Nomeados Booker 2022

booker 2022

Saiu na passada terça-feira dia 26 a lista dos nomeados para o prémio Booker deste ano. São 13 e, ao contrário de anos anteriores, há na lista um que já li em pré-venda, graças ao Netgalley. Como habitual, vou mostrar-vos em baixo a lista dos nomeados com algumas consideraçãos minhas baseadas nas sinopses.

The Colony de Audrey Magee – Este foi o livro que vi mais vezes citado nas fontes que leio como um possível candidato, e que parece reunir mais consenso. Passa-se numa ilha irlandesa remota, em 1979, que vai ser visitada por um italiano e um francês que têm visões radicalmente diferentes sobre o que deve ser o destino da ilha. Ao mesmo tempo, os seus habitantes também querem ter uma palavra a dizer. Este livro parece-me interessante, até porque junta a isto a pano de fundo que se vivia na Irlanda nesta altura, fiquei com vontade de ler!

After Sapho de Selby Wynn Schwartz – Este é um livro sobre mulheres que quebraram padrões e que forçaram barreiras nos inícios do século XX. Tem excelentes críticas no Goodreads, mas não parece ser muito ao meu gosto. 

Glory de NoViolet Bulawayo – O que se segue num país quando um líder ditatorial de longa data finalmente é afastado? E se essa nação for no reino animal? Esta é a premissa desta sátira à queda de Mugabe no Zimbabwe em 2017. Parece ser um livro muito interessante, e esta autora já não é nova nestas andanças de ser nomeada para os Booker. 

Small Things Like These de Claire Keegan – Mais um livro passado na Irlanda, em 1985, sobre Bill Furlong, um homem normal com uma vida banal, mas que tem a oportunidade de fazer uma coisa extraordinária. Esta sinopse dá-me imensa vontade de pegar já no livro, e o facto de ser só 118 páginas ajuda muito também. 

Nightcrawling de Leila Mottley – a história de dois irmãos adolescentes que moram em Oklahoma City e que precisam de sobreviver sozinhos num mundo complicado e cheio de dificuldades. O retrato da probreza, da adversidade que podemos encontrar em grandes centros urbanos. Pareceu-me muito interessante e fiquei com imensa vontade de ler, apesar de pressentir que vai ser bastante difícil. Esta foi a autora mais nova de sempre a ser nomeada, com 20 anos. 

Maps of Our Spectacular Bodies de Maddie Mortimer – Este é um título fabuloso para um livro, e só por aí já chama a atenção. Conta-nos a história de Lia, o seu marido e a sua filha adolescente, e o seu percurso após Lia ser diagnosticada com cancro terminal. Se alguém ler, que me diga se é tão bom como parece. Não está na minha lista de livros para ler, porque nesta altura do campeonato tento proteger-me de sofrimento desnecessário.  

Case Study de Graeme Macrae Burnet – Este livro mistura realidade com ficção, já que um dos personagens, o Dr. Collins Braithwaite, existiu mesmo e tem uma história curiosa. Neste livro a nossa personagem principal acha que a irmã cometeu suicídio depois de ser paciente de Braithwaite, e assume uma nova identidade para se tornar também ela paciente e tentar descobrir o que aconteceu com a irmã. A premissa parece-me muito interessante, quase um thriller, e fiquei definitivamente curiosa por ler. Vai para a lista. 

Treacle Walker de Alan Garner – Este livro tem críticas excelentes, mas devo dizer que mesmo após ter lido a sinopse, não sei bem do que se trata. A amizade entre um rapaz e um caminhante, imersa em mitos e lendas rurais, pelo que percebi. Não está na minha lista de prioritários para ler. 

The Trees de Percival Everett – Uma série de assassinatos estranhos no Mississipi são difíceis de ser investigados por pouca colaboração da polícia local, mas quando se começa a perceber as ramificações, percebe-se que estamos perante algo muito estranho. Esta é a premissa inicial dum livro que é muito estranho e muito actual, já que se foca nas tensões raciais na América, que continuam a ser ainda tema corrente. Parece-me uma boa aposta!

Trust de Hernan Diaz – Ficção histórica sobre um casal dos anos 20 do século passado, que enriquece  imensamente sem se saber bem como. Não me pareceu muito o meu género, não me parece que vá ler. 

