Caminhar com Sentido

Ken Ilgunas_Trespassing Across America

Thanks to Netgalley and Blue Rider Press for an ARC of this book in exchange for an honest review.

Desde que tenho o Kindle que desenvolvi uma preferência por não ficção, especialmente livros de viagens ou ciência. Este livro encerra em si um misto das duas coisas. Por um lado descreve uma jornada dum norte-americano pelo caminho destinado a um novo oleoduto, megalómano como tudo naquele continente. Por outro lado vai-nos levando pelas polémicas do aquecimento global naquele que deve ser o país ocidental que mais nega a sua existência.

É uma jornada ao mais profundo da América da actualidade, ao conflicto de mentalidades naquele país tão bipolar. E é ao mesmo tempo enternecedor. Porque as pessoas são genuinas e multidimensionais e o autor soube retratar bem isso. Ao mesmo tempo, está bem documentado de factos, estudos, correntes de pensamento que nos vai apresentando sem nunca ser entediante.

Escusado será dizer que a minha visão está muito próxima da do autor. É necessário tomar consciência, acção, perceber que gastamos demasiada energia, antes que estejamos no ponto de não retorno (se é que já não estamos). Por vezes é dificil não entrar em desespero, principalmente quando vemos noticias como as da Amazónia, que nunca chegam cá porque estamos demasiado entretidos nas nossas quintas. Mas podem ler-se aquiaqui ou aqui.

Por fim é sempre curioso ver como as coisas são tão culturalmente diferentes noutros sitios. A mim parece-me tão estranho não poder caminhar livremente pelo meu próprio país, observar as belezas naturais. Poucos são os sitios onde não nos é permitido caminhar, onde a figura do “trespassing” está presente. E creio que se passa o mesmo a nivel europeu (o autor aliás menciona isso mesmo). No entanto, na América passa-se o contrário. Tudo está vedado, tudo é propriedade privada onde não se pode caminhar livremente, a ameaça de se ser atingido a tiro é bem real.

Aconselho a todos os que gostam de ler sobre viagens, ciência, o mundo de hoje, questões ambientais. Mas com cuidado, porque dá uma vontade irresistivel de largar a pé até ao fim do mundo.

“When I think about our culture’s addition to fossil fuel, its indifference to the natural world, and the sheer impossibility of any major change happening soon, I can’t help but despair. Almost as depressing as an inevitable collapse is how powerless I feel as an individual.”

Goodreads Review

To Sleep, perchance to Dream

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Há mais anos do que aqueles que eu gosto de me lembrar, uma colega de faculdade introduzia-me no fabuloso mundo dos Joy Division e dos livros do Sandman. Foi uma emotion overload, e o meu coração povoado de hormonas, angústia existencial e excesso de horas de estudo conseguiu apenas devotar-se militantemente à música gótica, destino que carrego até hoje de forma mais ou menos evoluida.

O Sandman acabei por ler na Fnac, quase todos os volumes, mas de passagem e sempre com a promessa de voltar. Este ano é o ano do sonho novamente. Por intermédio de outra amiga tenho-me reencontrado com o regente dos sonhos, devagarinho, e temos redescoberto a nossa relação.

Já li os três primeiros volumes, e espero acabar 2016 com os 10 volumes terminados. A delicadeza dos desenhos acentua a crueza das histórias, já que o Neil Gaiman nunca tem pudor em espicaçar a nossa mente e testar os nossos limites.

Verdadeiramente, banda desenhada não é uma coisa de crianças. Pelo menos a que é feita a sério, com mensagem e a expandir os limites da criatividade e realidade.

Quem quiser saber um resumo pode encontrá-lo aqui

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A Livraria do Gato à Porta

Já muito se falou na comunicação social sobre a Livraria Espaço Ulmeiro, em Benfica, que se encontra em risco de fechar (aqui e aqui, por exemplo). Aberta desde 1969, o dono foi também o fundador da Editora Ulmeiro e Assirio e Alvim, entre outras.

Sendo de Benfica, já conhecia há muito este espaço, apesar de não saber da sua importância histórica. Para mim, esteve sempre ali. Parece a casa daqueles senhores, onde eles acumularam tesouros durante anos e pelos quais nos deixam navegar. Há uns anos a esta parte também com o Salvador, um gato amarelo enorme, que se divertiu a deitar ao chão uma pilha de livros quando lá estive a semana passada.

A minha descoberta dos livros em segunda mão foi tardia, começou ao mesmo tempo que me ofereceram o Kindle, em 2012. Fiz para mim a decisao que iria sempre que possivel comprar livros usados. Para bem do planeta, e com uma certa objecção aos preços exorbitantes que as nossas livrarias praticam.

Assim, espaços como a Ulmeiro são cada vez mais o sitio onde me abasteço de tudo aquilo demasiado obscuro ou especifico para encontrar para Kindle. Como toda a literatura portuguesa que me interessa.

Se não quiserem visitar este espaço (fazem mal), podem sempre seguir os leilões online aqui.

Eu já lá fiz umas comprinhas a semana passada. Esta semana, em casa doente, só mesmo seguindo pelo online.

Leio Por Aqui – Mata de Benfica

Leio por Aqui_Fofo

Hoje que estava um lindissimo dia de sol resolvemos aproveitar para ler ao ar livre. Felizmente não faltam opções em Lisboa para se estar ao sol, mas nem sempre é fácil encontrar a pacatez necessária a uma boa leitura. Não que eu necessite de silêncio absoluto, mas às vezes é dificil encontrar um nível adequado de paz que me permita concentrar e embrenhar na história que tenho em mãos.

