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Falei-vos há pouco tempo duns livros de João Aguiar que comprei no OLX quando andava a pesquisar sobre este autor. Pois aproveitei uns diazinhos de férias confinadas que tive para pôr mãos à obra e começar um deles. Comecei por A Encomendação das Almas por nenhuma razão em especial a não ser o facto que era o mais pequeno e assim o mais transportável. Uma pessoa habitua-se ao pequeno tamanho do Kindle e depois já custa carregar calhamaços.
João Aguiar tem uma forma deliciosa de escrever sobre a nossa história e as nossas tradições. Neste livro a acção passa-se no inicio dos anos 90, altura em que o livro foi escrito, e seguimos duas personagens improváveis, Gonçalo Nuno um homem de 70 anos que esteve à frente dos destinos da sua empresa durante muitos anos, mas a quem os filhos querem agora pôr num lar para o tirar do caminho, e Zé da Pinta, um jovem que não se enquadra no mundo em que vivemos. Estes dois estão afastados do mundo por razões diferentes mas que são na realidade apenas natureza humana e são como uma última barreira de resistência contra a “modernização” do nosso mundo, que não é mais do que a rendição à aldeia global desumanizante e que nos transforma a todos em seres iguais e desinteressantes.
Uma crítica social lúcida e interessante embrulhada numa história cheia de estranhezas e momentos macabros, mas recheada também de muito bom humor. João Aguiar continua a ser, para mim, um dos melhores autores portugueses, capaz de criar histórias que nos agarram a cada página, sempre muito bem escritas.
Recomendo a todos os que têm estômago forte, gostam de histórias bonitas, difíceis e que não são facilmente impressionáveis, já que o fim pode ser difícil de digerir (pun intended).
Boas Leituras!