Booth de Karen Joy Fowler – Mais uma ficção histórica, desta vez sobre a família de John Wilkes Booth, antes e depois dele ter assassinado o presidente Lincoln. Ficção histórica não é muito a minha praia, este livro tem 480 páginas e as críticas no Goodreads não são famosas. Para já não está na minha lista de livros para ler.

Treacle Walker de Alan Garner – Este livro tem críticas excelentes, mas devo dizer que mesmo após ter lido a sinopse, não sei bem do que se trata. A amizade entre um rapaz e um caminhante, imersa em mitos e lendas rurais, pelo que percebi. Não está na minha lista de prioritários para ler. 

Seven Moons of Maali Almeida de Shehan Karinatilaka – Tendo a personagem principal um apelido tão maravilhoso, obviamente que este livro tem que ser lido. Quero também realçar que tem sido delicioso ver vídeos sobre os nomeados de booktubers anglófonos, e ver como tentam pronunciar isto. That being said, o autor é do Sri Lanka e a trama passa-se na sua capital, Colombo. Maali Almeida aparece morto e tem sete luas para conseguir descobrir como isso aconteceu. Parece-me delicioso, e está no topo da minha lista de livros a ler. 

Oh William! de Elizabeth Strout – O único livro desta lista que eu já li, há precisamente 1 ano, cortesia do Netgalley. É com personagens de livros anteriores, nomeadamente Lucy Barton, mas mesmo se não leram não perdem nada, porque a autora explica tudo o que é necessário, que é pouco. Gostei bastante, é  um livro que se lê muito rápido, e Lucy Barton é uma personagem deliciosa com a qual nos identificamos muito. Não deve ser o vencedor, porque há outros nomeados que são mais falados, mas é um livro que vale a pena ler. 

Já leram algum, ou planeiam ler algum? Partilhem comigo se valeu a pena. 

Boas Leituras!

Acabei de Ler – Crime no Vicariato

murder at the vicariage

Keep scrolling if you prefer to read in English.

Terminei a minha “tarefa” de ler todos os Poirots por ordem de publicação o ano passado, mas não consegui ficar longe da Agatha Christie por muito tempo e resolvi experimentar a Miss Marple, sem compromisso de permanência desta vez. Comecei pelo primeiro livro dela, sendo que tecnicamente a sua primeira aparição foi num livro de contos, para os quais eu não tenho paciência em policiais. Sinto que falta tempo para desenvolver a trama de maneira satisfatória.

Mas atirei-me a esta Miss Marple com algumas saudades das peculiaridades da Senhora Agatha Christie, e não fiquei desiludida. Na realidade até fiquei alegremente surpreendida.

Não ia com expectativas muito elevadas para este livro. Sempre gostei muito de Poirot, e a série televisiva só veio reforçar essa ideia, mas a Miss Marple parecia-me chochinha, e nunca consegui interessar-me muito pela série televisiva. Mas em livro o caso muda de figura. Miss Marple nem aparecia assim tanto na história, que era narrada pelo vigário duma pequena aldeia inglesa. Mas o crime foi muito interessante, e acima de tudo, as descrições da vida numa pequena comunidade rural eram deliciosas. Mesmo sendo em Inglaterra, consegui sentir um cheirinho do que experiencei por terras lusas nas pequenas aldeias por onde andei. O retrato social da época está muito bem feito, os estereotipos estão todos lá, e há frases absolutamente deliciosas espalhadas por toda a parte. O facto da velhinha Miss Marple ser retratada como a bisbilhoteira da aldeia é também maravilhoso. Agatha Christie nem sempre era caridosa a descrever as suas personagens principais, e isso esteve bem patente neste livro.

De resto, a história não é surpreendente, é um clássico mistério ao estilo whodunnit, como dizem os nossos amigos britânicos. Há um homicídio, há um leque reduzido de suspeitos que são todos conhecidos e que todos podem ter motivo ou oportunidade para o cometer, e tudo vai sendo lentamente desvendado ao longo do livro. Não sabia quem era o culpado, mas isso nem foi o mais importante. Depois de ter lido tantos livros de Agatha Christie pensei que ela não tivesse nada de novo para me oferecer, mas aí sim estava redondamente enganada. Estava bem escrito, interessante, e deixou-me o gosto por ler os seguintes.

Recomendo vivamente a todos os que gostam de mistérios, policiais, thrillers, como quiserem chamar. Na minha humilde opinião, que só interessa a mim, não se pode ser fã de mistérios sem ter lido a raínha do género.

