Parece-me difícil acreditar que de toda a literatura africana lusófona eu conheça os óbvios Mia Couto, Pepetela, Ondjake e pouco mais. É uma lacuna no meu conhecimento, que eu espero que seja apenas isso e não reflexo duma falta de aposta das nossas editoras em nomes menos conhecidos, mas nem por isso menos interessantes.
Portanto, assim que o Netgalley me apresentou uma escritora moçambicana, mesmo que traduzida para inglês, eu corri a agarrar a oportunidade. E ainda bem que o fiz, não fiquei desiludida. First Wife conta-nos a história duma mulher que luta para manter a familia unida, mesmo quando descobre que tem de partilhar o marido com quatro outras mulheres. Mas há muitas camadas entrelaçadas na história de Rami e suas rivais. Temos as diferenças culturais entre o norte e o sul de Moçambique, temos o legado colonial que ficou, temos a luta dum país para se afastar de tradições que considera antigas mas que estão enraízadas no dia a dia da população, temos a procura da modernidade.
oMas acima de tudo temos aquilo que nós mulheres europeias sabemos mas esquecemos tantas vezes, o relato ficcionado mas decerto não longe da realidade que é a luta desigual que muitas mulheres ainda passam no resto do mundo, a luta que é serem reconhecidas como dignas, como iguais, como seres de direito. Grande parte deste livro eu passei-o zangada, e muitas vezes tive de o fechar para recuperar o fôlego e recomeçar. Porque é também realidade que nós somos as nossas maiores rivais, porque ainda se educam os meninos de maneira diferente das meninas, porque ainda nos criticamos umas às outras de maneira aguerrida e mesquinha, porque o que vestimos é motivo de crítica, e se somos assertivas não estamos a ser femininas.
E para além de tudo, o livro estava lindamente escrito, envolvente, com algum humor à mistura. Recomendo vivamente, principalmente se o conseguirem encontrar em português. O título é “Niketche, uma história de poligamia“, e eu aconselho vivamente.
Women should be better friends with each other, show more solidarity. We are the majority, we’ve got strength on our side. If we join hands, we can transform the world.
A minha lacuna é tão maior que a tua, no que toca a escritores africanos…Dully noted! 🙂
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Oh Cláudia, só porque faço um esforço há anos para me ir mantendo a par, e na realidade a filha do Pepetela foi minha colega de faculdade. 🙂
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[…] O Netgalley, de que eu já falei num post anterior, tem sido uma ajuda preciosa nesse capítulo pois tem-me dado a conhecer imensos livros e autores aos quais eu não chegaria de outra forma. Só a título de exemplo, o argelino Yasmina Khadra e a moçambicana Paulina Chiziane. […]
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Phnnomeeal breakdown of the topic, you should write for me too!
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Thank you Lakiesha 🙂
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[…] mais um que o Netgalley me ofereceu para comentar. Este polígamo é radicalmente diferente do livro da Paulina Chiziane que eu li aqui há um tempo atrás. Principalmente porque em tudo o que aquele livro respirava […]
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[…] mais um que o Netgalley me ofereceu para comentar. Este polígamo é radicalmente diferente do livro da Paulina Chiziane que eu li aqui há um tempo atrás. Principalmente porque em tudo o que aquele livro respirava […]
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[…] Pauline Chiziane – um olhar muito feminino sobre a poligamia disfarçada, e a riqueza da literatura africana num só livro. Forte e bonito. […]
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[…] que foi para a escritora moçambicana Paulina Chiziane. Apenas li um livro dela até ao momento, Niketche, uma história de poligamia, e gostei mesmo muito. Fiquei com esta escritora no radar para ler mais coisas dela, mas […]
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