, e também têm algumas desvantagens.
– Encontrar o livro que nos apetece pode demorar um bocado. Por vezes acabamos um livro já com a mente no próximo, ao ponto de ser quase penoso terminar o que estamos a ler porque só pensamos como vai ser a próxima leitura. Mas a maior parte das vezes não tenho ideia do que me apetece a seguir, e posso demorar um dia a “folhear” livros no meu kindle até perceber exactamente o que me vai apetecer.
– Somos incapazes de pertencer a um clube de leitura, ou um desafio de leitura como muitos que se vêem na net. A ideia de ter leituras pré-definidas até faz comichão. O facto de sabermos que temos que ler um livro a seguir, é o suficiente para nunca mais na vida o querermos ler. Exageros à parte, estava aqui a tentar lembrar-me como é que tinha feito com as leituras obrigatórias do secundário. E na realidade a maioria delas foram feitas no verão anterior, enquanto ainda era minha escolha, o que mostra que isto já vem de longe.
– Ficamos com muitos livros a meio. Eu pelo menos fico. Começo e passado um bocado o livro não corresponde às minhas expectativas ou a minha disposição mudou. Agora que sou mais relaxada com isso (antes era-me penoso interromper um livro, agora que os anos de leitura pela frente se começam a tornar mais curtos já não me custa nada) tendo a deixar o livro assim que me começa a custar lê-lo, e normalmente retomo uns dias/semanas mais tarde. Neste momento tenho 9 livros na minha lista de leituras correntes do Goodreads. Alguns se calhar não volto a pegar, mas outros estão apenas em pausa.
No meu caso acho que estas características se foram acentuando com o passar do tempo. Há medida que as obrigações se vão acumulando (laborais, parentais, familiares), custa muito que uma coisa que é suposto ser um hobby que nos dá prazer se assemelhe a essas obrigações. Tenho que me sentir completamente livre. Por isso também nunca procurei parcerias com editoras. Tenho uma com o Netgalley, e já acumulo alguns livros deles por terminar no meu kindle.
E desse lado? São mais mood readers, preferem guiar-se por uma lista pré-definida, ou estão saudavelmente no meio?
Boas Leituras!