Rumo ao próximo. Até lá, Boas Leituras!

Goodreads Review

“The young people think the old people are fools — but the old people know the young people are fools.”

Last year I reached the end of my self-imposed task of reading all Poirot novels in publication order, but I could not stay way from Dame Agatha Christie for long. So, I dived into the Miss Marple series, but with no formal commitment this time. I started with her first full novel, and disregarded the first short stories that were published, as I don’t like short mystery books, they feel incomplete to me.

I started this book missing Agatha Christie’s peculiarities and was not disappointed. Quite the opposite, I was pleasantly surprised.

My expectations weren’t high when I started this book. I loved Poirot, both the novels and the TV series and I had the feeling Miss Marple was dull in comparison. I also could not relate to the TV series, did not bond with the actresses chosen for the part. But the book is so much better. Miss Marple is almost a secondary role in the story, which was narrated by the village’s vicar. The crime was interesting and the depictions of life in a small British village were delicious, and it could portray any small village in the world. It was also a very good portrait of its time, with all the expected stereotypes, and it was filled with glorious cheeky phrases. Miss Marple keeps getting portrayed as the town gossip, which spends her time gardening to better be able to see and listen everything that goes on. Brilliant. Agatha Christie was not very charitable in her characters descriptions and that was amazing.

The story itself is not a novelty, it’s a classic whodunnit mystery. There is a murder and a reduced cast of people that could have committed it. Many people had motive and opportunity, but the plot is slowly unveiled throughout the book. I could not guess who did it, but that was not the most important to enjoy this book. For someone that thought that Agatha Christie didn’t have anything more to offer, I was gladly proved wrong. I might even read the next ones.

I recommend it to all that like murder mysteries and thrillers. You cannot be a true fan of this genre without having read at least one Agatha Christie book, in my humble opinion.

On to the next. Until then, Happy Reading!

Acabei de Ler – Uma Questão de Conveniência (Convenience Store Woman)

convenience store woman

Keep scrolling if you prefer to read in English.

Convenience Store Woman foi um livro que vi recomendado várias vezes nos canais de Youtube que sigo e que têm gosto mais parecido com o meu. Como tenho andado numa mood asiática foi a escolha óbvia de leitura para finalizar Junho.

Keiko Furukura é uma mulher de 36 anos que trabalha numa loja de conveniência há 18 anos. Na mesma loja, na mesma localização. Keiko foi uma criança estranha, que não se enquadrou bem na escola e os seus pais sempre tentaram que ela parecesse normal. Aprendeu a disfarçar a sua realidade para conseguir sobreviver na escola, mas foi quando aos 18 anos começou a trabalhar na loja que finalmente recebeu instruções sobre como se comportar, e conseguiu ter um propósito na vida.

Este é um livro muito interessante e diferente. Faz-nos pensar no modo como tratamos a diferença, especialmente aquela que não é aparente. Como vemos e tratamos pessoas que se comportam de maneira diferente, como somos rápidos a atribuir rótulos e, mesmo que inconscientemente, temos gravadas em nós as expectativas da sociedade em que crescemos. Isto é um tema que me é muito querido nos dias de hoje, e no qual tenho reflectido bastante, por isso esta leitura foi um bom complemento.

Rumo ao próximo, até lá Boas Leituras!

Goodreads Review

I have seen Convenience Store Women being recommended on Book tube repeatedly, especially by some people I follow and have similar book tastes to mine. As I have been in an Asian mood, this seemed the perfect choice to end my June readings.

Keiko Furukura is a 36-year-old woman that has been working on the same store, on the same location for the past 18 years. Nothing has remained the same since she started, except herself. Keiko was a strange child that has not adjusted well to school life, and was always deemed a bit weird, and even her parents struggled to make her seem normal. She learned to mask her true thoughts to be able to survive, but it was only at 18, when she joined the convenience store and received a manual on how to behave that she finally felt at home and found a purpose.

This was another different and interesting book (my year has been filled with those, thankfully). It made me think about the way we treat those that are different, especially when said difference is not an obvious one but more behavioural. Also, on how quick we are to label people and how society’s expectations are deeply ingrained in us, even if we don’t realize it. This is something I have been thinking about lately, for personal reasons, so this reading was a good addiction to my research.

