Em posts anteriores já falei de “marotices” e nem sempre nos termos mais elogiosos. Mais concretamente, já desanquei as 50 Sombras de Grey. No entanto livros eróticos estão definitivamente na minha lista de preferências, principalmente quando bem escritos e proporcionam sempre bons momentos de leitura. É uma pena que o mercado tenha sido invadido por sucedaneos das 50 Sombras, como na minha infância un senhores em Sete-Rios vendiam sucedâneo de chocolate em embalagens amarelas, mas deixo-vos aqui uma pequena amostra do que de bom se pode encontrar neste tipo de literatura. Muito mais exemplos existirão, partilhem comigo os que gostarem mais.
Venus na India (1889) – Um dos primeiros livros eróticos que li, às escondidas, ainda antes de ter atingido a adolescência e perceber exactamente o que estava a ler. Digamos que a minha mãe nunca foi muito boa a arranjar esconderijos para livros, e li muita coisa que talvez não devesse antes de tempo. Mesmo assim continuo a achar que era um livro bem escrito, com uma visão interessante e onde aprendi muita coisa que não tive de perguntar aos amigos. Relata as aventuras dum Capitão inglês na exótica India da época vitoriana, e contrariamente ao esperado, as mulheres são retratadas com alguma experiência e liberdade sexual.
Opus Pistorum (1936)- Arranjei este livro de Henry Miller numa daquelas colecções do Publico ou similar, já há alguns anos. Li-o duma assentada, num misto de espanto, horror e deleite. É um livro muito bem escrito, talvez demasiado forte nalguns momentos. Apesar de ser ficção, nalgumas descrições não conseguimos deixar de ter a sensação que o autor terá mesmo passado por aquela situação, tal a familiaridade com que a descreve. É um livro muito interessante, aconselho muito a quem tenha estomago forte e coragem. O protagonista é o próprio escritor e o pano de fundo é a Paris boémia dos anos 30, com os seus excessos libidinosos.
Emanuelle (1959)- Este livro é um clássico, embora a maioria das pessoas se recorde melhor do filme. Inicialmente publicado clandestinamente em França, este livro relata o desabrochar sexual duma mulher quando se muda para a Tailândia com o seu marido diplomata, e está escrito dum modo profundamente feminino, o que contribui grandemente para o seu apelo. É um livro intemporal, mas muito do seu sucesso deve-se também à altura da sua publicação, uma vez que coincide com o começo da libertação sexual da geração de 60.
Delta de Vénus (1977) – Anais Nin é outra grande escritora de erotismo, com uma sensibilidade muito feminina. Foi contemporânea de Henry Miller, partilharam muitas aventuras, mas a voz que retratam nos livros é radicalmente diferente. Dois lados da mesma moeda? Este livro é uma colecção de contos eróticos, lindamente escritos.
História de O (1954) – Este livro de Pauline Réage está aqui como uma escolha provocadora e na realidade causa-me um misto de emoções. Enquanto num primeiro olhar possa parecer um elogio à objectificação da mulher, já que descreve o desejo da protagonista de ser tratado como escrava sexual do seu amante, é também um livro que foi escrito por uma mulher e que lutou muito à época para ser editado e distribuido devido ao seu conteúdo considerado obsceno.
A Casa dos Budas Ditosos (1999) – Esta lista não ficaria completa sem um título escrito em português, neste caso do outro lado do Atlântico. João Ubaldo Ribeiro escreveu sobre a luxúria para a colecção Plenos Pecados e alegadamente relata a vida duma quase septuagenária baseado nuns relatos pessoais que lhe chegaram às mãos. Se as histórias são verídicas ou não, pouco importa. Estão muito bem escritas, variam entre o sensual e o totalmente depravado, mas sempre com bom humor e um toque de tropicalidade apetecível. Recomendo muito.