
Agora que finalmente terminei os quatro livros que constituem o Hyperion Cantos, fiquei com mais questões do que propriamente coisas resolvidas. E as minhas questões são muito simples. Não tenho dúvidas nenhumas que esta foi a melhor série de ficção científica que eu já li, não só pela sua complexidade temática, que abrange desde biologia a filosofia, religião, política, etc, etc, mas também pela mestria com que foi escrita, já que é uma história alucinante. Apesar de se desenrolar ao longo de quatro grandes livros, raras foram as vezes em que achei que o autor estava a ser repetitivo, ou que o que estava a ser relatado era redundante ou supérfluo.
No entanto isso leva-me a duas questões que para mim são relevantes. Porque é que, sendo estes livros tão bons (e não é apenas a minha opinião, o rating no Goodreads é altíssimo para qualquer dos 4 volumes, e todas as pessoas a quem recomendei tiveram a mesma opinião) nunca foram adaptados para série, filme ou qualquer coisa do género. E, questão 2, como é que não há uma tradução para português, nem sequer português do Brasil. Vi nalguns blogs que do outro lado do Atlântico, já em desespero de causa, alguns amantes de sci-fi se juntaram para fazer uma espécie de tradução caseira e tornar o livro mais acessível a quem não domina inglês.
Porque falando dum modo realista, ler sci-fi em inglês é um acto de amor. Por vezes é difícil perceber se estamos perante uma palavra que simplesmente não conhecemos ou se foi inventada pelo autor (e este inventou imensas palavras e conceitos). Felizmente o Kindle, com o seu dicionário incluído ajuda nessa tarefa, mas os primeiros capítulos são sempre tarefa árdua.
Eu tenho uma opinião em relação a isso, claro. Na minha visão, este autor fala de temas muito desconfortáveis, nomeadamente religião, política, e o modo como determinadas instituições são retratadas (e mesmo a espécie humana) não é propriamente numa luz favorável, o que não agrada numa perspectiva hollywoodesca.
Quanto à tradução para português, o problema é sempre o mesmo. Mercado pequeno, inundado de lugares comuns, em que pouco mais se tem para além de best-sellers garantidos, e ficção científica deve vir no fundo da lista de prioridades. No entanto, sei que mesmo assim há mercado, e há lançamentos a acontecer, por isso fica lançado o desafio. Agora, o que eu achei desta conclusão da história?
Para já foi interessante estar a acabar de ler este livro na Semana Santa, sendo que parte do culminar da acção acontece exactamente durante a Semana Santa. Certo que numa versão futurista e distorcida da igreja, mas interessante mesmo assim. Depois foi bom finalmente perceber ligações que demoraram 4 livros a entender (mas o que raio é o Shrike, sendo a principal delas), e saber o final de histórias paralelas sobre as quais apenas tínhamos tidos vislumbres e suposições. Mas o mais impactante é a mensagem que este livro transmite, que é não só ecológica, já que como sempre o Homem tem como instinto dominar toda a Natureza em que toca em vez de trabalhar colaborativamente com ela, mas também a mensagem mais filosófica.
No fundo neste livro fala-se de escolhas. A mensagem transportada por “Aquela que Ensina“, figura central da história, nova salvadora da humanidade, é incrivelmente simples. Escolhe novamente. Apenas isso. Em cada dia, quando recomeçares a viver, escolhe tudo novamente. Se estás feliz com as tuas escolhas (as tuas crenças o teu emprego, o teu companheiro), valida-as novamente e segue sendo feliz. Se alguma dessas coisas não te preenche, não faz sentido, não se enquadra no teu código de valores, escolhe uma coisa que se coadune melhor contigo. Parece simples, não? Juntamos a isso uma empatia universal por todos os seres vivos, e temos uma receita para o sucesso da nossa espécie.
Se fosse assim tão simples… Aconselho a todos os que gostam de ficção cientifica, e livros que façam pensar enquanto nos contam uma boa história.
Goodreads Review