Hoje fomos os dois depois de almoço até ao Parque Silva Porto, mais conhecido no bairro como Mata de Benfica. o Fofó tem lá uma esplanada sossegada e gerida por duas senhoras simpáticas e que devem ter achado a nossa dança de cadeiras em busca do sol um bocadinho bizarra.

É um daqueles segredos bem guardados, por um lado porque implica uma subida íngreme até lá, por outro porque tem escapado airosamente à maldição da Time Out. Apareçam.

Terceiro Apocalipse em Lisboa

Dog Mendonca

Esta saga de BD do Filipe Melo é uma pérola para todos os amantes do género. Não só é visualmente muito bonita, com um traço delicado e envolvente, como tem uma luz quente que nos lembra muito o ambiente duma certa Lisboa decadente mas sempre vibrante, a cidade do Bairro Alto, de Alfama, e até de Sintra. A ponte 25 de Abril também costuma fazer sempre uma cameo appearance, porque é tão cinematográfica.

Este é já o terceiro volume da série e eu creio que o tinha comprado há mais de um ano, mas uma certa nostalgia antecipada por ser o último duma série que não vai continuar tinham-me impedido de o ler até agora. Estava a custar-me despedir-me destes personagens, especialmente o Pazuul, um demónio milenar que habita o corpo duma menina de 12 anos. O livro não desiludiu, era mais intimista e põe realmente um ponto final na história. Para quem, como eu, está quase a fazer 41 anos, foi aconchegante ver o carinho com que se lida com envelhecer, o passar do tempo.

pazuul

Aconselhado a todos os que acham que banda desenhada é intemporal, os Lisbon Lovers e todos os que gostam duma boa história.

Goodreads Review

Inquietação

A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes

São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Ensinas-me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas

Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda

José Mário Branco

Matthew Small – Pensar na Pobreza

Down and Out Today

Thank you to NetGalley.com and to Legend Times Group for the ARC of this novel in exchange for my honest review.

Mais uma vez tive a oportunidade de ler um livro disponibilizado pela NetGalley em troca da minha review, e mais uma vez escolhi um livro que não é ficção. Neste livro o autor propõem-se a fazer uma reflexão sobre a pobreza. o que significa e o que representa nos dias de hoje, e para isso visitou Bath no Uk, e algumas cidades na India e no Nepal.

Esta é uma visão profundamente pessoal e não um estudo cientifico ou mesmo jornalistico. Apesar de ter alguns dados devidamente documentados, isso não é o mais importante que se encontra neste livro. O que nos toca são as histórias na primeira pessoa, os encontros casuais, o olhar que o autor repousa naquilo que o rodeia, na maior parte dos casos sem julgamentos e preconceitos.

Foi um livro que veio muito ao encontro das minhas próprias reflexões e questões de vida. O que significa realmente ser pobre? O que é a pobreza extrema? É a pobreza por si só definidora de felicidade ou falta dela?

Na realidade o paradigma da sociedade actual necessita duma profunda mudança, e aquilo que consideramos importante e que valorizamos pode ser aquilo mesmo que nos levará ao ponto do não retorno civilizacional.

Gostei muito, aconselho a todos os que gostam de ler também para pensar.

I wonder what most people, if brought together around a table, would give thanks for. Would they be thankful for the iPhone in their pocket, the television, the car on the drive, the roof over their head, the wage slip at the end of the month, the salary at the end of the year, the job, the security, the warmth of another to sit beside and carve out roast turkey with, sharing stories and being together? Would they be thankful for life? If they are healthy, would they be thankful for this? To have sight, to process movement, physical freedom?

Goodreads Review

 

 

A Angústia do que ler a seguir

Muitas vezes dou por mim sem saber que livro hei-de ler a seguir. Seja porque as novidades não me seduzem, seja porque não há nenhum clássico que me inspire, seja porque simplesmente estou com a chamada “birra de leitor” (termo absolutamente sem conotação científica e cunhado por mim).

Nessas alturas recorro a múltiplos artificios que me permitam retomar a leitura o quanto antes sob pena de ter longas e aborrecidas viagens de autocarro pela frente.

Há algum tempo atrás, por indicação dum amigo que infelizmente já não me lembro quem foi, descobri um site que responde à minha duvida existencial Que devo ler a seguir? da melhor maneira possível. A partir de livros que gostámos, o site elabora uma lista de possibilidades para a nossa próxima leitura. Com um simples registo por email podemos ir acrescentando vários títulos para refinar cada vez mais a busca, ou permitir buscas por géneros especificos.

Sem ser uma Bíblia, permite ter algumas ideias novas e por vezes chegar a alguns autores que ainda não conhecíamos. Fica o conselho.

Link aqui

Leio Por Aqui

Leio Por Aqui_Autocarro

O autocarro, embora não seja o local mais glamouroso do mundo, é efectivamente onde eu leio 80% dos meus livros. Por um lado não enjoo nem me faz diferença aos olhos ler em andamento. Por outro, tenho a “sorte” de ter pelo menos 45 minutos de viagem em cada sentido, o que me permite dar um avanço diário considerável nas minhas histórias.

Ir imersa numa boa história ou numa viagem interessante permite dar outro colorido ao que de outra forma seria uma viagem extremamente monótona e repetitiva. Assim, as minhas idas para o trabalho nunca são iguais.