I recommend this book to all that like to read different books, which shed some light on some modern concepts and ideas, and different world views. You will not regret it.

On to the next, until then Happy Reading!

Espelho

mario quintana

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (…)
Parece meu velho pai – que já morreu! (…)
Nosso olhar duro interroga:
“O que fizeste de mim?” Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga… Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste…”

Mario Quintana

Acabei de Ler – Sete Dias Em Junho

7 days in June

Keep scrolling if you prefer to read in English.

Depois de mais um livro japonês diferente, resolvi voltar a um romance quentinho que arranjei no Netgalley. Já tinha experiência com esta autora e gostei, por isso resolvi voltar a ela. Tia Williams escreve romances que são mais que romances, e que nos fazem reflectir sobre as dificuldades raciais nos Estados Unidos duma maneira leve e inteligente. Este livro foi mais um caso desses.

Shane e Eva são dois escritores de sucesso, em géneros muito diferentes, mas que partilham uma história em comum na adolescência. Quando se reencontram muitos anos depois em Nova Iorque as recordações vêm ao de cima, e a bagagem emocional que cada um trás será descodificada e analisada. Gostei bastante da história, tudo fazia sentido, e era séria sem ser pesada. Os personagens secundários também eram interessantes e ajudavam a enriquecer a história. Foi uma história bonita para encher os dias de início de Verão, e é perfeito para esta altura, em que queremos leituras mais descomplicadas mas também não queremos ficar burras.

Recomendo, mesmo agora que Junho já chegou ao fim, porque o Verão ainda mal começou.

Boas Leituras!

Goodreads Review

After reading another exotic Japanese book I felt ready to return to the romance material. I found this one on Netgalley, and decided to pick it up, as I already knew the author and had a previous good experience. Tia Williams writes romance novels that are way more than just the fluff. She makes us think about the real struggles of being black in America in a light and clever way, and this book was no exception. 

Shane and Eva are two successful writers in very different genres, that share a convoluted story in their teen years. They find each other again many years later in New York and their story will pick up from there, with many baggage to unpack. The story was great, it all made sense and it was serious without being gloomy. The supporting characters were also very good and made the whole story richer. It was pretty and warm, perfect for the summer days it depicted. A good read for when we wish for something lighter but not dumber. 

Recommend it to all romance lovers, and everyone that enjoys light, summer reads.

Happy Reading!

Acabei de Ler – Antes que o Café Arrefeça

before the coffee gets cold

Keep scrolling if you prefer to read in English.

À semelhança da Biblioteca da Meia Noite, este livro também lida com arrependimentos passados. Neste caso temos um café muito especial algures no Japão onde uma das mesas nos permite viajar até ao passado, se seguirmos algumas regras muito estritas. Isso vai permitir a uma série de personagens reviver algumas situações onde foram protagonistas e dar uma luz nova aos acontecimentos do tempo presente.

Foi um livro muito engraçado e que nos deixa com aquela sensação de coração quentinho. Todos os personagens geram empatia, não há vilões, há apenas momentos de vida que precisamos de resolver para ganhar aquela sensação de resolução. Acho que todos nos conseguimos identificar com isso, e teremos com certeza muitas situações em que gostaríamos de ter dito mais alguma coisa a alguém especial.

É um livro muito fácil de ler, rápido e bonito, que nos deixa aconchegados e prontos para realidades mais duras. Um livro bom para ser lido nas férias enquanto disfrutamos de algum tempo para nós. E sempre com aquele toque exótico que os livros japoneses nos oferecem. Recomendo a todos os que gostam duma (ou várias) boas histórias.

Boas Leituras!

Goodreads Review

Similar to what happened in The Midnight Library, this book also deals with regret. In this case in a very special cafe somewhere in Japan, where there is a special table that allows us to travel in time, if we follow a strict set of rules. This will enable a cast of characters to relive some situations from their past and shed some light in their current events. 

This was a very wholesome book, that makes our heart warm. All the characters create empathy, there are no vilains, just life events that need closure. I believe we can all relate to this, and we all must have some situations where we wish we could have said something more to someone that was very dear to our heart. 

It was a good book, beautiful and easy to read, the perfect summer read, to enjoy by the pool while we spend some time with ourselves. With the added bonus of that perfect Japanese touch. I recommend to anyone who likes a good story (or several). 

Happy Reading!

Busque Amor Novas Artes

Camoes

Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que nalma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
Luís de Camões